Fernando Pessoa

Hora Morta 
                             
                        
Lenta e lenta a hora
Por mim dentro soa
(Alma que se ignora !)
Lenta e lenta e lenta,
Lenata e sonolenta
A lua se escoa...

Tudo tão inútil !
Tão como que doente
Tão divinamente
Fútil - ah, tão fútil
Sonho que se sente
De si próprio ausente...

Naufrágio ante o ocaso...
Hora de piedade...
Tudo é névoa e acaso
Hora oca e perdida,
Cinza de vivida 
(Que Poente me invade?)
Porque lenta ante olha
Lenta em seu som, 
Que sinto ignorar ?
Por que é que me gela 
Meu próprio pensar
Em sonhar amar ?

                               
                      
Remetente : Arciléia 
 ÍNDICE DO AUTOR | PÁGINA PRINCIPAL