Fernando Pessoa

Lenta e quieta a sombra vasta 
                             
                        
Lenta e quieta a sombra vasta
Cobre o que vejo menos já.
Pouco somos, pouco nos basta.
O mundo tira o que nos dá.
Que nos contente o pouco que há.

A noite, vindo do nada,
Lembra-me quem deixei de ser,
A curva anônima da estrada
Faz-me esquecer,
Faz-me ter pena e ter de a ter.

Ó largos campos já cinzentos
Na noite, para além de mim,
Vou amanhã meus pensamentos
Enterrar onde estais assim.
Vou ter aí sossego e fim.

Poesia ! Nada! A hora desce
Sem qualidade ou emoção.
Meu coração o que é que esquece ?
Se é o que eu sinto que foi vão, 
Por que me dói o coração ?

                               
                      
Remetente : Arciléia 
 ÍNDICE DO AUTOR | PÁGINA PRINCIPAL