Fernando Pessoa

Ó ervas frescas que cobris
 
Ó ERVAS frescas que cobris
As sepulturas,
Vosso verde tem cores vis
A meus olhos, já servis
De conjeturas.

Sabemos bem de quem viveis
Ervas do chão,
Que sossego é esse que fazeis
Verde na forma que trazeis
Sem compaixão.

Ó verdes ervas, como o azul medo
Do céu sem Ser,
Cunhado como entre segredo
Da vida viva, e outro degredo
Do infinito haver.

Tenho um terror como todo eu
Do verde chão...
Ó sol, não baixes já no céu,
Quero um momento ainda meu 
Como um perdão.

   
Remetente : Angela Campanha 
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