Geraldo Peres Generoso
Zeca Violeiro
Na pacata cidadezinha onde nasceu,
Zeca era um tipo inconfundível. Alto e magro como um pinheiro,
cabeça raspada, barba sempre bem feita. Desde criança o seu sonho
era ser violeiro, mas as posses poucas não lhe permitiam comprar o
sonhado instrumento. Zeca compensava a falta da viola emitindo
lindos ponteados com a boca numa imitação impecável em notas, tons e
acordes.
A tal ponto se esmerou nessa arte que
fazia de costume um acompanhamento vocal, imitando violas e violões
nos forrós de Seu Azeitona sanfoneiro, com exímia perfeição. Foi
justamente num desses bailes que aconteceu este caso real. O baile
ia animado. Forrozão da pesada. Garrafas de pinga rolando soltas
pelo salão.
Lá estava Zeca em seu posto, dublando
com a boca os tinidos de uma viola. Damas e cavalheiros dançando
alegremente... Zeca, que havia jantado bastante, e ainda por cima
comido uma boa salada de pepino e abusado um pouco da cachaça, de
repente suspendeu sua função de violeiro oral e saiu em destalada
carreira para o quintal, onde se acomodou de cócoras sob uma
bananeira. Ali pensou poder aliviar-se daquela terrível e inesperada
dor de barriga.
Metros abaixo estava um casal de
namorados trocando juras sem palavras.Uma nuvem que filtrava o luar
de repente desnudou a lua e clareou todas aquelas cercanias. Zeca,
aliviado dos intestinos, mas por conta do imprevisto, não dispondo
de papel à mão, tomou de um lenço branco para efetuar a higiene
exigida.
O dois namorados, mutuamente
embevecidos, só deram conta de que Zeca estava sob a bananeira,
naquele gesto vulgar, insólito mas necessário a todo vivente, no
momento em que o “violeiro” se dava ao trabalho de limpar-se,
precedido de sucessivas emissões de gases do ventre, a quebrar o
silêncio do pomar.
Gertrudes, a namorada, virou-se para
Gersino, que a custo continha o riso e disse:
- Coitado do Zeca, bem. Ele está
limpando a boca da viola.
Gersino concluiu sem pestanejar:
- Não, Gertrudes, ele agora acabou de
limpar a boca do trombone.
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