Tive
o cuidado de me informar: o senhor Carlos Graieb não bebe. Porque
se bebesse, o nome deste artiguete seria outro; ou, compromisso meu com
os bêbados, com as crianças, com as donzelas e com as mulheres
de resguardo, sequer o teria escrito. Se o senhor Graieb não bebe,
nem está de resguardo, tanto pior; melhor que bebesse, melhor que
parisse; livre estaria. Em assim sendo, como nem bebeu, nem pariu, com
sua sua licença, meu caro senhor Graieb, dois pontos:
Porque
ele, Graieb, afaga: [in Veja, 20.10.1999]
De toda a rica herança de Cabral, só mesmo
o rigor formal parece ter sido plenamente explorado pelos poetas que o
sucederam. A poesia brasileira está hoje cheia
de escritores competentes, virtuoses da palavra e do verso.
E, no mesmo
afago, cospe: [in Veja, 20.10.1999]
A lição construtivista de Cabral, não
há dúvida, foi aprendida. Está viva na obra de um
paulista como Regis Bonvicino ou de uma maranhense como Lu Menezes. São
versos, porém, que não falam de nada, a não ser de
eventos insignificantes e objetos do cotidiano.
Falsa magra, essa poesia esconde, por trás da silhueta sequinha,
um barrigão que é quase parnasiano em seu fetiche pela forma.
O viés social que João Cabral procurou imprimir à
sua obra também ficou esquecido. Poucos se deixam assombrar por
essa idéia, a de pensar o Brasil em rimas.
E, depois de cuspir, morde: [in Veja, 20.10.1999]
Finalmente, o problema da comunicação poética
foi sepultado. Os poetas concretos, justiça seja feita, o levaram
em conta no início de seu movimento. Depois, perderam-se na erudição
hermética. Na década de 70, a poesia marginal tentou restabelecer
algum contato com o público. Mas logo veio
a fenecer, sob o peso de sua mediocridade e inconseqüência.
Hoje, reina o nada. Os poetas brasileiros não falam a ninguém
e parecem resignados com isso. Contentam-se em ser um mero "acúmulo
de material rico em seu tratamento do verso, da imagem e da palavra, mas
atirado desordenadamente numa caixa de depósito". A frase é
de João Cabral. Pertence a seu ensaio de 1954, mas descreve à
perfeição o insosso cenário
atual da poesia brasileira.
Um bafômetro urgente para o escritor Carlos Graieb. Ele bebe. Ou,
— alfazema e sene — o choro e o cheiro do nenê recém; o crítico
Graieb pariu; está de resguardo, e, sobre ele as atenuantes do puerperal.
Com
todo o respeito, |