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Carlos Graieb

Edição 14 agosto 2002Os frutos do bem

Atenção para o nome de Maria Lúcia Dal Farra: ninguém no Brasil é melhor poeta do que ela

Carlos Graieb

 
Claudio Rossi
Maria Lúcia: muito além de Adélia Prado

No interior de Sergipe, a Fazenda Lajes Velha desfruta de bastante fama. Sua sede, das mais antigas, remonta à época colonial. Ela é, dizem, assombrada por um fantasma, cujos passos ressoam noite adentro. Também abriga 150 gatos, todos eles descendentes de uma mesma antepassada. Finalmente, a fazenda é o lar de um casal de escritores. Francisco Dantas, dono do lugar, escreve austeros romances regionalistas, como Coivara da Memória. Enquanto isso, sua mulher, Maria Lúcia Dal Farra, vai registrando seu nome no rol das melhores poetas brasileiras. Sua estréia, Livro de Auras, data de 1994. Na semana passada, ela lançou Livro de Possuídos (Iluminuras; 144 páginas; 24 reais) e confirmou que é dona de uma voz poética altamente original e depurada.

Talvez a melhor maneira de compreender o que há de especial na poesia de Maria Lúcia seja compará-la à da já consagrada Adélia Prado. Em boa parte, o universo de ambas coincide: a casa e seus afazeres, a vida de província, o erotismo no âmbito do casamento, a família. São autoras que tematizam a "condição feminina". Maria Lúcia, contudo, tem uma disposição analítica que está ausente em Adélia. "Ela se aproxima de seus temas com o olhar de um ensaísta", observa o crítico José Miguel Wisnik. Isso se torna claro na segunda – e notável – seção de Livro de Possuídos. São poemas com títulos como Melancia, Maçã ou Espinafre. Eles não expressam somente o contato de uma mulher (e de uma cozinheira) com as frutas e os vegetais, mas o pensamento de alguém capaz de retroceder até Plínio, o Velho, no século I, para buscar informações sobre história natural e incorporá-las ao poema. Maria Lúcia é também dona de um ouvido privilegiado. Poucos autores mostram um domínio comparável do ritmo do verso livre. Quanto às suas referências, são das mais variadas: há algo dos surrealistas e de Federico García Lorca nas imagens que compõe, um pouco da aspereza de João Cabral de Melo Neto e da doçura de Cecília Meireles em seus versos. Mas são sempre ecos, que não prejudicam a independência da autora.


Embora esse Livro de Possuídos seja apenas sua segunda obra, a paulista Maria Lúcia não é uma novata no trato com a poesia. Ela tem 57 anos e aposentou-se há quatro, como professora de literatura. Tem estudos importantes sobre poetas portugueses, como Florbela Espanca e Herberto Helder, além de uma tese sobre as relações entre o pensamento esotérico e a poesia de autores franceses do século XIX, como Charles Baudelaire, autor de As Flores do Mal. Redigida no começo dos anos 80, a tese permanece inédita. "Quando pensei em publicá-la, a reação da universidade foi negativa", conta ela. "Estávamos na ditadura e os colegas me tacharam de alienada."

Amigo da escritora, assim como leitor de sua obra, José Miguel Wisnik acredita que a palavra extravagante se aplica bem a ela. "Extravagância significa sair dos trilhos. Isso é algo que Maria Lúcia sempre teve coragem de fazer", diz Wisnik. O desvio mais importante certamente aconteceu em 1983, quando ela deixou seu posto na Unicamp e foi morar no Nordeste. O episódio, da maneira como Maria Lúcia o relata, teve algo de folhetinesco. Durante um seminário em Aracaju, ela foi apresentada a Francisco Dantas. Antes mesmo de trocar as primeiras palavras, concluiu que, dali em diante, só seria feliz ao lado dele. No dia seguinte, ela confessou ao marido, com quem estava casada havia treze anos, que se apaixonara por um outro homem. Dois dias depois, telefonou a Dantas para confessar-lhe o seu arrebatamento. O sentimento era recíproco. "Francisco é belo e áspero", diz, enlevada. "Exatamente como o cáctus do poema de Manuel Bandeira." Maria Lúcia Dal Farra é uma poeta em tempo integral.

 

ALCACHOFRA

Não é em altura que seu arbusto
se ombreia com o pinheiro:
é pela fruta.
Íntima amiga da geometria,

do pinho tão só se distancia
pela recusa à agreste armadura.
Nenhum lampejo de indiferença
machuca-lhe a vestimenta:
antes a luz emprega no fabrico da alma
tenra (que lateja),

parente do alegre bem-me-quer,
do espelhante girassol.

Pertença da floricultura e da boa
mesa, ornamenta o paladar

com a lembrança das nascentes:
não são de lâmina as escamas,

mas (degustáveis) dádivas mediterrâneas
dispostas no coração em tranca.
Apenas pequenas setas mantém
(em íntima contenda)
a provocar torneios entre língua e dentes.

– Cota de cavaleiro andante,
em que terna demanda atuas?

Poema de Livro de Possuídos

Leia mais Maria Lúcia Dal Farra

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Carlos Graieb


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Biobibliografia:

Crítica literária:

  1. O Cânone Imperial
  2. Cadê a crítica?
  3. Tribos invisíveis
  4. Resenhas podres
  5. Vazio na poesia brasileira
Dos leitores
  1. Comentários sobre o artigo Tribos invisíveis
  2. Soares Feitosa comenta o artigo sobre "vazio"
Nota do Editor:
 

        O JP publica, com grande atraso, a matéria de Veja, de autoria do crítico de literatura, sr. Carlos Graieb. É que minha assinatura da www.uol venceu e não pude renová-la, de modo que estou sem acessar a Veja e a Folha de São Paulo. [Deus é grande, um dia chove!] Enquanto não chove[u], alguns ficaram de me mandar o arquivo eletrônico, mas não mandaram; até que o Cláudio Willer mandou. Aí está. Acho o artigo do Graieb uma lindeza: abre o debate! 

        Você, meu caro leitor, acha correta a classificação das "tribos"? Como se classifica a si mesmo? Outras tribos? Houve deboche? 

        Meta a colher! Cacete no Graieb, se for o caso. Debatamos. E, claro, todo o espaço ao Graieb!

        Eu, em particular, acho perfeita a classificação em 3 grandes "famílias". Apenas mandaria retirar o "neo", porque não há nada de neo em canto algum. Como conservador, continuo procurando fazer a mesma velha poética que sempre se fez em 5.000 anos de história ocidental. E os concretos continuam concretos; os marginais continuam à margem. Se fazem poesia? Eles acham que sim, e abominam os conservadores; e vice-versa, de lá pra cá e daqui pra cá, e, como registra o Graib: odiamo-nos. Reciprocamente, cobras e lagartos. Razão com ninguém, parece. Que seja civilizadamente. Retirem os neos, por favor. Em breve comentarei o artigo do moço. O debate!, vamos a ele.

Soares Feitosa, conservador
Página inicial das fofocas & maldades
Meta a colher: 
[Carlos Graieb]  [Jornal de Poesia
Veveno[contra] dos leitores
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Tribos invisíveis 

Não parece, mas ainda existem 
poetas no Brasil. Eles escrevem,
publicam e até brigam

"Nota do Editor:
 

        O JP publica, com grande atraso, a matéria de Veja, de autoria do crítico de literatura, sr. Carlos Graieb. É que minha assinatura da www.uol venceu e não pude renová-la, de modo que estou sem acessar a Veja e a Folha de São Paulo. [Deus é grande, um dia chove!] Enquanto não chove[u], alguns ficaram de me mandar o arquivo eletrônico, mas não mandaram; até que o Cláudio Willer mandou. Aí está. Acho o artigo do Graieb uma lindeza: abre o debate! 

        Você, meu caro leitor, acha correta a classificação das "tribos"? Como se classifica a si mesmo? Outras tribos? Houve deboche? 

        Meta a colher! Cacete no Graieb, se for o caso. Debatamos. E, claro, todo o espaço ao Graieb!

        Eu, em particular, acho perfeita a classificação em 3 grandes "famílias". Apenas mandaria retirar o "neo", porque não há nada de neo em canto algum. Como conservador, continuo procurando fazer a mesma velha poética que sempre se fez em 5.000 anos de história ocidental. E os concretos continuam concretos; os marginais continuam à margem. Se fazem poesia? Eles acham que sim, e abominam os conservadores; e vice-versa, de lá pra cá e daqui pra cá, e, como registra o Graib: odiamo-nos. Reciprocamente, cobras e lagartos. Razão com ninguém, parece. Que seja civilizadamente. Retirem os neos, por favor. Em breve comentarei o artigo do moço. O debate!, vamos a ele.

Soares Feitosa, conservador, velho"
[A classificação das escolas, segundo Graieb]
Grupo: Neoconservadores
Revista: Poesia Sempre
O que propõem: Retorno às formas fixas, repúdio ao vanguardismo, defesa da poesia como forma "nobre e elevada"
Representantes: Ivan Junqueira e Alexei Bueno
Grupo: Neomarginais 
Revista: O Carioca
O que propõem: Espontaneidade, atitude inconformista e "antiliterária" 
Representantes: Chacal, Michel Melamede, Pedro Rocha; Viviane Mose, Guilherme Zarvos, Gisela Campos, Guilherme Levi
Grupo:
Neovanguardistas
Revista:I nimigo Rumor
O que propõem:
Ecletismo, erudição, perícia técnica 
Representantes:  Carlito Azevedo, Jorge Viveiro de Castro (editor), Lu Menezes, Alberto Puche

         Interessar-se por poesia é como mexer num vespeiro. Lá está ele, perdido na paisagem. Até que alguém o toca e as vespas aparecem, voando por todos os lados. No mercado editorial, a poesia é como esse vespeiro num cenário bem mais amplo. As tiragens são pequenas, assim como as vendas. Como observou o escritor russo Joseph Brodski, ao aceitar o Prêmio Nobel em 1987, é bem provável que o número de leitores de poesia jamais tenha chegado a 1% da população mundial, ao longo de toda a história humana. Apesar dessa relativa invisibilidade, no entanto, o gênero persiste. No Brasil, como em outros países, basta uma espiada mais atenta para constatar que os poetas formam um ecossistema peculiar, com suas regras e manias. Como no caso das vespas, trata-se de uma sociedade industriosa e agitada. Eles editam revistas, como a Inimigo Rumor, a Azougue ou a Orobó. Organizam espetáculos como o CEP 20.000, recital anual que congregava poetas do Rio de Janeiro entre 1990 e 1998. E, de vez em quando, alguns guerreiros até saem a campo para brigar com os vizinhos: das raras polêmicas literárias no Brasil recente, quase todas foram protagonizadas por poetas. Mesmo sendo alérgico a poemas ou a picadas, sempre é curioso prestar um pouco de atenção a um universo como esse. 

         É praticamente impossível fazer um levantamento completo da poesia produzida no Brasil hoje. O maior esforço nesse sentido é a série organizada pelo escritor Assis Brasil para a editora Imago. Até agora, foram onze coletâneas, cada uma dedicada a um Estado. No total, cerca de 500 escritores. Mas o intuito desses livros é apenas documental, ou seja, não há julgamento de valor e cabe aos leitores separar o joio do trigo. Bem mais crítica é a coletânea Esses Poetas Uma Antologia dos Anos 90, organizada pela professora paulista Heloísa Buarque de Hollanda. Seu objetivo é identificar as tendências dominantes na produção dos poetas surgidos nesta década, a maioria na faixa entre 25 e 45 anos. Lançada no final de 1998, ela acaba de chegar à segunda edição e reúne 23 autores a maioria dos quais moradora do eixo RioSão Paulo. Não é por acaso. Nesta segunda metade do século, São Paulo e Rio (onde se concentram as maiores editoras, jornais e revistas) têm disputado o posto de capital poética. 

     Famílias A vantagem, atualmente, fica com o Rio, onde é relativamente fácil identificar, se não grupos fechados, pelo menos famílias poéticas. Uma delas se poderia chamar de "neo-marginal". A poesia marginal ganhou corpo nos anos 70, tendo por expoentes nomes como Cacaso, Waly Salomão ou Chacal. Era marcada por um grande desejo de dessacralizar a literatura, por um quase desprezo pela cultura erudita. Em seus melhores momentos, seus textos eram um registro quase jornalístico (e muito bem-humorado) de eventos cotidianos ou políticos. Nos últimos anos, alguns jovens poetas voltaram a se identificar com esse ideário. Encontraram em Chacal, da geração passada, um incentivador e ponto de referência. Na década de 90, Chacal (que os inimigos chamam de "Chatal") não apenas editou a revista O Carioca como também produziu, ao lado de outro poeta, Guilherme Zarvos, o evento CEP 20.000. Tanto a revista quanto o evento estão suspensos por falta de verba. Mas Chacal garante que vai retomá-los e, enquanto isso, se encontra com seus "pupilos" em centros culturais como o Fundição Progresso, ou em pontos tradicionais como o Bar da Hípica, onde se pode "beber, fumar e ouvir rock". Segundo Chacal, a dificuldade de publicar está levando esses jovens a desenvolver formas de poesia falada. "Às vezes, soa como uma mistura de cordel e hip hop, com altas doses de improviso", diz ele. 

         Um segundo grupo é o dos "neovanguardistas". É o mais numeroso, o mais coeso e o que melhor define o "estilo da época". Seu ideário é eclético, para dizer o mínimo. Eles assumem legados do modernismo de 1922, como o coloquialismo, o poema-piada e o poema-minuto. Vinculam-se a "grifes", como João Cabral de Melo Neto ou Carlos Drummond de Andrade. Retomam experimentos do movimento concretista inaugurado na década de 50 como a fragmentação da palavra ou o emprego de efeitos visuais e tipologias especiais. Até mesmo características da poesia marginal dos anos 70 são incorporadas. Tudo isso, é importante que se diga, é feito com extremo apuro técnico. Em grande parte, os nomes de maior destaque dessa vertente, como Carlito Azevedo, Lu Menezes, Aníbal Cristobo ou o paulista Heitor Ferraz, têm ligações com a universidade e conhecimentos de crítica literária, sendo, em mais de um sentido, "poetas-estudantes". Nos últimos anos, a editora carioca Sette Letras tornou-se a principal encorajadora desse movimento. Ela não apenas lança obras individuais como também banca a revista Inimigo Rumor, editada por Carlito Azevedo, na qual, além de poemas, ensaios e traduções são publicados. 

         Por fim, há a vertente "neoconservadora". Dos nomes que despontaram nos anos 90, o mais conhecido é o de Alexei Bueno, que tem grande afinidade com autores mais velhos, como Ivan Junqueira, hoje na casa dos 60 anos. A revista que melhor acomodou sua produção é a Poesia Sempre, publicada pela Biblioteca Nacional (embora uma crise de orçamento ameace cortar a verba de 30.000 reais gasta, em média, com cada número). Um retorno às formas fixas, como o soneto, ou aos versos metrificados, é a principal característica desses autores. Em vez da herança modernista, que de certa forma até repudiam, eles preferem o simbolismo do final do século passado e autores da Antiguidade clássica. 

     Tomates nos "reumáticos" Como acontece em toda família, às vezes há desavenças internas nesses grupos. Muitos dos neovanguardistas, por exemplo, começaram sua trajetória próximos do grupo concretista encabeçado pelos irmãos paulistas Augusto e Haroldo de Campos, cuja bênção foi, por três décadas ao menos, um auxílio precioso para quem desejasse ter sucesso rápido na poesia. Ciumentos de suas crias, os Campos costumam deserdar quem se desfilia dos preceitos concretistas e por isso quase todos os neovanguardistas já tiveram rusgas com eles. Os poetas desse grupo, no entanto, aliam-se aos neomarginais na hora de jogar tomates nos neoconservadores, acusados de fazer versos "reumáticos" ou então de acreditar, pomposamente, que sua poesia é um antídoto contra a "decadência da cultura ocidental". Diante desses ataques, Alexei Bueno retruca dizendo que falta visão de mundo a seus adversários. "Todos escrevem a mesma coisa, sem significar nada", acusa. 

         É uma objeção a levar em conta, mesmo por aqueles que não têm entusiasmo especial pela poesia retrô praticada por Alexei e aliados. Iumna Maria Simon, por exemplo, é professora de teoria literária da Universidade de São Paulo e da Universidade de Campinas e uma das poucas a ensinar poesia contemporânea brasileira regularmente aos alunos. Ela conta que, mesmo depois de familiarizar-se com as muitas técnicas poéticas postas em circulação pelos grandes escritores deste século, seus alunos têm dificuldade em julgar a produção dos jovens poetas. "As vozes são muito indiferenciadas", analisa ela. "Os poetas são competentes, têm muitos recursos, conseguem efeitos pirotécnicos, mas parecem não ter nada a dizer sobre a vida e a experiência. Falta-lhes aquilo que Sérgio Buarque de Holanda chamou de gesto ativo de criação." Num quadro como esse, o leitor indiferente à poesia talvez não mereça ser recriminado. Ou você já tentou diferenciar uma vespa de outra?
 

 

Veveno[contra] dos poetas leitores
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soares feitosa

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Ruy Proença

Em entrevista ao Jornal de Poesia: 

Rodrigo  - Como encarou a matéria da revista Veja que ridicularizou e ironizou poetas? 

RP  -  É um pouco sintomático ver um jornalista como o Carlos Graieb,  que já fez boas críticas de poesia no tempo  em  que trabalhava  para o Estadão, entre elas da Hilda  Hilst  e  do próprio  Carlito  Azevedo, que aparece na reportagem,  baixar tanto  o nível. Infelizmente algumas corporações hoje em  dia fazem  questão de quebrar a espinha de seus servidores,  para não dizer servos. Quero acreditar que o próprio Carlos Graieb não  acredita  no que escreveu. O termômetro de  uma  revista como essa, que, do jeito que está, está mais para “Ratinho no lixão”, é mercadológico. O que estou dizendo não justifica  a postura  do jornalista e não o exime de sua responsabilidade.  Mas  vamos ao que interessa: nossa melhor resposta para  esse tipo de imprensa é nossa poesia.
 

Cláudio Willer
cjwiller@uol.com.br



Caro SF:
 

        Graieb, autor da matéria, publicou outras mais substanciosas, quando estava no Estadão. Isso reforça minha impressão de que a política editorial, nas revistas semanais, é dar tratamento banal, bem ligeiro, à literatura, em comparação  aos cadernos da imprensa diária. E não é de hoje: basta lembrar, na mesma Veja, duas décadas atrás, Chico Alvim retratado como "princípe dos poetas marginais". Muita gente boa parou de colaborar em revistas e saiu reclamando por causa da superficialidade, das gracinhas e ditadura do copidesque. Entre outros, José Paulo Paes.

        Os três grupos ou tendências examinados em Veja mereceriam até um tratamento melhor (poetas são examinados como periferia lunática, minoria excêntrica, reduto do quixotismo). O problema são as omissões. A revista Azougue é mencionada, mas não são comentadas Medusa, Monturo e tantas outras. Nem essa explosão de sites, Jornal de Poesia, Blocos, Pop Box... Já que foi comentada a antologia de Heloísa, tinham que ser, no mínimo, Outras Praias e Nothing that the sun... Em um provincianismo às avessas, fica parecendo que só há poetas e grupos de poetas no Rio.

        A agitação literária em SP, com as leituras, os poetas ligados à Nanquim, nada??? Não existem? E a equivalente movimentação no Paraná, no Ceará, em Minas, em...? E essa bobagem sobre poesia vender pouco? Prosa também vende pouco, normalmente. A quantidade de poetas lançados por editoras como Topbooks, Record, etc, aumentou. E Fernando Pessoa não vendeu quase nada, em vida, mas o que ele fez é constitutivo do nosso modo de escrever e até de falar e enxergar a realidade, direta ou indiretamente. Desse jeito, fica parecendo que meia dúzia de gatos pingados está sendo publicada. Justifica o que venho reclamando: que há muita gente, hoje, escrevendo, e escrevendo bem, sem que isso seja adequadamente noticiado, comentado, resenhado, criticado. O leitor desavisado, comparando Veja e as matérias sobre a edição de julho, do mesmo mês, da revista Cult, ficaria com a impressão de que se trata de literaturas de dois países diferentes. O país retratado por Cult é bem melhor do que o de Veja. E mais assemelhado à realidade.Agora, quanto à Veja, o que mais criticaria é terem fugido à discussão. Receberam cartas reclamando dessa matéria, mas não as deram, não tomaram conhecimento. Tinham que ter um ombudsman, um departamento de reclamações como o da Folha e outros jornais, para dar as devidas explicações sobre essa fuga da reta.
_______________________
Fonte - email ao JP, jul/99




Fernando Paixão


          O que essa matéria fez, na minha opinião, foi tratar a inquietação poética das novas gerações como uma novelinha de personagens intriguentos, cada grupo com a sua "mania". É comum a revista Veja tratar determinados assuntos – sobretudo os de cultura - com o poder de legislar, ora colocando determinado autor/evento nas alturas, ora depreciando o que vem obtendo sucesso. Faz parte da necessidade de afirmação da imagem de uma revista semanal e de massa. Não interessada em digerir para os seus leitores um assunto tão restrito quanto esse, eles acharam por bem ridicularizar os poetas. Mas hoje essa matéria já está embrulhando peixe. Não esqueçamos que os modernistas brasileiros - e não apenas os brasileiros – também tiveram esse mesmo tratamento desmoralizador. Essa é apenas uma batalha da guerra.


Ademir Assunção
<adeassuncao@uol.com.br>

Para: 
SF - Soares Feitosa, Jornal de Poesia" <jpoesia@secrel.com.br>
 
 
 

      Olá Soares: como andas tu?

      Agradeço muito pela entrevista no teu site. .

      Quanto à matéria do Graieb, tudo o que tenho a dizer é que aquilo não vale um cocô de gato.

                                                      Abração
                                                                         Ademir



Assunto: 
         sobre a matéria de Carlos Graieb que deu na Veja sobre a poesia brasileira
    Data: 
         Wed, 3 Nov 1999 21:54:52 -0200
     De: 
         "Elaine Pauvolid" <pauvolid@olimpo.com.br>
    Para: 
         <jpoesia@secrel.com.br>
 
 
 

Amigos,
a questão não me parece restrita ao contra ou a favor a respeito do que escreveu o colunista CG sobre o insosso estado da poesia brasileira. 
Prefiro pensar: precisamos ser todos João Cabral ou Drummond?  Precisamos ser geniais como eles? Ou queremos escrever nossos versos?  Ganha-se mais pensando na poesia do que analisando o nível de genialidade que se alcança a cada rima.  Por isso, leio o que CG escreveu com a consciência clara de que só mais tarde os que escrevem hoje poderão ser apontados como grandes ou pequenos e que não é possível que CG não consiga ver quanta gente boa
anda escrevendo poesia de qualidade num país onde a grande maioria possui acesso limitadíssimo  à cultura, quando possui.
Saudações poéticas!
Elaine Pauvolid


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