Gualdino Avelino
Rodrigues
Rua Teófilo Carvalho dos Santos, nº 10,
2º DT
1600 - 773 - Lisboa, Portugal
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gualdinor@mail.telepac.pt
BIOGRAFIA:
Nasceu no Funchal, Ilha da
Madeira, em 26 de Setembro de 1946.
É licenciado em Direito
pela Faculdade de Direito de Lisboa.
Foi jornalista (imprensa
escrita e rádio), advogado, docente universitário, activamente
envolvido num movimento cultural (poesia, música, rádio e
imprensa escrita) que contribuiu para a instituição da liberdade
de pensamento e de expressão na sua Ilha da Madeira., e cujo eco
vamos encontrar o seu último livro, O ÚLTIMO CONCERTO NO
JARDIM MUNICIPAL.
Actualmente é diplomata,
desempenhando o seu cargo no Consulado Geral de Benguela (Angola).
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BIBLIOGRAFIA
QUANDO LANÇARAM MEU
CORPO AO MAR, Editora Danúbio, Lda, Lisboa, 1983.
Sob este título, reúne
o autor o mais significativo da sua produção poética
escrita entre 1966 e 1982, dividida por quatro livros distintos:
UNI-VERSO – 1966-1975
QUANDO LANÇARAM MEU
CORPO AO MAR – 1973-1978
ANTES DE PARTIR – 1981
GERAÇÂO REVOLTADA
- 1982
O ÚLTIMO CONCERTO
NO JARDIM MUNICIPAL, Editora Edição de Autor, Região
Autónoma da Madeira, 1996.
Esta obra, que, formalmente,
apresenta a estrutura de um concerto, inclui poemas em português
e inglês, e constitui uma homenagem aos animadores do movimento musical
atrás referido. |
Poemas:
Nunca aproximámos uma saudação - nesta página
Chamava-se américa - nesta página
Discurso
ao tédio - nesta página
Antes
de partir - nesta página
Minha
geração revoltada - nesta página
Os
peregrinos - clique aqui
Serei
um dia o mar - clique aqui
Sobre
meu rosto passaram - clique
aqui
Brothers
& Sons- clique aqui
Porque
era ali -
clique aqui
Suave
no meu caminho -
clique aqui
Nunca aproximámos
uma saudação
nem vigiámos a
mesma fogueira durante a noite principal
eu tive frio e nunca interrompi
as minhas canções
o sono nunca me venceu
enquanto adormecias ao
calor cedo da lã
e a chuva confundia as
linhas da tua construção
íamos habitando
o mundo
de duas formas distantes
Do livro
QUANDO LANÇARAM MEU CORPO AO MAR
CHAMAVA-SE AMÉRICA
Chamava-se américa
e mostrava um chifre
de ouro moldado
pelo índio mexicano
nas rochosas montanhas
do esquecimento
vestia saia de algodão
chorada por Mame no gospel
trazia ao cinto um colt45
a veloz música
do rodeo
as fortes bebidas do
sul
casou um xerife católico
de Arkansas
em troca de sete criados
negros
ouvi contar lendas
de heróis subindo
à forca
à força
de seduzi-la
mora num chalé
na suíça.
na europa
Do livro
UNI-VERSO (1966-1975)
Discurso ao tédio
O tédio, por vezes,
na perspectiva da única noite silvestre.
O fogo na boca da nuvem.
A nuvem na boca.
Um cavalo de guerra vestido
de vilão dançando e dizendo a cantiga
Dos escravos.
O tédio, por vezes,
desloca-se como se fosse uma cidade chateada,
com orquídeas
nos braços, é certo, mas chateada aoté aos últimos
hotéis.
O tédio é
um ilhéu desgraçado, uma cabra-cega animada no adro
da consciência.
O tédio, como
acabar o poema?
Como libertar a lage,
recuperar a rosa, esquecer a lápide, se estamos
mortos e não cantamos?
Saem os lobos para o
mar alto e os catraios aos sete e aos oito não
sabem como dividir a
colheita de um penny e, na câmara da noite,
a fome é fornicada
sobre a mesma tábua, fazendo de mesa e cama,
sabendo a sal, alga,
merda e peixe.
Do livro
QUANDO LANÇARAM MEU CORPO AO MAR, (1973-1978)
Antes de partir
(Excertos)
1
As aves fazem o último
voo
sobre o inverno
que adormeceu sem novidade
as rosas demoram o último
beijo
sobre os olhos cansados
de raiar sobre o horizonte
provavelmente
vai amanhecer
e eu tenho de dizer
que vos amo muito
antes de partir
4
Dá-me a tua leve
voz
e eu farei com ela,
bela e nua,
uma canção
para acordar
as vilas adormecidas
da solidão.
Uma canção
para acordar
as vilas aborrecidas,
belas e nuas,
sobre os ombros encolhidos
da religião.
6
Ah,
o mar que me esquece
do mundo
e às vezes traz
notícias
ao fim do dia
a revolta da infinita
liberdade
as levadas da despedida
saudade
ah,
o mar...
10
É uma ilha, gritou
o marinheiro.
Maio, mar
– muito mar para chorar
e um porto santo
que nos aguarda
com frias frutas
que nos matam o desejo.
É uma ilha, ordenou
o general.
Traz os nossos canhões,
as nossas máquinas
da morte!
Então,
as douradas praias choraram
corpos esquecidos do
último verão.
12
Imagino
a cidade principal.
No cais, os jovens amam,
os pescadores partem,
os avós regressam
nos navios do Cabo
com barbas brancas
e bolsos vazios.
Imagino a vossa desilusão
sobre heranças
esperadas
no fundo dos corpos cansados.
Imagino tanta coisa
e só não
as escrevo
para que não percam
essa falsa alegria
de viver.
14
É fácil
dizer dia
quando já amanheceu.
O que teriam dito
os antigos poetas
nas suas longas jornadas
até à vila
em festa?
O que teriam cantado
esses velhos trovadores
da esperança?
Teriam dito,
teriam tido a coragem
de dizer
durante a noite
que o dia estava a chegar?
do livro
ANTES DE
PARTIR (1981)
MINHA GERAÇÃO REVOLTADA (1982)
(Excerto)
[...]
Minha geração
revoltada,
qual é a tua Pátria?
A que deportou teu pai
em 1931?
A que tem fronteiras
com o mar,
aquela que perdeu todos
os seus combatentes
nas jornadas esquecidas
da Califórnia,
São Paulo, Cabo
e Caracas?
Qual é a tua bandeira,
geração revoltada?
A bandeira foi devorada
pelo ciclone da solidão,
da aventura,
do desespero,
e foi cama rasgada na
rocha,
guardada pelas silvas
e belas uvas,
pela baleia e pela orquídea.
Para quem nasce numa ilha,
geração
revoltada,
apenas a viagem é
palavra universal.
Nosso berço, nossa
campa, nossa pátria em viagem.
Eu sei: ensinámos
a terra à fonte,
a gente à terra,
a água pelo sangue,
o sangue pela água.
Dizer morte, seguir o
trajecto sinuoso,
desembarcar nos portos
quentes das Ideias...
Apenas viagem? Mas o
caminho?
“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar...”
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