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Nunca aproximámos uma saudação - clique aqui 
Chamava-se américa - clique aqui 
Discurso ao tédio - clique aqui 
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Minha geração revoltada - clique aqui 
Os peregrinos - nesta página
serei um dia o mar - nesta página
sobre meu rosto - nesta página
Brothers & Sons- nesta página
porque era ali - nesta página
suave no meu caminho - nesta página

 

O ÚLTIMO CONCERTO NO JARDIM MUNICIPAL
 

In:
OUVERTURE
 

OS PEREGRINOS

os peregrinos
das
palavras
e
dos
sons

agora
atravessam
a
cidade
em
direcção
ao 
jardim municipal
transportam
guitarras
pandeiros
búzios
castanholas
para 
sossegar

horizonte 
triste 
adiar 

arma 
imperial

iluminar 

viagem 
secretamente 
planeada

passam 
também 
os 
cantores 
exibindo 
cabelos 
desordenados

alongando 

grito 
para 
sarar 
o
 violento 
abraço 
da 
despedida

uma 
lágrima 
para 
apagar 
uma 
canção 
brutalmente 
trespassada

uma 
estranha 
engenharia 
entrelaçando 

orquídea


mar 
no 
pórtico 
do 
templo 
da 
idade 
cruxificada


público 
ocupando 

teatro 
da 
agonia 
das 
grades 
frias

perpetuando 

clamor 
das 
frases 
proibidas

enquanto 

engraxador 
do 
golden gate 
engraxa 

português
 uma vez 
por 
mês 
por
 vinte 

cinco 
tostões

1973




 
 

IN:
PARTE I
 

SEREI UM DIA O MAR

serei um dia o mar 
cansado de ser um monte 
de ir de vir 
de ser a fonte 
onde nasce o rio 
e nunca o mar

serei um dia o mar 
longe das cidades 
onde os homens 
por um conto 
compram a guerra 
o amor 
a terra 
onde temos de lutar

uma flor 
suicidou-se 
ao fim do dia 
e eu pela noite fiquei a chorar 
navios 
navegam dentro de mim
e ao pôr do sol em teus olhos 
sou eu 

mar

1965



 

SOBRE MEU ROSTO PASSARAM

sobre meu rosto 
passaram 
iluminaram as mãos 
fugiram pela noite 
queimaram as casas 
cantaram

sobre meu rosto
 viveram 
lavraram um dia 
beberam dançaram 
desceram o medo 
dormiram 
sobre meu rosto 
ceifaram 
plantaram feiras 
saciaram secas 
acordaram cerros 
sobre meu rosto 
cansado

sobre meu rosto 
lutaram 
amanheceram o mar 
largaram seus barcos 
partiram tão cedo 
armados

sobre meu rosto 
distante 
abraçaram eiras e fontes 
amadas 
sobre o meu rosto 
passaram



 

BROTHERS & SONS

Desembarcaram ao pôr do sol 
brothers & sons

ao som do rock and dollar
and roll and roll and roll

aqui fizeram o seu cantinho 
do vinho fizeram uvas 
da nossa camisa o linho

ao som do rock and dollar
and roll and roll and roll

   oh  brothers & sons
          brothers & sons
          brothers & sons...
          brothers & sons...

mal chegaram 
muitos tiveram de partir 
ao som do rock and dollar 
and roll and roll and roll

corajosos e fraternos 
para enfrentar o inverno 
aqui ficavam seis meses 
os ingleses
 

ao som do rock and dollar 
and roll and roll and roll

1968



 

IN:
INTERVALO
 

PORQUE ERA ALI

porque era ali 
que 
a cidade final 
não acabava 
no 
fundo 
dos 
cinzeiros 
dos cafés


sintetizador 
circulava 

metal 

corda 

indizível 
gesto 
desfigurado 
vagueando 
nas 
margens 
da 
margem 

nem assim 
morríamos 
descansados

pois 
uma vez 

guardião 
do costume 
ancestral 
acendeu 

olho 
de 
boi

e
descobriu-nos 
abraçados 
uns à música dos outros

acima 
de 
todas 
as 
palavras 
ancoradas 
no 
tecto 
de 
um 
único 
luar 
branco

abrigo 
desordenado 
habitado 
pela 
alma 
dos cantores 
proibidos

com 
muitos 
poemas de ginsberg 
gravados 
nas 
suas 
guitarras

depois 
uma 
legião 
de 
fardas e mofo 
atropelou 

roda 
do 
tempo

foi
um 
desastre 
profundo

os 
corpos 
acordaram 
no 
tumulto 
das 
sombras e dos sons 
procurando 
reconstituir 

geometria 
acelerada 
do 
tempo 

verdugo 
devorando 
religiões 
inventos 
exércitos 
aclamados 
da 
razão 
guiada 
por 
panfletários 
destemidos 
desmoronando 
fortalezas 
intranquilas.



 

PARTE II

Nota do JP: todos os poemas que constituem esta “Parte II” do concerto estão escritos em inglês. Em inglês, no JP, o maior site de poesia em língua portuguesa,  não cabem nem mesmo os poemas de Fernando Pessoa. Fica o registo, para, com todo o gosto, dar idéia da estrutura da obra.


IN:
FINALE
 

SUAVE NO MEU CAMINHO

antes dos barcos romperem a manhã com o sol nos mastros
massaja 
lentamente 
os olhos e os pulsos 
inicia a tua ausência

de novo 
com amor 
liberta o corpo 
demora 
o vento sobre o inverno 
a orquídea sobre a chuva

prolonga-lhe 
ternamente 
a sede 
olhando o azul 
sobre o parapeito da janela

despede-te dos animais 
do gato 
que definitivamente 
perdura 

casa

acaricia 
a vaca 
solene 
bela 
erva e leite 
revendo 
a ribeira 
o vale 
os figos

sela a arca do pó e do silêncio 
escondendo 
apressadamente 
a arma da revolta 
na tarde amargurada 
de 2 de maio de 1931

as cartas de bordo 
escritas 
na viagem 
sem regresso 
para são francisco

guarda 
o dólar verde 
impossível 
de cambiar 
eternizado 
no

cheiro 
da 
fábrica 
no 
gosto 
da 
rede 
em 
newark 
nos 
pomares 
de 
um 
sonho 
adormecido 
num 
bar 
de santa clara

Pousa a viola de arame sobre a sombra diurna 
amanhece 

som 


luz


luz



cor


cor 


noite


noite 


música 

música 
outra vez 

outra 

música

por saudação 
um sorriso 
suave no meu caminho

quando olhares para trás 
na obsessante incerteza

abraça 

ilha 
um 
pôr do sol 
sobre o mar?

1973


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