Hildeberto Barbosa Filho
Dias de paixão e de poesia
Sábado, 21 de dezembro de 1996
O Suplemento Dominical do JB foi o palco de uma histórica batalha
literária
Imagine que está numa festa, é grande
a animação, você aproveita o clima e anuncia: "Amigos, atenção! Vou
ler para vocês um poema!". Debandada geral, manifestações de
repúdio, visível aborrecimento, expressões de enfado. Isto hoje. Há
40 anos, a história seria (e foi) outra. O Suplemento Dominical do
JORNAL DO BRASIL (SDJB) mostrava que, naquela época, falar de poesia
não era assim tão inconveniente.
Houve um tempo em que discussões sobre
o que deveria ser a poesia eram travadas em suplementos culturais.
Em 1956, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari
decretavam no manifesto Plano-Piloto para Poesia Concreta o fim do
verso e propunham substitui-lo por novas estruturas baseadas na
disposição espacial das palavras em alinhamentos geométricos. A
sintaxe era inspirada nos ideogramas e aspirava à comunicação
imediata das manchetes de jornal.
Como principais influências, Mallarmé,
com seu poema "Um lance de dados" e Appolinaire, com seus "Calligrammes".
Usando como mote o dístico de Maiakóvski - "Sem forma revolucionária
não há arte revolucionária" - os irmãos Campos e Décio Pignatari
geraram um cisma no movimento, com Reynaldo Jardim e Ferreira Gullar
constituindo o grupo dissidente dos neoconcretos. O manifeso deste
novo movimento foi publicada em março de 1959, no Suplemento
Dominical do JORNAL DO BRASIL. Os neoconcretos revoltaram-se contra
a "matemática da composição" dos paulistas e queriam preservar o
subjetivismo em suas composições, algo abominável para os paulistas,
que aspiravam a uma poesia sintética e exata.
Mário Faustino, um dos fundadores e
colaboradores do SDJB, discutia nas páginas estas experiências de
vanguarda. Em 1957, publicou um longo artigo sobre a poesia concreta
e o momento brasileiro poético. Ousado, criticou Carlos Drummond de
Andrade por "só agir poeticamente através dos poemas que publica".
Mais tarde, em 1962, Faustino
tornou-se correspondente internacional do JORNAL DO BRASIL e partiu
para sua primeira missão: uma entrevista com Fidel Castro. Faustino,
que voou para Havana, via Lima, Peru, nunca chegou ao destino. O
avião explodiu perto da capital peruana, caindo sobre os Andes, em
Cerro de Las Cruces. O corpo de Mário nunca foi encontrado. Ao
morrer, aos 32 anos, tinha apenas um livro publicado, O homem e sua
hora (1955), e uma trajetória incomparável no jornalismo literário
nacional, pelo conhecimento daquilo que escrevia. (Cláudio Cordovil)
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