Soares Feitosa
— Saberia eu indagar agora sobre tuas mãos? Era
de noite:
—Pois o que ensiná-las a mais, se as ensinamos pouco? Porque
agora,
mas saberia
agora mesmo,
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Luiz Bello SF
Kant afirmou, certa vez, que não saberia ensinar a ninguém o que era Filosofia, mas saberia ensinar a filososar. Ninguém me ensinou a fazer Poesia, mas eu encontrei uma definição: Poesia é tudo aquilo que me emociona! Há duzentos anos, quando eu vim parar no Piauí, achava engraçado o povo dizer que um céu chuvoso estava "bonito". Foi a minha primeira lição de poesia-adquirida, porque, com o tempo, eu mesmo olhei para um céu de aguaceiro e achei que estava bonito. Fiquei emocionado. E aprendi. Nada a ver com o belo-horrível. A expressão "bonito pra chover", tão comum aqui e tão estranha para o ser que eu fui, de fora, encerra uma beleza que está nos prognósticos implícitos e uma sabedoria que os meteorologistas não dominam, mas poetas sim. Seu verso despretensioso "gotejava o inverno" identificou-me com sua inspiração, revelou-me a naturalidade do seu estro e afirmou-se (só para mim) como algo ainda mais instrutivo — e certamente mais sentimental — do que as mãos, a noite e o teclado de que você fala como quem ainda não sabe que talvez seja capaz de ensinar alguém a fazer, com a Poesia, o que Kant não se atrevia a fazer com a Filosofia. Como todo poeta legítimo, você, SF, tem um destino: emocionar e ensinar. Lusbell |
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Eliana Teixeira
Seu proposital e belíssimo poema "On line" remove o filtro de nossos olhos, ora fascinados, ora enfeitiçados, em frente à tela do computador. Quantos de nós já conversamos com pessoas do outro lado do mundo, enquanto aqui é noite fria e lá, escaldante sol dando trabalho ao ar-condicionado, quando há? Quem já não imaginou as mãos do outro digitando no teclado? Seriam as duas mãos? Seria só a direita, devagarinho? Seríamos exclusividade na frieza da Web?
— Saberia eu indagar agora sobre tuas mãos?
Era de noite:
gotejava o inverno e a repressão dos desejos percorria nossas mãos como se nunca soubessem, elas, as mãos, cada qual de si e da outra. Nossas mãos aflitas, nossos olhos
desatentos a elas, mas imaginando as mãos do lado de lá, nessa conversa
cibernética. E os olhos... guardariam alguma ternura? Seriam velados,
opacos? Vivos, penetrantes?
—Pois o que ensiná-las a mais, se as
ensinamos pouco?
Porque agora,
outra vez de noite, qwerty — é apenas a prosaica banda deste teclado — máquina, só máquina, só noite, qwerty — bato com os dez, melhor com os da esquerda, embora destro, bato — letra a letra — qwerty; E os sinais tácteis nos mostram, minuto a minuto,
mesmo sem olhar, que não podíamos olhar. Também não poderíamos nos
olhar, a não ser com os olhos do coração.
eu saberia
Noite!
Obrigada por essa lindeza! Eliana |
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Página inicial de Eliana Teixeira
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George Santos From: George Santos To: jornaldepoesia Sent: Sun, 12 Feb 2012 19:55:47 -0800 Subject: não sei
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