Hiirís Lassorian
Andrômeda
Notei que o lamento havia atingido o
meu espectro diante da figueira abandonada. Pedaços de mármores
caíram sobre as estrelas em ressonância com suas explosões. O céu
não brilhou, mas a espécie divertida dançava sobre os astros
ligeiros que percorriam indecisas rotas melancólicas a caminho da
imensidão. A qual lugar pretendiam chegar, nem o sol poderia saber.
Andrômeda permanecia calada em véu espesso, rodeado por borboletas
que choravam versos vibrantes em lágrimas de decadência. Só o desdém
era capaz de compenetrar os corpos, aliviá-los e inseri-los
novamente na ordem monótona com que estavam habituados a tecer o
epíteto de um mundo nostálgico à sombra de uma predileção ingrata.
Por sorte, não havíamos deslizado naqueles tapetes enfatuados de
espetáculos lúgubres, carregados de uma sintonia aterradora entre o
pico de uma pirâmide e o olho obscuro da terra.
Marionetes
A situação era realmente crítica.
Estavam suspensos no ar e amarrados pelos pés por cordas invisíveis,
cuja origem não se sabe de onde. Abaixo deles corriam rios de
dinheiro em todas as direções. Sentiam seu cheiro e o desejo de
pegá-los tão logo pudessem alcançá-los. Os esforços eram demasiados
e torturantes, mas todos, sem exceção, não perdiam tempo em
devaneios insólitos e logo se lançavam na captura da nota tão
sonhada. Assim que conseguiam pegar algumas ou um monte delas,
ficavam satisfeitíssimos, mas, em seguida, se entristeciam
repentinamente, porque o desejo e o prazer de tê-las nas mãos
findavam rapidamente. Olhavam uns para os outros cabisbaixos, e até
ofereciam de graça as notas recolhidas com muito sacrifício ao seu
semelhante, mas, infelizmente, elas eram recusadas uma a uma, sem
apelos ou demais delongas. Todos queriam sentir o mesmo desejo e o
mesmo prazer de poder pegá-las na hora e no momento que lhes fosse
conveniente. Era uma sina, aliada a um desejo obsessivo que não
podiam renunciar se quisessem se manter felizes e predispostos aos
inúmeros encontros com um de seus vícios mais requintados, pelo
menos para aquela dimensão em que viviam, sem saber porque e para
que. Infelizes uns com os outros pelas recusas que se somavam aos
oferecimentos contínuos, voltavam às costas insatisfeitos e jogavam
outra vez as notas nos rios de dinheiro só para terem o prazer de
pegá-las novamente.
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