quero provar os espelhos
as faces mortas
as traças do homicídio
o peixe do medo
e o pingo de água
julinho, todas as noites,
uivava para a lua
e não era um cão,
era um menino
esquilos sobem as escadas
do sobrado
lá mora um homem
o sol açoita os
loucos
e os canibais sem pupilas
que povoam meus lençóis
e eu penso
que gostaria de mover
o braço sobre a mesa
e dizer qualquer coisa
de angélicas e cravos
e amor
e outras coisas mais
não dá
quero provar os espelhos
estes que incendeiam
minhas noites
quero provar as minhas
mãos
estas que recolhem os
mortos às quartas-feiras
quero provar o movimento
de meus pés
estes que pisam selvas
distantes
julinho uivava todas as
noites para a lua
e não era um cão
— era um menino
já é tarde,
já é tarde — a lasanha esfria
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