Ivaldo Ribeiro Filho
Vermelho
para Soares Feitosa e
Marcelo Magalhães
Papai ganhou carneiro. O pôs no
quintal, onde ficou a dar marradas, enorme. Largamos as subidas na
goiabeira, minha irmã e eu. Não saíamos do quintal.
Nutríamos sentimento pelo carneiro,
apesar do perigo. Um dia, descobrimos que, na verdade, era ovelha. O
vendedor de ovos, quem disse. Grande, perigosa ovelha atacava
meninos à tarde.
Papai estava cansado. Não fizéssemos
os deveres, não comêssemos como deveríamos, a mataria. Papai era
louco que cumpria promessas à risca. No entanto, não estudamos.
A pensar no quintal, chegamos da
escola e não encontramos a ovelha. A busca e ovelha na lateral da
casa, pendurada nos galhos, com o ventre aberto - assassinada. Dois
filhotes que iriam nascer, pelo chão, cobertos por placenta.
Vermelho.
Minha irmã fechou os olhos. Deu as
costas. Chorou. Retornou ao quintal. De ovelha cozida. Assada. Nem
quis saber por anos.
Homenzinho - continuei por lá. Assisti
cada retalho. Cada sangria. Como carneirinho órfão. Nunca nascido.
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