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JÚLIO Dias DE QUEIROZ nasceu na cidade de Alegre, Espírito Santo, em fevereiro de 1926 e após estudos iniciais realizados na cidade do Rio de Janeiro e Porto Alegre, diplomou-se em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica. Aperfeiçoou seus conhecimentos na Universidade de Munique, Alemanha e no Real Instituto de Administração em Londres, Inglaterra. Em 1949 resolve dedicar-se à vida monástica entrando no noviciado da Ordem Cisterciense do Brasil, em Itaporanga, SP. Dedica-se à vida religiosa durante boa parte de sua vida. Mais tarde, renunciando aos votos, dá-se aos estudos de filosofia em Bonn e Munique onde escreve tese sobre “Aspectos Estéticos da Mística Católica Medieval Alemã”. Volta ao Brasil. A partir de 1959 radica-se na futura capital onde presta serviços como assessor da Presidência da NOVACAP, encarregada da recepção aos convidados estrangeiros da Presidência da República. Trabalha também como diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Recreação da Prefeitura do Distrito Federal, prestando ainda serviços como coordenador do Centro de Treinamento do Ministério da Fazenda do Rio de Janeiro. É mais tarde, assessor do governo do Estado de Santa Catarina como elaborador de textos do governador Colombo Machado Salles. Nesses intervalos, como bolsista, cursa técnicas de treinamento e administração pública no Real Instituto de Administração Pública da Inglaterra e Fundação Alexander von Humboldt em Berlim Ocidental. Em Santa Catarina, torna-se colaborador efetivo durante muitos anos dos principais jornais do Estado. Seus trabalhos literários acabam por conduzi—lo à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a cadeira número 10. É reconhecido hoje como um dos melhores contistas e poetas brasileiros. Livros de contos, entre outros, tem publicados, “UMAS PASSAGEIRAS, OUTRAS CRÔNICAS”, “ANTOLOGIA DO VARAL LITERÁRIO”, ‘CAMBADA DE MENTIROSO”, “A CIDADE AMADA”, “ESTE AMOR CATARINA”, “AS PERMUTAS E OUTROS CONTOS”. Tem uma novela, “PLACIDIN E OS MONGES. Mas o seu maior destaque é a poesia. Dentre seus melhores livros, conhecem-se “HAMLET, OS CONVIDADOS À TRAMA”, “BREVE ARO”, “INFORMES A NARCISO”, “BAÚ DE MASCATE”, “ENCONTROS EM TEMPO DE PESTE”, e “VOCABULÁRIO INICIAL DO INFANTE”. No prelo, aguardando publicação pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina, “SEMENTES DO TEMPO”, contendo um grupo de poemas concatenados, entre os quais, “Missa para os Tempos de Agora”, “A Dança da morte”. “Simetria Quadrada” e “Kama Sutra da Amizade”. JÚLIO DE QUEIROZ vive hoje em Florianópolis, na Ilha de Santa Catarina, onde exerce atividade literária além de professor de filosofia e conferencista. O jornalista e médico Osmard Andrade Faria selecionou, [dezembro de 1999] dentre os trabalhos de seus livros e alguns outros avulsos, a seqüência de poemas que Jornal de Poesia inclui nesta coleção.
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Livro “ENCONTROS EM TEMPO DE PESTE” I – LÚCIFER
Então, Deus, são estas tua imagem e semelhança... Por elas varreste-me de teus
céus, que minha luz esfuziava.
Eu, Lúcifer, hei de
compor um vírus, uma anti-vida
Que o amor que lhes deste
seja a porta
É nela, ferida, que te ferirei. Porque te amo ainda.
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II – O VÍRUS Que prisão é esta que cerceia a cadeia em que latejo? Por que o frio desta caixa
branca que me ronrona algemas
Quando chegará a esta
casa só de leitos
Quero a extensão de
suas veias; suas células hospedeiras,
ferindo lá onde é
maior a impotência
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III – AVENTUREIROS Quando, no bar indiferente
e escurecido,
Só olhares:
De um deles, no bolso, a
sentença prolatada
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IV – O CONQUISTADOR Na gentil insolência
do corpo jovem,
Forte, belo e audacioso,
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V – A TENTAÇÃO O corpo, eucalipto jovem,
Que de horizontes! Que de
mundos!
Entre ambos levantou-se a
sombra emagrecida
A água que lavou os
olhos
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VI – O ENGANO Na exuberância do corpo
jovem e generoso,
Do Apolo travestido recebeu
o vírus, feto indesejado,
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VII – O DROGADO Sexo? Sem qualquer importância
Vida? A não ser para
o pico
Só há dois
lados: o dos que passam, indiferentes ao paraíso solitário
Na gotícula tremeluzente
na ponta da agulha,
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VIII – O RECÉM-NASCIDO Com que estranhas poções me alimentaste. Ainda em teu ventre, junto
com a vida de teu sangue,
Não terei tempo para
aprender a chamar-te mãe,
Deste-me vida já amortalhada. Os brinquedos, os sorrisos,
os afagos,
Terei, mais uma vez, que
passar pelo nada escuro
Que horrores acumulamos juntos,
no passado,
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IX – O CIENTISTA Tão simples. Inevitável solução
elegante,
Na proveta da vida, precisou-se
de tanta angústia,
Enfim, brilhaste na pipeta,
Vai, agora, e liberta o amor das cadeias da morte! Eu? Vou dormir.
Lúcifer, meu reflexo
bem amado,
Deixa o ódio que te
divide; a eternidade é uma.
Não me fales de amor; ama-me apenas. Teu vírus continuará
vivo; nada morre.
Essas criaturas-promessas,
que desprezas,
O banquete está pronto:
Filho, sê pródigo.
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X – DEUS
Lúcifer, meu reflexo
bem amado,
Deixa o ódio que te
divide; a eternidade é uma.
Não me fales de amor; ama-me apenas. Teu vírus continuará
vivo; nada morre.
Essas criaturas-promessas,
que desprezas,
O banquete está pronto:
Filho, sê pródigo.
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