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Frederico Barbosa


 

Pior do que a morte
para JC



O pior é que dizem: rezou.


Ele que sempre foi contra,
do contra, ateu,
agora que zerou,
creu?


Ele que sabia que a vida é coisa
de sempre não.
Sem fórmulas fáceis,
nem saídas para a dor
de cabeça
de pensar
de ser sem crer.


Ele que sabia que não há aspirina
contra o bolor.


Logo dirão que se inspirou,
e compôs de improviso
um soneto vendido,
dos que sempre enfrentou.
Dirão ainda que se converteu
e defendeu a vida devota,
a pacificação bovina,
a prédica dos pastores.


( Verbo e verba:
pragas velhas. )


E que se arrependeu do pecado
de ser exato, claro e enjoado.


Vida, te escrevo merda.
Às vezes fezes, mas sempre merda.
Fingida flor, feliz cogumelo,
caga e mela.
Sempre severa e cega
merda.


Triste é depender
de relatos carolas,
acadêmicos, cartolas.


Triste é depender
da leitura alheia,
fáceis falácias: farsas.


Triste é depender
dos olhos dos outros,
de voz de falsas sereias.


Triste é não poder mais
se defender.


Mas
um aqui, João,
incerto, grita
e insiste em não crer
na sua crença repentina,
que a morte (sua) desminta a obra (sua) vida.


Um aqui, João,
o tem por certo:
é mais díficil o não
crer, não
ceder, não
descer, não
conceder. Não.


Não, não orou.


Frederico Barbosa
10/10/99
 

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08.11.2004