A LUZ SEM FIM DA POESIA DE RUBENIO MARCELO

 
                                                                                por:
José Pedro Frazão *


            O estado etéreo da poesia de Rubenio Marcelo nos mostra que esta arte não é apenas a luz da estética, a claridade do inexplicável, o brilho do indizível, ou o encanto da emotividade. Afinal, a poesia não é produto de sentimentos, mas uma fonte geradora dos mesmos. E por ser protagonista de sua própria imortalidade, a verdadeira poesia é infinita e transcendental. Assim, com antecedentes viagens por outras obras do referido autor, comprovamos que a infinitude poética se confirma em cada verso, filosoficamente criado, como um fio de sensações cósmicas interligando astros e nos conduzindo ao misterioso princípio/fim da existência. Isso se revela novamente quando desvendamos o fenômeno das intuições e do fantástico místico incorporado no seu novo livro: “VIAS DO INFINITO SER” (Ed. Letra Livre).

A poesia, como labor e arte, essência transcendental da criação humana, tem o seu estágio divinal ao alcance apenas dos poetas ungidos pelo espírito da palavra. Neste caso, a inspiração passa a ser mero propulsor do EU poético - o sujeito lírico que se desenvolve no conhecimento do artista fertilizado pela profundeza espiritual e não mais pela mão que elabora poemas. 

Este mais recente livro de Rubenio Marcelo traz consistente apresentação de Paulo Nolasco e prefácio do professor e crítico literário José Fernandes, que assim afirma, com sabedoria: “O livro ‘Vias do Infinito Ser’ se compõe de uma poesia profunda, marcada por forte dimensão metafísica, como o requer a concepção de infinito a que o ser tem de conquistar durante a existência. Para isso, como fica bem claro pela estrutura dos poemas, o jogo poético, tal como o existencial, se executa entre o finito, o concreto, o físico, e o essencial, abstrato, metafísico, infinito. Em decorrência, a leitura de cada poema não pode ser feita em uma sentada, mas sorvida mediante várias leituras, a fim de que se possa mergulhar na essência mesma da poesia e no sublime que ela encerra. A viagem pelo poema, deste modo, assemelha-se à viagem do ser em busca do infinito. Tem de ser executada passo a passo, porque nunca se lê um poema uma única vez”.

Portanto, a poesia de Rubenio, nesta fase mais semântico/espiritualizada, tem essa luminosidade, como bem resplandece no seu poema “Sur/presa e Luz”: “há uma luz que gira / num giro geral / em meditação.../ não é girassol nem é sol que gira na luz da razão / é em algum lugar / o luzir do olhar de um camaleão... / – ou é a visão de um poeta / ante o quadro de luz / da sua solidão... / [à luz da poesia / tudo vem à luz]”. 

E assim, como um clarão contínuo do fogo da arte literária, essa luz sem fim da poesia infinita de Rubenio Marcelo se reapresenta a nós com todo o seu misterioso e belo princípio.

 

* J. P. Frazão é escritor e jornalista, membro da ASL.

 

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