Leila Míccolis
Espeleopoesia
Germano Lima não é poeta de muitas palavras, mas de grandes
metáforas. Esta exuberância está presente em Estalactites do
Silêncio, em que o autor utiliza a concisão das palavras para tecer
um sutil mas eloqüente contraponto com o transbordamento emocional
humano implodido, defendido, reprimido, calado, soterrado:
“As estalactites do silêncio
vazio incêndio” |
Não se trata, porém, de um livro cujo tema principal seja o amor, e
sim a angústia vivencial, retratada sob diversos ângulos e
abrangendo a vida em sua plenitude, através do corpo, da solidão e
da morte do ser humano, exilado de seus sonhos,
Como se fosse três atos de uma peça dramática, única. Em “Corpo”,
sentimos a exata estimativa da distância, por vezes abissal, que
separa a pele dos seus desejos, transformando pessoas em trapos,
facilmente esgarçáveis:
“Corpos molhados
dependurados na solidão
do tempo” |
Em “Solidão”, nos enredamos nas teias tecidas em forma de passado ou
então de alguma atitude transgressora que ameaça os padrões de
comportamento tradicional, isolando seu infrator rebelde em uma vida
alheia à desejada:
“...segue a veia
na contramão” |
Em “Morte”, nos estarrecemos com o impacto da ausência, da ruptura,
do extinguir de todas as centelhas que possam lembrar ou reavivar as
chamas do fogo sagrado, roubado dos deuses para os homens:
E, em "Pós-escritos", nos enveredamos pela própria arte de fazer
poesia, como aliada do ser humano em busca de sua lucidez, de seu
redescobrimento interior, em prol de uma existência menos esvaziada
de seus propósitos maiores.
Em todos os momentos, porém, fortemente nos ligamos ao complexo
universo dos sentimentos humanos, por onde passa toda e qualquer
verdadeira revolução; cada um de nós não é uma ilha, localizada e
exposta, mas uma gruta — como nos tempos imemoriais — subterrânea,
profunda, secreta. Podemos adentrar pelo seu silêncio através ou de
uma meditação reflexiva, ou de uma fuga delirante, ou de uma omissão
acomodada, nos tornando, neste caso, cúmplices das impunidades do
mundo. Estalactites do Silêncio nos leva a encarar este crucial
impasse, espécie de desafio: ou deciframos nossos desenhos rupestres
— escrita de símbolos — ou detonamos nossas camadas emocionais,
vivendo apenas na superfície, ignorando a riqueza de nossos subsolos
e de nossas jazidas. Em síntese, é uma escolha entre a negação e a
busca; entre a estagnação e a poesia.
Leia a obra de Germano Rocha
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