REPERCUSSÃO 
Uma língua
é o lugar
donde se vê
o mundo
Vergílio Ferreira
Vozes 
Poéticas da 
Lusofonia 
Na minha língua... 
cada verso é uma 
outra geografia. 
Manuel Alegre
 
 
VOZES POÉTICAS DA LUSOFONIA  
Edição: Câmara Municipal de Sintra 
                     Presidente: Dra. Edite Estrela 
Organização: Instituto Camões  
Coordenação: Alice Brás  
                     Armandina Maia  
Seleção de textos: Luís Carlos Patraquim  
Capa: LPM — Idéias e Acções  
Realização gráfica: Gráfica Europam, Ltda.  
Mem Martins – Portugal  
Depósito legal: 138134/99  
Maio, 1999 
Patrocinada pela 
CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS
 
 
 
REPERCUSSÃO
A TARDE - Salvador, Bahia, Brasil, 01.08.1999
               
 
Festa da lusofonia 
 
 
     Lançado em Portugal pelo Instituto Camões, livro reúne poetas de países de língua portuguesa. Treze brasileiros, incluindo dois baianos, figuram na edição. 

    O Instituto Camões, uma das entidades culturais mais respeitadas de Portugal e do planeta, está mais próxima do Brasil do que nunca. Recentemente, através de uma parceria com a Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia e o Gabinete Português de Leitura, foram realizados espetáculos e exposições de artes plásticas integrando os dois países. Agora, o instituto lança Vozes Poéticas da Lusofonia, uma antologia que reúne poetas que escrevem em português, incluindo dois baianos, Ruy Espinheira Filho e Luís Antonio Cajazeira Ramos, no capítulo dedicado ao nosso País. 

    Os próprios autores convidados lamentam a falta deste ou daquele nome na antologia. Mas as seleções literárias costumam pecar pela exclusão (e, muitas vezes, o que é mais lamentável ainda, pela inclusão). Neste caso, há a ausência de vários nomes que seriam representativos, e dignos de figurar na edição, como Ferreira Gullar ou Manoel de Barros, além de baianos como Myriam Fraga e Florisvaldo Mattos. Apesar disso, um dos grandes méritos deste trabalho é apresentar autores vivos e contemporâneos, como Alexei Bueno (verdadeiro dínamo da poesia brasileira) e Arnaldo Antunes, com seu concretismo à meia-prosa. 

    O trabalho, coordenado por Luís Carlos Patraquim, foi lançado em Portugal com o devido estardalhaço na cidade de Sintra, mas em Salvador só poderá ser comprado em livrarias que trabalham com importação de livros. Os autores baianos incluídos na edição pensam em encaminhar uma proposta de lançamento ao Gabinete Português de Leitura, com a presença indispensável de Patraquin. “Salvador é a capital d’além mar de Portugal”, observa o poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos, um dos selecionados e proponentes. 

    Vale lembrar que este livro acaba sendo quase uma troca de gentilezas literárias entre os dois países, já que a brasileira Lacerda Editores lançou uma Antologia da Poesia Portuguesa, com coordenação de Alberto da Costa e Silva e Alexei Bueno. Critérios e amabilidades poéticas a parte, o trabalho é interessante pelo leque de estilos e talentos que apresenta. Versos que ora surpreendem pela qualidade, ora pela simplicidade, mas que integram os povos lusófonos no exercício pleno e no ofício digno da verdadeira poesia.


Kátia Borges
 
Trechos 
 
“E quem mais que nós 
despiu assim a noite de todas as estrelas 
com uma só estrela desfraldar? 
Quem mais que nós 
saboreou assim diferente 
tantas diferentes maneiras de chorar?” 
(Manuel Rui, Angola) 
 
            “Adormeço 
            Na luz 
            dos teus olhos 
            vejo Veneza 
            que não conheço” 
            (Tony Tcheka, Guiné-Bissau)
“Palavras que muito amei 
que talvez ame ainda. 
Elas são a casa, o sal da língua” 
(Eugénio de Andrade, Portugal) 
    “As nuvens estão densas de ti
    sustentam a tua ausência
    recusam o ocaso do teu corpo
    mas não és”
    (Conceição Lima, São Tomé e Príncipe)
 
     
 
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