Olimpio C. Neves
Nasceu em Luanda
a 16/05/1953,
onde viveu até 1981.
Reside actualmente em Lisboa
olimpionevescro@mail.telepac.pt
ELEGIA DE TODAS AS MÃES
"Recado a todos os filhos"
"Para
a Festa de Natal de 1997
da
Casa de Repouso das Olarias"
Temos aqui nesta sala
Pessoas bem desiguais
Há os altos, há os baixos...
Há os gordos, há os magros...
Os faladores, os calados...
E há até quem se sinta,
Mais importante que os pais.
Que todos somos diferentes,
Penso que ninguém duvida,
Apesar dessas diferenças
Não devemos esquecer,
Que todos somos iguais,
Em dois momentos da vida.
Quando somos pequeninos,
Uma Mãe ou uma Avó,
Cuida de nós com carinho.
Perdendo horas de sono,
Cuidando de nós bébes,
Limpando nosso rabinho.
Enquanto somos bebés,
O relógio biológico,
Que Deus em nós instalou,
Está sempre desregulado,
Nunca diz a hora igual,
Aos relógios que a Mãe comprou.
Quando o relógio da sala.
Diz à Mãe para descansar.
O relógio biológico,
Diz, são horas de mamar
Quando o relógio da cozinha,
Diz á Mãe para comer.
O relógio biológico,
Diz, para a barriguinha doer
Quando o relógio do quarto,
Diz á Mãe para dormir.
O relógio biológico,
Diz, para o cocozinho vir.
Quando o relógio de pulso,
Diz que tudo está normal.
O relógio biológico,
Desperta uma diarréia,
E lá vai a Mãe correndo.
Com o menino para o hospital.
Quando chega,
Lava roupa,
Passa roupa,
Limpa toda a porcaria.
Limpa mesa,
Limpa chão,
Limpa cáca todo o dia.
Esta é a vida das Mães,
Durante anos e anos.
Porque não somos só nós,
São também os nossos manos.
Os meninos vão crescendo,
Uns doutores, outros pedreiros,
Empresários e domésticas,
Vendedores e engenheiros.
Os anos lá vão passando
E nas suas profissões,
Todos se vão envolvendo.
Esquecendo - se que as Mães,
Que tanto por eles fizeram, sós...
Lá vão envelhecendo.
Para os meninos crescidos,
Que não se lembram da Mãe,
Gostaria de lembrar,
Que a Mãe, já foi em tempos
Uma menina também.
Para aqueles que não se lembram,
Que a Mãe já está velhinha,
Gostaria de lembrar,
Que a alta velocidade,
Para esse momento da vida,
A gente para lá caminha.
Olimpio C. Neves - Lisboa, 20/12/97
O FADO É "BARIL"
Que
importa saber se dança,
Triste, de
escravos de outrora,
Deu ou não,
a vida ao Fado,
Que aqui
se canta agora.
Que importa
saber se o Fado,
Que grande
saudade encerra,
Foi por marujos
cantado,
Quando de
regresso à terra,
Que importa
saber se o Fado,
Que foi "baixo"
e "réles" um dia,
Foi pelo
Conde levado,
Da taberna
à fidalguia
O que importa,
é que o Fado.
É
um símbolo nacional.
Temos que
o levar aos jovens,
Que são
o futuro afinal.
Jovens, só
porque o Fado é velho,
E tem muito,de
gingão e de vádio,
Não
pensem que é "foleiro"
É
um pouco a vida vivida
De Severa
e Marceneiro
Tantos jovens
cantam fado,
De Coimbra
ou de Lisboa,
Venham jovens,
ouvir Fado,
Porque o
Fado é coisa boa.
Jovens, levem-no
para as docas,
Dos Olivais
a Belém,
Tomem um
copo nos Pub's,
Mas cantem
Fado também.
O trinar duma
guitarra,
Dá
ao Fado encantos mil,
Venham jovens
ouvir Fado,
Porque é
vosso e é "Baril".
Orgulhem-se
porque o Fado,
Não
se canta em Inglês.
Em qualquer
parte do mundo,
É
cantado em Português.
Jovens oiçam
Fado não importa,
Se Vitória,
Dois Tons, Corrido.
Se Menor
ou Mouraria.
Importante
é que não deixem
O Fado morrer
um dia.
Olimpio C. Neves, Lisboa, 11/05/98
"FADO DE LÁ"
"Para a minha
amiga Paula Ribas"
Em Luanda
Fez-se silêncio
na Ilha.
Deleitada
e quase nua, Minha Amiga.
Junto à
praia, ouvia o mar...
Era tão
grande,
A saudade
de Lisboa.
Que pela
noite fora, um fado,
A Luanda
fez e quiz cantar.
Olhou Luanda,
Da ilha...
viu a Madragoa.
E com seu
fado entre, Sembas e Rebitas
Lá
foi matando as saudades de Lisboa.
Olhou Luanda,
Da Ilha...
viu Alfama.
E cantou
fado, pelas vielas
E tabernas,
da Mutamba.
Na baía
Viu Cacilheiros
e Canoas...
No vento
ameno, sons
De Quissanjes
e Violas.
Na marginal
Viu Varinas
e Quitandeiras...
Nos seus
pregões gemidos,
De Marimbas
e Guitarras,
No Marulhar
Das ondas
a peixeira.
Que manhâ
cedo vende peixe.
E encanta
com seu fado a Ribeira.
Na Fortaleza
Viu Marialvas
e Calcinhas
Que sem receios,
tocam seios
Das mais
tímidas e lindas menininhas,
Passeando
por Luanda,
À
noite, a passos curtos,
Nos meninos
da rua
Abandonados,
viu os putos
Nos panos
das bessanganas,
Que encontrou
na Vila Alice.
Viu chailes
negros das fadistas,
Sentiu saudades,
de Lisboa e fadistice.
De madrugada,
olhou Luanda,
Da ilha...
e viu a Mouraria.
Viu seu fado
aplaudido pelas, copas
Dos coqueiros
que abraçam a Baía.
Olimpio C. Neves - Lisboa, 15/03/97
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