Álvaro Pecheco, vitorioso, prosador exato, repórter seguro
e intenso, admirável editor de primorosas revistas, homem
de empresa atento aos seus deveres e empenhado na sua tarefa, quem adivinharia
essa dimensão profunda?
A poesia de Álvaro Pacheco já se libertou na fase que neste
livro se espelha, do evocativo regional e da emoção fácil.
Sete anos depois de "Os Instantes e os Gestos", já encontrou seu
ritmo próprio. … ainda bem visível nele a influência
de Drummond e outros mestres amados de sua geração, mas já
se afirma nítida a segurança com que conserva a claridade
dentro do mistério. … essa presença, o segredo da verdadeira
poesia
O livro, como disse, é todo bom. Não foi tarefa
fácil escolher um poema do "Pasto da Solidão", para mostrar
ao leitor. Depois de muitas apreciações entre uns e
outros, escolhi estes versos, não por serem os melhores mas
por se harmonizarem mais com o meu estado de espírito no momento.
Você sabe que vai morrer? Mais hoje, mais amanhã/
(Será ontem para todos esse dia de você partir)./ A
música, o livro, as mulheres,/ tudo que você amou,/ mais hoje,
mais amanhã,/ (Você sabe que vão morrer),/// Serão
hoje para todos/ tantas coisas que você deixar.// Mas será
amanhã para seu filho tudo que você sonha e não fez.
E estes:
"Pressinto e me acolho/ e me lanço sem ver nesse puro cansaço./
Não É apenas solidão, um certo desespero/ uma
vontade infinita de não sei o quÍ,/ uma fome fundamental
de sonhos e sorrisos/ que se diz e se dá nas ternuras imensas./
Não É apenas solidão, uma certa nostalgia,/ um vazio
incerto germinante a semente/ do que não se imagina, de melancolia,/
de vontade de morrer, da vidas sem sintaxe.// E de uma vontade de
ir, sem deixar rastro.
E mais estes, por fim, chamados "Pesquisa":
"Um homem-perda/ um homem-morte/ um homem- queda/ um homem -só./Sem
se quedar?// Mas descobrir/ onde É que está/ como É
que vive/ e quanto vale/ um homem-vida. |