Odylo Costa, filho
Ilhéu
Nasci numa ilha.
Era meu destino.
Numa ilha vivo
desde pequenino,
a estender os braços
pelo mundo todo
em busca de traços
que à terra me liguem.
Quero o continente!
Não me deixem só,
não me quero ausente.
Ninguém me compreende
esta busca ansiosa:
tenho o mar comigo,
quero ainda a rosa.
Joguem fora a âncora!
Pois o amor que achei,
meu anel de amigos
e a casa do rei
trazem sede e fome
de mais terra e céu.
Por Deus compreendam
quanto sou ilhéu!
Careço de afetos
em roda de mim.
Foi sorte ou desgraça,
numa ilha vim.
Tempo de enxurrada
nessa ilha nasci,
como a água que corre
sou daqui, dali.
Por Deus me acarinhem
que nasci na ilha,
num mês de enxurrada,
mês de água andarilha,
sobrados e terra
porém terra pouca,
lavado azulejo
sob uma água rouca.
Meu amor me abraça
porque sou ilhéu
ando só — na areia
entre águas e céu.
Publicado: Boca da noite, 1979
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