Vida e luz nos versos de Rubenio Marcelo

em

‘Vias do Infinito Ser’

 

                                                                    por: Olga Maria Castrillon Mendes*

 Não vou precisar a essência vital em que repousa a poética de Rubenio Marcelo: se na sonoridade e nos fundamentos rítmicos, próprios do espírito musical de que é forjado, ou nas unidades expressivas de composição linguística, que modalizam a atividade criadora da palavra, cujos mecanismos o poeta domina com precisão. Ficarei, limitada pela síntese desta apreciação, com a atividade criadora que veleja em espumas nebulosas, fecundada por versos polinizados pela influência do calor do sol, da aspereza das pedras, do jogo de embaçados espelhos. Nesse espaço se dá o excepcional acesso ao mundo em que a eficácia expressiva se reveste de caráter, muitas vezes, epifânicos.

   Desde obras anteriores, como por exemplo os talentosos sonetos de Voo de Polens (2012), passando pela criteriosa seleção de Veleiros da Essência (2014) e, agora destes versos inéditos (de ‘Vias do Infinito Ser’), a poesia de Rubenio é arrebentação. Sofregamente, as palavras surfam o interior do ser, ora graciosas, ora rompendo (rasgando) versos, metáforas ousadas e imagens sem cuidados lógicos que ficam “entre a cruz e a encruzilhada da palavra”, lugar em que “um poema dá sinal de vida”. O que em outras ciências é inaceitável, na poesia viceja como solução do aparente paradoxo. A busca do ser “sem a ordem do dia/do sobrenatural”, sublima a forma e penetra na substância. Volta-se para o fenômeno da criação (Poietica) que o poeta busca incessantemente.

   A palavra é a senha para os mistérios, ou o punhal com que põe à mostra o imperceptível das coisas e dos acontecimentos, como registra. Tudo isso perpassado por um olhar “diante o quadro de luz da sua solidão”, ou da força do jogo entre os anjos e demônios da criação de que fala Paul Valèry.

O poeta Rubenio Marcelo, pelas vias do diverso, exercita a liberdade de ser (e de fazer). Alça voos, sorvendo polens e aplumando velas. O resultado? Um leitor que se (re)vela em outra margem, do incomum, do sobrenatural e do invisível.

 

*É Professora de Literatura na UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso) e Doutora em Teoria e História Literária. Membro da Academia Mato-Grossense de Letras.

 

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