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Responsável:
Soares Feitosa Endereço |
Biografia e entrevistas |
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O Brasil é um país de poetas. "A dor ensina a gemer".,
diz um adágio; "Quem canta, seus males espanta", assegura outro.
Talvez, por isso, tantos cantem nesta Pindorama. Na proporção
dos cantores existentes, porém, os verdadeiros criadores literários
são poucos. A maior parte é de subliteratos, mesmo.
A felicidade com que Floriano Martins transita entre o poema
em versos e o poema em prosa é meridiana, embora sua obra reflita
o espírito da escrita automática, natural do surrealismo.
entretanto, esse fazer poético, que sói soar truncado nos
epígonos, escoa e ecoa límpido no poeta cearense. E essa
clareza transparece nas passagens em verso ou prosa. Nas primeiras, ao
aproximar-se bastante da métrica tradicional, dá uma unidade
rítmica aos poemas mantendo uma certa liberdade já consolidada
no poema do século XX. Na prosa poética chega-se ao verso
verdadeiramente livre, fugindo à aridez de muitos que tentaram esse
caminho da arte poética.
Veja a estrofe do poeta: O homem é a metade de seu canto, a metade
É assim que (ed. Cit., p. 37), definindo o homem, o poeta
define o próprio poema. "O homem é a metade de seu canto…",
a metade do poema. em outra passagem, agora em prosa, sentencia: " O poema
é como um lagarto voraz em busca de seu enigma verde. Não
canto a ninguém. Dissolvo-me para que me alcance. Morra o homem
de solidão, até ser o poeta de si mesmo." (p. 51)
O homem é o próprio lagarto, é um animal
muito antigo que somente se conhece através do poema, daquela supra-realidade
de que falou alhures Fidelino de Figueiredo.
Uma leitura apressada dos poetas pertencentes à família
literária de Floriano Martins pode ser enganosa; pode revelar metade
do homem, o lagarto, esquecendo sua voracidade em busca do enigma verde,
enigma que pode ocultar-se sob diversas formas. Duas delas estão
no exotismo dos nomes orientais (já usado pelos simbolistas) ou
na recorrência às mitologias e, mais especificamente, às
constantes referências a outros poetas. Neles o lagarto vai saciar-se
de verde, o verde/verde vida/ que a vegetação poética
põe à disposição do homem para saciar sua fome
de supra-realidade, sua ancestral necessidade de céu, estrelas,
divindades. Isso se realiza com a morte do homem de solidão e o
nascimento do poeta de si mesmo.
Ora, esse supra-realismo (sur + réalisme) surge - até mesmo historicamente - como uma negação da torre de marfim simbolista. O símbolo, extirpada a barriga famélica, é a metade audível do canto. É o corpo, o poema. A saciedade, esta sim, é a poesia. Daí as limitações da (talvez pretensa) cientificidade crítica para entender essa poesia, traduzi-la à linguagem não-literária pode revelar-se impossível. O acertado pode ser reescrevê-la, romper com a escritura crítica tradicional. Quando assim se procede vê-se que Floriano Martins, ao contrário da maioria dos nossos comentadores de versos, consegue unir as duas metades de que ele tanto fala em seus poemas. E em o conseguindo apresenta-se como um verdadeiro poeta, um criador literário pleno, como poucos de sua geração. |
[Jornal O Nacional, Passo
Fundo, RS,
30.11.2000] |
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