Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

Pedro Nava


 

Aterrissage


Um risco nos íngremes
e queda vertical de reticência de sóis.
 


Brilhos mica,
facetas duras,
multiplicando a paisagem
como os olhos simultâneos de um inseto
 


Tropicão, trambolhão
                      salto
                        pulo
                         rodopio
e a bola, espirala, resvala, rebola,
                        encarola,
                       desenrola
 


e de novo
reta como uma bola,
 


           rola...
 


ROLA
e voa e vai varando vertiginosa o vácuo vago
e assoviiiia fino no espaço oco...
 


UMA PEDRA ROLOU PELA ENCOSTA DA MONTANHA.


In: Pasta 72: Arquivo de Mário de Andrade. Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP
 

 

 

Tiziano, Mulher ao espelho

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Herodias by Paul Delaroche (French, 1797 - 1856)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Pedro Nava


 

Educação sentimental

 

Para Alberto Deodato



Mariquita fechou o Escrich
e teve vontade dum espanhol
com seu punhal
para matá-la...


In: Revista de antropofagia, São Paulo, ano 1, n.9
 

 

 

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Pedro Nava


 

Noite de São João

 

A Mário de Andrade



São João São João
 


o sol quebrando em mil pedaços
caiu na terra
 


mil fogueiras pondo na noite
chios
e chispas
fiáus
e rechinos
 


Noite de São Joões-balões
noite cheia de fogueiras
e vem-cá-bitus
 


Noite lanhada de fogo
noite cristã
como sacis unhando panças pretas
cachimbando na barriga dos balões
saltitando no fogo vivo dos tições
 


Noite de buscapé
(do buscapé-pé-PÉ
que corre tanto
e como tonto
volta
e vira
em viravoltas rentes raspando o chão)
 


e o vento agudo
 


e uma navalha zás-trás
recortando bandeiras em tiras
em faixas finas
serpentes serpentinas
 


(um novelo assanhado de serpentes
acorda nas fogueiras
e elas se espicham tesas
e suas línguas acesas
lambem as folhas frescas
largas langues das bananeiras)
 


São João São João
 


e o frio tão frio
que a própria lua nua tem frio
e devagar a vagarosa
escorrega pelos cipós
e se esgueira
na pontinha dos pés
— Psiu!
pra quentar na minha fogueira
 


São João São João


In: Pasta 72: Arquivo de Mário de Andrade. Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP
 

 

 

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Pedro Nava


 

Noturno de Chopin


Eu fico todo bestificado olhando a lua
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin
 


Tem uma voz gritando lá na rua:
Amendoim torrado
tá cabano tá no fim...
Coitado do Chopin! Tá acabando tá no fim...
 


Amor: a lua tá doce lá fora
o vento tá doce bulindo nas bananeiras
tá doce esse aroma das noites mineiras:
cheiro de gigilim manga-rosa jasmim.
 


Os olhos de você, amor...
 


O Chopin derretido tá maxixe
meloso
gostoso
(os olhos de você, amor...)
correndo que nem caldo
na calma da noite belo horizonte.


In: Pasta 72: Arquivo de Mário de Andrade. Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP
 

 

 

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Pedro Nava


 

Palíndromo do amigo

 

"Amor a Roma"
Afonso Arinos de Melo Franco



Amora, roma:
Amor a Roma.
Amor, aroma:
Amor a Roma.
 


1964


In: Bandeira, Manuel. Antologia de poetas brasileiros bissextos contemporâneos.
 

 

 

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