Apresentação do livro “Vias do Infinito Ser”

[livro de poemas de Rubenio Marcelo]

       por: Paulo Sérgio Nolasco dos Santos*

  

Rubenio Marcelo, já reconhecido como poeta, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, bem cedo radicou-se em Campo Grande, cidade morena, capital do Mato Grosso do Sul. É também um dos nomes mais expressivos dentre os escritores desse Estado. Particularmente devotado à construção poética, é a poesia o gênero literário que avulta na significativa produção do Autor.

Isto, não só vem confirmando um lugar de destaque na inter-relação entre a autobiografia e a obra do escritor, mas, sobretudo, como num amálgama, vem chamando a atenção hoje em dia para o ofício de mestre do verso que Rubenio Marcelo entretece em laboriosas criações de imagens poéticas, provocativas figuras metafóricas, dentro de uma estruturação estrófica de distinguida quadra formal, e em apurados  exercícios de sensibilidade. Tudo isto, diga-se sublinhando, vê-se espelhado sob o véu dos textos que integram o seu novo livro, intitulado Vias do infinito ser (Ed. Letra Livre), o qual tenho a honra de apresentar ao público-leitor, e, com devoção e apreço especiais, aos confrades literários.

Com efeito, alguns aspectos poéticos realçam características marcantes nos versos contidos na presente coletânea de poemas, que ora sai publicada: primeiro, um acentuado traço e sentido do artista criador, também se diria do cientista do verbo, seguido por uma visível indagação acerca das transcendências, salientando vigorosamente um halo de luz cujas projeções através de “vias”, que, ou se direcionam ao título da obra como um todo, ou à densidade temática que se pode perscrutar em deslindamento de cada poema, como, por exemplo, a busca da certeza do caminho certo e do templo da virtude.  Já desde a recorrência dos títulos de alguns poemas – De artificialidades e a essência do espontâneo; Transcendente fuga de desliberdade; Vias do infinito ser –, brotam os versos quase de uma “inquietante  estranheza” vinculando-se àquela tendência ao vário, ao errático, ao além, como na seguinte  estrofe  “do dia para a noite / palavras  saltam muralhas / e viram  estrelas... // instantes e  estrelas / conhecem os refúgios do tempo / mas  desentendem / a quietude das pedras / e a  saga dos pássaros translúcidos / do sétimo céu... ”.

E a nossa adjetivação tende ao prolongamento através da “epifania dos versos” e dos “navegantes da essência”, estabelecendo-se um interlúdio, uma pausa, onde não se lê apenas vacuidade de essência estética, mas, antes uma espécie de osmose entre palavra e sentido, em um signo único [Senha e punhal],  poético, irreversível, como nos versos-signos desse poema: “inda vem no prato / o sinal da partilha / do pão sem orvalho / sem a  senha / que  exclui / os não dignos do vinho...”, e  bem assim na  estrofe do  poema seguinte [Epifania dos versos]: “e trazem / dos incensos essenciais / a essência / que goteja e  se perpetua: / mirra que mira / o eterno”.  Enfim, esse elo de intermediação é resultante do leitmotiv que ata palavra e  sentido num paradigma poético, às vezes  só perceptível ao olhar bem atento, desnudado das comportas do eu,  como  noutros versos do poema [Enredo com/porta/mental]: “ante embaçados espelhos / abertos na rua estreita / um vulto / / ainda em tempo / de mover os olhos... /  – ainda em tempo / de não morrer sem luz”.

Em tudo e por tudo, esta mais nova publicação poética de Rubenio Marcelo – ‘Vias do infinito ser’ – vem engrandecer a fortuna crítica do escritor, além de sedimentar a robustecida produção literária contemporânea.

  

*Paulo Sérgio Nolasco dos Santos - Doutor em Literatura Comparada pela UFMG. Professor universitário de Literatura Comparada e Crítica Cultural; Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e da Academia Douradense de Letras.

 

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