Fabio Weintraub
Entrevista a Rodrigo
de Souza Leão
Nasceu em São Paulo,
SP, 24 de agosto de 1967. Psicólogo pela USP. Psicanalista. Mestrando
em Psicologia Social (USP). Desde 1990 integra o Cálamo, núcleo
de produção poética ligado à Casa Mário
de Andrade (Secretaria Estadual de Cultura). Publicou: Toda Mudez Será
Conquistada, SP, Massao Ohno, 1992. Em antologias do Cálamo: Lição
de Asa, SP, Iluminuras, 1993, e Vilaa Lira Rlca, SP, edição
dos
autores, 1995. Atualmente
ministra oficinas de literatura nas Casas de Cultura do município
de São Paulo. É editor da Nankin.
Rodrigo - Você é
um psicanalista que é poeta ou um poeta que é psicanalista?
Ou isto não tem a menor importância na sua obra?
Fábio Weintraub .:
Existem várias maneiras de não responder a esta pergunta.
A primeira dela consiste em observar que, nesse balaio de gatos que compõem
a ficção do eu, é muito difícil estabelecer
a função substantiva ou adjetiva de cada elemento. Elementos
que ocupam uma posição central em determinado contexto ou
circunstância podem desempenhar um papel subsidiário noutra
configuração. Por que a profissão (no meu caso, a
de psicanalista) seria mais importante na composição de minha
identidade que o fato de eu ser descendente de judeus poloneses; ou de
ter pé chato e aproximadamente três graus de miopia em cada
olho; ou de ter feito teatro dos quinze aos vinte e dois anos?
A segunda maneira consiste
em repartir a pergunta e verificar o caráter problemático
de cada subidentidade (a de psicanalista e a de poeta) anteriormente a
qualquer tentativa de intersecção. No caso do psicanalista,
pergunto-me: como é possível atribuir identidade a um profissional
cuja prática se dá no avesso das identificações,
como abertura ao inconsciente, às divisões e descentramentos
pelos quais o sujeito se aliena na linguagem? No caso do poeta, como passar
por detentor de uma potência cujo
controle me escapa? Ninguém
se sente poeta a não ser no momento em que está escrevendo.
Quando um poema acaba, nada garante que o poeta poderá repetir a
façanha, justamente porque ele é "um inventor de formas e
não de fórmulas"; como bem nos ensina Octavio Paz. Por detrás
do estilo, não há técnicas passíveis de replicação
e mesmo uma obra extensa, objeto de alguma fama, não é cama
onde o escritor possa deitar-se impunemente. Quanto à intersecção,
o que privilegiar? A continuidade do papel profissional ou a intensidade
da experiência estética?
Aporias à parte,
penso que a formação em psicologia e, mais especificamente,
a clínica psicanalítica — da qual estou, cumpre dizer, afastado
há uns três anos (atualmente
trabalho numa editora) —
tem certamente importância em minha obra. Sobretudo no que se refere
ao tipo de escuta para o qual a psicanálise nos predispõe,
a "atenção flutuante" dirigida aos lapsos e repetições,
às dissonâncias sob a superfície calma do discurso
(e que também opera nas trapaças poéticas contra os
automatismos da linguagem). Além disso, reconheço ainda em
meus poemas um interesse mais acentuado por certos "mecanismos" afetivos
e uma inclinação discreta, porém consistente, para
o campo das perversões.
Rodrigo - "Vendetta" é
um poema conciso. Dizer o máximo com o mínimo é o
paradigma da sua poesia, pelo menos em Sistema de Erros?
VENDETTA
cerro os olhos depois da
surra
o ódio rói
o erro varre o riso
da boca a mandíbula
apertada e dura
como uma virgem
cerro os olhos depois da
chuva
o trovão vara a raiva
raia a treva
das vértebras
a medula
desgovernada e cega
como um naufrágio
há gelos que o tempo
não funde
cerro os olhos depois
guardo um punhal sob a língua
para o beijo
em mamãe
FW.: Não sei se a concisão
pode ser considerada um paradigma para determinadas poéticas e não
para outras. Penso na concisão como valor universal, transtemporal,
como
índice que atesta
a voltagem de todo texto poético para além de qualquer opção
particular. Trata-se de algo que quase se confunde com a função
poética, com a "projeção do
princípio de equivalência
do eixo de seleção sobre o eixo de combinação"
(Jakobson) e que pode ser nomeado de muitas maneiras: polissemia, condensação
(Pound: dichten =
condensare) etc. Estou só
lembrando de slogans teóricos muito conhecidos sobre os quais não
é necessário insistir. Coisa bem diversa é identificar
concisão com brevidade, e
aí a coisa muda de figura. A brevidade, sim, é um valor que
pode interessar mais a alguns poetas que a outros. Ocorre que, por algum
equívoco de leitura, determinados poetas
passaram a endeusar as formas breves (como o epigrama e o haicai, só
para citar alguns exemplos) como se poemas de grande extensão significassem
necessariamente falta de rigor, desprezo pela concisão. O que não
passa de um enorme engano. O poeta pode ser breve sem ser conciso; e vice-versa.
Acho que é preciso desconfiar desses que fazem haicais a granel,
ou dos que aviam poemas-pílula com ingredientes vencidos e sem receita
médica. Por fim, persigo sempre a concisão porque sem ela
não há poesia. Com relação à extensão
dos poemas, gosto de experimentar de tudo um pouco. Parafraseando Bandeira:
"todos as extensões,
sobretudo as inumeráveis".
Rodrigo - Você teve
o livro ilustrado por Fernando Vilela. Como escolheram as ilustrações
já que, muitas vezes, o trabalho do ilustrador atrapalha o do poeta
e vice-versa? Como
conseguiram a coesão?
FW.: Fico satisfeito em saber
que o resultado final parece-lhe coeso, harmonioso. No caso específico
do Sistema de Erros, as gravuras foram feitas depois dos poemas. O
livro já existia
quando convidei o Fernando para ilustrá-lo. Não gostaria
de generalizar, mas acho que o segredo para se alcançar um bom resultado
é fazer com que as imagens dialoguem com os poemas sem a eles se
subordinarem. Isto é, elas devem funcionar autonomamente e não
apenas como "legendas", apoio para o texto. No caso do Fernando, o cunho
abstrato da maioria das ilustrações parece facilitar esse
tipo de diálogo sem prejuízo da autonomia. O curioso é
que, ao menos para mim, mesmo os desenhos mais abstratos parecem figurar,
ainda que parcialmente, algum elemento do poema.
Rodrigo - Em alguns poemas
você trabalha com fábulas. Todo poeta tem um lado lúdico?
A poesia é uma brincadeira de gente grande?
FW.: Sim, o lado lúdico,
a inocência diante das coisas, a adesão à realidade
sensível que é própria da criança, tudo isso
comparece no trabalho poético. Não foi Baudelaire quem
disse que a poesia é
a "infância reencontrada"? Concordo totalmente, a poesia é
o natal da linguagem; linguagem em estado nascente. Uma província
na qual a distância entre
homem, idéia, palavra
e coisa parece abolida (ou ao menos encurtada), onde, mais que representar,
o poeta, demiurgicamente, presentifica o mundo pelo verbo.
Mas, é preciso lembrar,
trata-se de uma infância "reencontrada", isto é, de uma infância
que não descarta a capacidade adulta de converter o espanto em palavras.
Ou, como você mesmo disse, de uma brincadeira séria, de gente
grande. Se não fosse assim, poderíamos equiparar o ignorante
preguiçoso, que dorme a salvo das agulhadas do
espírito, ao sábio
que, após longas pesquisas, afirma só saber que nada sabe.
Dito de outra forma: "um artista leva muito tempo para se tornar jovem"
(Picasso). Agora, ainda com relação à sua pergunta,
não gostaria de restringir aos temas extraídos de fábulas
e histórias infantis a presença desse elemento lúdico
em minha poesia. A infância, penso eu, infiltra-se ali de muitas
formas, sob outros disfarces.
Rodrigo - "O carimbo da noite"
é o retrato de um pesadelo ou "segredos / nas dobras / do travesseiro"
são indícios de uma
noite fecundantemente amorosa?
FW.: Não sei não,
mas acho que o poema deixa isso em aberto:
imaginar a matéria dos segredos ocultos nas dobras
do travesseiro é tarefa
do leitor e, de certa maneira, a
multiplicidade de significados
que o poema comporta é, ou deveria
ser, uma de suas riquezas. É um poema bastante simples.
Nele, o que me interessou mais de perto foi
imaginar que o sono, esse
refúgio psíquíco fundamental que ergue
uma barragem entre a véspera e o dia vindouro, que
nos esvazia a cada noite e nos
absolve para a manhã
seguinte, deixa vestígios
físicos, rastros, marcas como as de
que um carimbo é capaz. O impalpável (a noite, o sono)
desenhando hieróglifos
na alvura do leito. Olhar para a
cama desarrumada e imaginar
que há uma mensagem na desordem dos
lençóis, eis o que eu pretendia com o poema, mais do
que fixar o conteúdo
dessa mensagem de modo positivo ou negativo.
Rodrigo - Há uma vertente
da poesia atual que é a da "revelação". O poeta se
contém no início e vai soltando aos poucos a sua
teoria, conteúdo; depois,
à moda do soneto, prepara um final
que explique ou ponha um ponto (final, de interrogação,
de exclamação). Você concorda com esta
simplificação
ou o poeta está sujeito às musas e ordenações
superiores? Inspiração
transpirada ou transpiração inspirada?
FW.: Não sei se entendi
direito a pergunta, mas, ao que parece,
você pede para eu me situar em relação às teorias
da composição
disponíveis para o poeta de hoje e geralmente
situadas entre os extremos
da inspiração e do trabalho. O poeta
é um medium entregue passivamente à voz da musa (ou
do inconsciente, numa outra
chave teórica), ou um ourives que
"trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua", se possível,
"longe do estéril turbilhão da rua"?
Não sei se saberia dizer algo de novo a esse respeito.
Sinto-me mais inclinado a recordar
algo do muito que já se escreveu
sobre essa falsa antinomia. A mentalidade romântica
investe na espontaneidade do gênio, na facilidade com
que ele se rende ao "êxtase divino", ao furor poeticus.
Contra ela, a idéia de
que a obra nasce de uma árdua paciência,
feita de tentativas e erros, sacrifícios e cálculos
para a perfeição da forma. É claro que esses modi
operandi antagônicos,
ainda que ligados à psicologia
pessoal de cada autor, prendem-se
também a valores ideológicos,
padrões de gosto, modelos de desempenho formal dominantes
em cada época. De qualquer maneira, há quem
relativize tal antinomia. Por
exemplo, para Luigi Pareyson —
filósofo italiano que propõe uma estética da
formatividade no lugar de estéticas
da expressão — "a
inspiração
nunca é tão determinante que reduza a atividade
do artista a mera obediência,
e o trabalho nunca é tão custoso
que suprima toda a espontaneidade; e o que
caracteriza o trabalho artístico
é a adequação entre espera e
descoberta, entre tentativa e êxito, quer esta adequação
seja lenta e difícil,
quer fácil e imediata".1
Sumamente esclarecedor é também o ensaio de João Cabral
de Melo Neto intitulado "Poesia
e composição — a inspiração e
o trabalho de arte" 2. Para ele, a polaridade inspiração
X
trabalho só se reveste
de sentido nos períodos históricos em
que não há mais um padrão de julgamento coletivo,
um conceito de
literatura determinado pela necessidade dos
homens para quem se escreve.
Quando a expressão passa a ser mais importante que a comunicação,
os poetas se aferram a mitologias
privadas e a crítica passa a ser uma atividade incompreensiva.
Em contrapartida, adverte-nos Cabral, nas épocas
em que ainda havia algum entendimento entre o poeta e
seus leitores, "inspiração e trabalho não se opunham
essencialmente." A espontaneidade,
a facilidade com que o poeta
inspirado nos lega a palavra divina, sinaliza, nesses períodos
de equilíbrio, "uma enorme identificação com a
realidade" na qual o que se
valoriza "é o coletivo que se revela
através daquela voz individual". Da mesma forma, o
trabalho "deixa de ser essa
atividade limitada de aplicar a
regra, posterior ao sopro
do instinto e jamais se converte num
exercício formal, de atletismo intelectual. (...) A
regra não é a
obediência, que nada justifica, a maneiras de
fazer defuntas, pelo gosto
do anacronismo, ou a maneiras de fazer
arbitrárias, pelo gosto do malabarismo. A regra então
é profundamente funcional
e visa assegurar a existência de condições
sem as quais o poema não poderia cumprir sua utilidade.
(...) o verdadeiro sentido da regra não é o de
cilício para o poeta.
O verdadeiro sentido da regra está em
que nela se encorpa a necessidade
da época." 3
Peço-lhe desculpas pela citação extensa, mas não
resisti à
tentação de reproduzi-la por considerar as idéias
ali
presentes, ainda hoje, decorrido
quase meio século sobre tal
conferência, extremamente esclarecedoras. É claro que
muita coisa mudou, a começar
pelo maior prestígio que os
poetas "inspirados" detinham
em comparação ao alcançado pelos
poetas "artífices", segundo o testemunho cabralino.
Hoje a situação
parece ter se invertido, até mesmo pela
influência do próprio
Cabral. Não obstante, a idéia de que a
antinomia inspiração-trabalho só tem ressonância
devido a uma perda
do lugar social do poeta continua valendo.
Para concluir, quero
voltar à sua pergunta. Você chama de
"revelação" algo que está ligado a um certo jeito
de fazer poesia
no qual o poeta expõe uma "teoria", encaminhando
o poema/teorema em direção a um final que o
"explique". Algo semelhante
à estrutura silogística que, segundo
alguns, a forma soneto deve adotar. Em seguida, você
opõe esta vertente da "revelação" ao doce jugo das
musas e das "ordenações
superiores". Pois bem, eu faria três
pequenos reparos a tal formulação. Primeiro, a palavra
"revelação" possui
forte teor religioso e está mais próxima da
concepção da poesia como dom divino que como
argumentação
racional. Segundo, a idéia da poesia como trabalho/construção
não se liga necessariamente àquele modo silogístico
destacado por você como uma das vertentes da
poesia atual. Last not least,
o poeta, cá entre nós, não "explica"
coisa alguma; mesmo quando parece submeter cartesianamente
seus "objetos" aos rigores do método.
Rodrigo - Segundo a Heloisa
Buarque de Hollanda, o poeta de hoje é
um erudito. Ele fala várias línguas, traduz, faz ensaios,
críticas, resenhas, estuda...
O poeta precisa ser um super-homem?
FW.: E quem disse que erudição
converte alguém em super-homem? Há os que defendem a tese
contrária, a saber, que erudição
é sinal de debilidade, "coisa de boiola",
kriptonita a minar os poderes
do gênio. Brincadeiras à parte,
há mesmo hoje em dia uma expectativa no que se refere
ao desdobramento do poeta na área do ensaio e da
tradução.
Grande parte dos nomes que compõem o cânone
moderno acumularam as funções
de poeta e de crítico (e/ou de
tradutor) só que numa perspectiva pragmática, isto é,
buscando na obra alheia elementos
para a construção do seu próprio
fazer poético. Não se trata, portanto, de críticos
preocupados com a isenção
e a objetividade de seus juízos,
mas interessados na lenha
oferecida pela reflexão à obra por
fazer. Buscam amiúde, na comparação com autores
contemporâneos e no resgate
da tradição (composição do
paideuma pessoal), segurança
e legitimidade para as próprias
escolhas. De outro
lado, noto também uma deserção dos críticos
propriamente ditos em face da
crítica chamada "militante". Na
universidade, os jovens doutorandos preferem escrever a quadragésima
oitava dissertação sobre Mário de Andrade a se
arriscar sobre um poeta contemporâneo.
Nada contra Mário de Andrade,
figura proteica que merece dinastias de intérpretes
para dar conta dos tesouros que nos legou. Mas chama
a atenção o fato de que, nas gerações de críticos
que foram alunos
de Antonio Candido, Roberto Schwarz, Alfredo Bosi,
Davi Arrigucci Jr...., haja tão poucos que escrevam
sobre a literatura corrente;
ao contrário daqueles mestres. Assim,
os que estariam, em tese, melhor preparados para avaliar
a produção contemporânea, abandonaram as páginas
dos cadernos de cultura e se
refugiaram na turris eburnea da
academia para estudar somente os autores canônicos.
Sobram então os "jornalistas
culturais" (em sua maioria submetidos
às exigências do mercado) e os poetas-críticos a
quem faltaria, como já
disse, a devida isenção para avaliar a
obra de seus pares.
Tudo isso para entender um pouco a expectativa, pesada
segundo você, de que
o poeta, além de escrever seus poemas, trabalho
já bastante oneroso, desempenhe-se bem nas funções
de crítico e de tradutor.
Agora, mesmo que não escreva ensaios
ou traduza autores estrangeiros, imagino que todo poeta
deve constituir padrões judicativos sólidos em
relação ao que
escreve, o que só é possível pela introjeção
de modelos, pelo diálogo
com a tradição que, longe de oprimi-lo,
o estimulará. Ninguém pode realizar uma obra
verdadeiramente "original" (olha
aí o jargão romântico
novamente) sozinho, contando
apenas com o que lhe vai na cachola.
Rodrigo - Qual a importância
de Mário de Andrade para a sua poesia?
FW.: A presença de
dois poemas-homenagem a Mário de Andrade
testemunha de fato uma admiração veemente,
irrestrita, incontida não
só pelo escritor (em suas diversas
facetas), mas também por sua figura pública. No
âmbito exclusivamente
literário, reconheço a supremacia do ficcionista
sobre o poeta (irregular, aquém da perfeição
alcançada por um
Bandeira ou por um Drummond), mas não há como
recusar a beleza de certos momentos do Remate de Males,
da Lira Paulistana..., a jóia que são os "Poemas da
Amiga" ou o "Rito do Irmão
Pequeno". Acho também que o próprio
Mário de Andrade tinha bastante consciência das
"imperfeições"
em sua obra poética. São inúmeros os
momentos de sua correspondência
em que ele admite ter "escrito
feio" para dar coragem aos outros. Aliás, vejo de
maneira muito nítida,
em tudo quanto o Mário fez, uma
divisão enorme entre
o desejo de "artisticidade" e a disposição
para o sacrifício dessa "artisticidade" em nome da
solidariedade, da descoberta de um Brasil a que a
literatura voltava as costas.
É ele mesmo quem o garante: "Toda
minha obra é transitória e caduca, eu sei. E eu quero
que ela seja transitória.
(...) A minha vaidade hoje é de
ser transitório.
Estraçalho a minha obra. Escrevo língua imbecil,
penso ingênuo, só pra chamar a atenção dos mais
fortes do que eu pra este monstro
mole e indeciso ainda que
é o Brasil" (carta
a Drummond, 10/nov/1924). E ainda: "(...)
não sou mais artista. Isto parece blague como outra
qualquer, mas não é.
Continuo a embelezar minhas obras,
torná-las agradáveis
para interessar, atrair, convencer. Mas
lhes falta aquela qualidade artística primeira que uma
infinidade de estetas e, entre
os últimos recentes, Croce, de
maneira berrante estabeleceram: ausência de interesse
prático, criação
livre e pura do espírito. Minha arte, se assim
você quiser, tem uma função prática, é
originada, inspirada
dum interesse vital e pra ele se dirige" (carta a Drummond,
18/fev/1925). É claro que a situação deve ser
enquadrada historicamente: o
preceito estético da arte como um
fim em si passou por inúmeras revisões; a reputação/autoridade
de um Benedetto Croce já não é a mesma...
Mas continuo achando relevante tal discussão como
antídoto contra um certo
beletrismo que, de tempos em tempos,
volta a seduzir nossos poetas.
Bem, mas tudo isso se refere mais a uma influência um
tanto difusa do Mário
de Andrade sobre o meu modo de pensar.
Influências mais diretas sobre a poesia, não
saberia identificar. Só
para terminar, ainda com relação ao "escrever
feio" de Mário de Andrade, lembro de uma coisa que
o prof. Alfredo Bosi me disse certa feita. Ele comentava
das aproximações que certos críticos tentam fazer
entre a obra de Mário
de Andrade e a de Guimarães Rosa. O interesse
de ambos pela cultura popular, sobretudo no que se
refere ao seu potencial mitopoiético, permitiria colocar
o mago cordisburguense ao lado
do genial criador de Macunaíma.
"Mas em Guimarães há uma entrega religiosa ao
belo, ao passo que Mário
é muitas vezes de um mau gosto agressivo",
dizia-me o prof. Bosi. Parece que o próprio Guimarães
era sensível a isso. Em uma carta, se não me
engano, a uma tradutora de sua
obra, dele Guimarães, para o inglês,
ele comenta: "(...) isso de o Mário escrever milhor
ao invés de melhor, para
aproximar a escrita do jeito de falar,
não tem o menor sentido. Milhor, quando muito, lembra
milho". Mas essa é uma discussão que vai longe.
Fiquemos por aqui.
Rodrigo - Faltam movimentos
literários ou é melhor ser mosqueteiro: "cada um por
si e Zeus por todos"?
FW.: Não sei se podemos
pensar nesse assunto em termos do que é melhor (ou "milhor", como
queria o Mário). Formulada dessa
maneira, a existência ou não de movimentos parece ser
uma questão de escolha
pessoal ou preferência, ao invés de algo
determinado historicamente. O movimento modernista, por
exemplo, tem por detrás de si, transformações
tecnológicas (o automóvel,
o cinema...), as vanguardas européias
do início do século, a I Guerra Mundial etc. Hoje
não há movimentos
organizados, grupos fiéis a determinada plataforma
estética. Todos insistem na pluralidade de tendências,
na aposta em projetos individuais. À polarização
que marcou as duas últimas décadas (concretos X
marginais), se seguiu um
momento de distensão aparentemente mais
propício ao diálogo. Não há, pelo menos de
modo ostensivo,
dogmas estéticos ou excomunhões exemplares. É
claro que há alguns poetas
tributários da lição concretista,
dedicados a um trabalho em que a visualidade desempenha
papel importante (como Arnaldo Antunes, Lenora de
Barros e João Bandeira), mas que não chegam a formar um
grupo. De modo geral, a diversidade
impera; fica muito difícil
mapear tendências. Aliás, a mera classificação
também não seria
de grande valia. Classificar nem sempre significa
compreender. Ainda mais quando os critérios classificatórios
são exteriores ao fenômeno em apreço.
Veja, por exemplo, a antologia
recente organizada pela Heloisa
Buarque de Holanda (Esses poetas — Uma antologia dos
anos 90, RJ: Aeroplano, 1998). Os critérios adotados
para compor um panorama representativo
da poesia contemporânea
foram ideológicos, talvez por importação
direta da moda norte-americana
dos "estudos culturais" (a meu
ver, mais ideológicos que culturais). Selecionar representantes
da poesia gay, da poesia negra, poesia judaica...,
eis o que se pretendeu, a julgar pelas declarações
dadas à imprensa. Desde quando Nelson Ascher e Moacir
Amâncio podem ser reunidos como representantes de uma
poesia supostamente "judaica"? O que há de judaico no
trabalho deles? Também
eu, então, sendo judeu, teria meu trabalho
vinculado à tal chancela? Se for assim, na falta
de um esquema compreensivo
mais amplo, vamos sair criando categorias
e subcategorias que nada explicam efetivamente.
Por outro lado, acho também que é preciso desconfiar do
clima cordial que, segundo alguns,
distingue o debate poético
contemporâneo. Haverá mesmo um debate? Os poetas
estão acompanhando o
trabalho uns dos outros e refletindo a partir
daí? Tenho minhas dúvidas. Um amigo meu, o
historiador e poeta Sérgio
Alcides, diz que os poetas de hoje
comportam-se como se vivessem na República Velha. Há
algumas oligarquias que
negociam entre si a alternância nos postos
de poder. Alguns poucos telefonemas decidem quem irá
aparecer na primeira página
dos cadernos de cultura ou em determinado
programa de entrevistas na TV. Todo mundo se cumprimenta,
mas ninguém diz de verdade o que pensa sobre o trabalho
alheio. Não que tal situação seja criada de modo
consciente, deliberado, pois
se trata de um sistema que ultrapassa
as vontades individuais. Acho também que tudo isso
se agrava com a deserção dos críticos a que aludi
logo atrás.
Apesar disso, penso que há uma dilatação real do espaço
destinado à poesia
(revistas, editoras, eventos) e que existe
uma produção média de boa qualidade. Isso talvez
gere bons frutos a longo prazo.
Devemos lutar para manter esses
espaços abertos sem tomar ingenuamente tal abertura
como sinal inequívoco
de excelência da poesia contemporânea.
Rodrigo - Como editor você
deve ter uma noção, pelo menos singular, da poesia feita
no Brasil. Há vertentes literárias
claras? Estas vertentes correspondem ao que o público
quer ou não há público para a poesia no mundo?
FW.: Julgo que a resposta
à pergunta anterior serve também
para esta questão, pelo menos no que se refere à
identificação
de vertentes na poesia contemporânea. Quanto
à correspondência
à expectativa do público, vale o que o João
Cabral afirmou no texto que citei, ou seja, a partir da
virada romântica a necessidade dos leitores passa a
contar pouco na criação
poética, a expressão importando mais
do que a comunicação... Pós-modernismos de lado, acho
que tal postura romântica
continua vigorando.
Rodrigo - A "apropriação"
de outras formas de arte como o cinema,
artes plásticas, música... enriquece a sua poesia
ou, como dizem uns, é
a forma de "não enfrentar as
dificuldades com o texto
a ser erigido"?
FW.: Não sei exatamente
a que tipo de apropriação você se refere.
Apropriação de procedimentos? Por exemplo,
encadeamentos sintáticos
que imitem a montagem
cinematográfica ou
a estrutura de um videoclip? Ou simplesmente
um diálogo com temas tomados de empréstimo às
outras artes; poemas sobre escultores,
pintores, músicos?
Ou ainda poemas intersemióticos
que inovam com relação ao "suporte"
utilizado? Da mesma forma, não entendo direito o que
você está chamando de fuga às dificuldades do próprio
texto. Dificuldades de que ordem?
Às vezes, o recurso às outras
artes, longe de funcionar como um tipo de fuga, traz soluções
para problemas pré-existentes e cria novos problemas. Mário
de Andrade, por exemplo, no "Prefácio Interessantíssimo",
vai buscar na música a justificativa para
um "novo" tipo de sintaxe, contrapondo o verso harmônico
ao verso melódico, dominante até então, segundo
ele.
Nada tenho contra nenhum tipo de apropriação
extraliterária em princípio.
Quanto à minha poesia, penso que
dialogo com outras artes apenas na esfera temática. Em
meu livro Sistema de Erros lembro-me,
à guisa de exemplo, do
poema sobre o "Tiradentes" de Portinari.
Rodrigo - Os poemas "Lição"
e "Sistema de Erros" são odes à liberdade...
Quando o aluno liberta-se dos grilhões que foram
(são) seus mestres? Fale sobre suas influências
literárias.
LIÇÃO
rui
o que me instrui
à revelia
dos riscos
fere
o que me afere
cobrando o censo
do imenso
mina
o que me ensina
o veio oblíquo
da idéia
basta
o que me arrasta
à rua estreita
do acerto
punge
o que me pune
o ouvido gasto
de aluno
FW.: Todo poeta que queira desenvolver
um trabalho sério, consistente, passa por um longo período
de aprendizado durante
o qual se embebeda, pela leitura, da obra de outros
escritores os quais, não
raro, procura imitar, atento a detalhes
de contrução, léxico e ritmo daqueles
interlocutores que elege como
seus. Isso o leva a constituir
um censor interno que o ajudará a trabalhar. A dimensão
do que seja a palavra (o ritmo, a forma...) correta
em cada caso ser-lhe-á dada por tal censor. Sem embargo,
como nos ensina o poeta e ensaísta W. H. Auden, a
palavra correta "ainda não
é a verdadeira, pois o aprendiz está
agindo como um ventríloquo, mas já se distancia da
poesia comum; está aprendendo
a escrever um poema autêntico."
4 Acho que a lição
do mestre torna-se agrilhoante quando o aluno
não logra fazer esta passagem do correto ao verdadeiro.
Mas se engana quem pensa que tal passagem ocorre
uma única vez e de modo irreversível. Mesmo quando o
poeta conquistou uma "dicção
própria", o diálogo com os mestres
a até mesmo os exercícios de imitação continuam
sendo-lhe úteis, pois
o defendem dos riscos da "auto-
imitação".
Ou seja, dos riscos da repetição, do apego aos
macetes, às soluções
que já deram certo uma vez.
É importante que também diga: entre os "mestres" com
quem se dialoga não figuram
apenas gigantes da estatura de Homero.
Às vezes, o convívio intenso com um autor considerado
"menor" pode indicar caminhos de grande proveito...
Do mesmo modo, é
preciso considerar as influências não-literárias na
composição de uma obra. É claro que as
pessoas se sentem mais à
vontade para declarar as
influências literárias,
para admitir o quanto devem a credores
ilustres como Camões, Pessoa, Drummond, Bandeira...
Contudo, a "influência" (palavra já meio desgastada,
sobretudo por culpa de um certo sr. Bloom) vem de
toda parte: o sapato apertado, certas paisagens, as sacanagens
de um primo durante as férias, variações
climáticas..., tudo entra,
com maior ou menor consciência, no
cadinho do poeta. Ademais, declarar-se simplesmente como
herdeiro de determinado autor
não significa muita coisa. Herdeiro
de que forma? De que parte do espólio? Tenho uma grande
amiga, a poeta Chantal Castelli, que me confessou outro
dia: "Ai, que raiva me dá ver a horda de poetas medíocres
que se autoproclamam herdeiros do Drummond. Todo mundo
agora quer ser herdeiro do Drummond. O cara passa a vida
toda camelando para fazer uma obra estupenda e, depois que
morre, enche de gente querendo morcegar o que ele construiu.
Não tem o menor cabimento". Faço minhas as
palavras dela.
Se bem que, depois de tudo isso,
fico sem saber como prosseguir
na resposta. Mas, vamos lá. Você quer saber dos
autores que exerceram influência
sobre mim. Feitas todas as ressalvas
anteriores, li um bocado de Drummond, Bandeira, Cabral,
Murilo Mendes um pouco menos, Jorge de Lima demais,
Cecília Meireles.
Mais perto de nós, gosto imensamente de Gullar,
Orides Fontela, Roberto Piva, Hilda Hilst... Isso para
não falar dos portugueses: os trovadores, Camões, Sá
de Miranda, Bocage, Antero de
Quental, Cesário Verde, Antônio
Nobre, Pessoa... E também Herberto Helder, Eugênio
de Andrade, Sophia de Mello
Breyner Andresen, Mário
Cesariny... Vixe! É
gente que não acaba mais. Isso para ficar
apenas no âmbito luso-brasileiro. Vou parando por aqui,
não tenho jeito para listas. Que os leitores mais
dispostos se entreguem à
tarefa ingrata de rastrear minhas influências.
Rodrigo - Você escreve
sobre mitos gregos. Eles são realmente eternos.
A mitologia é ainda um objeto de "extração"
intelectual?
FW.: Não tenho certeza,
mas talvez sim. A mitologia grega já
não faz parte do universo de referências de grande parte
das pessoas devido à
impossibilidade de formação cultural nos moldes humanistas.
Apesar do acesso facilitado a uma grande
quantidade de informações (internet e o escambau),
ou fragmentos de informação,
faltam condições para sedimentar
esta massa de informações de um modo consistente:
o excesso e aceleração, a substituição da
paidéia pela performance,
a flexibilização dos currículos, acabam
tendo uma ação dissolvente sobre a cultura. É claro
que existem descrições
mais otimistas do que a minha para tal
conjunto de fenômenos que alguns agruparam sob o conceito
de pós-modernismo, mas a verdade é que autores
como Homero, Hesíodo,
Ovídio, Horácio etc, são freqüentados
por um círculo de leitores
cada vez mais restrito. Donde a impressão
de intelectualismo e a perda de ressonância afetiva
no que se refere aos mitos gregos.
Rodrigo - O que é
o Cálamo?
FW.: O Cálamo é
um núcleo de criação, pesquisa e difusão
de poesia, surgido no início
dos anos 90 a partir de oficinas
literárias promovidas pela Secretaria do Estado da
Cultura de São Paulo
e com sede, até o ano passado, na Casa Mário
de Andrade (atualmente reunimo-nos na biblioteca municipal
"Viriato Corrêa"). É um grupo composto por pessoas
de diferentes formações profissionais (engenheiros,
médicos, jornalistas,
psicólogos, advogados, professores de literatura,
historiadores...) unidos pelo desejo comum de discutir
e produzir literatura. Ao longo desta década, tal
núcleo produziu alguns
livros e uma série recitais de poesia.
Nos recitais, geralmente contamos com a ajuda de
músicos e, eventualmente,
de atores. Apresentamo-nos em teatros,
faculdades, bares, divulgando a obra de autores como
Jorge de Lima, Mário de Andrade, Manuel Bandeira,
Tomás Antônio
Gonzaga, Herberto Helder e muitos outros; além
da produção do próprio grupo. Quanto aos livros,
publicamos as seguintes antologias
poéticas: Lição de Asa
(SP: Iluminuras, 1993);
Vila Lira Rica (SP: edição dos autores,
1995) e Desnorte. Leituras poéticas em torno à
obra de João Guimarães
Rosa (SP: Nankin, 1997). Afora tais
antologias e projetos coletivos,
alguns integrantes do núcleo
têm publicado individualmente seus livros e veiculado
deus poemas em revistas. É o caso, por exemplo, de
Ruy Proença, que acaba de lançar seu terceiro livro,
Como um dia come o outro, pela
Nankin, e que teve poemas publicados
em revistas como a Poesia Sempre, a Cult, a Inimigo
Rumor..., além de participar da Anthologie da la poésie
brésilienne, publicada pela editora francesa
Chandeigne no ano passado.
Trata-se de um espaço aberto para a discussão de poesia
e não de um movimento
com plataformas estéticas redentoras; espaço
no qual convivem metabolismos poéticos os mais diversos.
Rodrigo - Você ministra
oficinas literárias. A poesia se aprende na
escola?
FW.: Sim e não. Volto
ao que já disse: porque o poeta é um
inventor de formas e não de fórmulas, porque não há
leis gerais em
poesia (embora cada poema encerre uma lei de
formação,
que vale apenas para ele), não se pode aprender poesia
na escola da mesma forma que se aprende a solucionar equações
matemáticas, ou da mesma forma que um marceneiro aprende
a fazer uma cadeira. Por outro lado, há uma série
de coisas que podem municiar
o poeta para enfrentar os desafios
da página em branco: noções de versificação,
estudos filológicos,
exercícios de interpretação literária,
diálogo com outros poetas...
São essas coisas que, em tese, uma
oficina pode oferecer. O trabalho do poeta não é
diferente daquele do músico,
que deve se exercitar determinado
número de horas por dia reproduzindo escalas, ou
do ator, que deve estar com a voz e os músculos
preparados para as exigências
da cena. Se o poeta vai ser capaz
de percorrer a distância que vai do exercício ao
poema acabado, isso é
uma outra história. Uma história que, em
certa medida, independe do arbítrio pessoal do poeta.
Mas que ele deve se "preparar"
para esse "nascimento" incerto
do poema, quanto a isso, não há dúvida. Ninguém
se espanta com
o fato de um atleta se exercitar continuamente para
uma competição. Mas o poeta — que também pode ser
considerado um atleta da linguagem,
como o ator é, segundo
Artaud, um "atleta dos afetos"
— talvez porque lida com algo
que está ao alcance de todos, as palavras, pode parecer,
aos olhos de alguns, dispensado de um tal
"treinamento". Daí
que muitos imaginem que a mera alfabetização
é condição suficiente para alguém se arriscar
no trapézio da lira e
se julgar poeta. Em contrapartida, ninguém
vai se julgar músico se não souber solfejo.
Tudo isso para dizer que as oficinas de criação
literária oferecem oportunidades
para o poeta se exercitar e
trocar idéias com outros poetas; o que também pode
ocorrer espontaneamente e de
muitas outras formas. Só isso. Quem
espera diplomas ou qualquer outra forma de garantia institucional,
com certeza, vai quebrar a cara.
Rodrigo - Algum mote faz
parte de sua vida?
FW.: Prefiro dar glosa a
alheios motes.
Rodrigo - Qual o papel do
escritor na sociedade?
FW.: É muito difícil
responder a essa pergunta em poucas palavras.
Insisto novamente quanto à perda da função social
do poeta na modernidade, asssunto
a que já me referi. Como nos
explica Octavio Paz, a poesia moderna "se ha convertido en
el alimento de los disidentes e desterrados del mundo burgués.
A una sociedade escindida corresponde una poesía en
rebelión."5 Sem embargo, mesmo ocupando uma posição
marginal na sociedade, a linguagem
sobre a qual o poeta opera
é social, são as palavras "da tribo" que recebem dele
um sentido mais puro; para lembrar
a máxima mallarmaica. Assim,
seu papel segue sendo o de refontalizar, revirginar a
linguagem purgando-a dos automatismos e opacidades a que
a condenou o uso ordinário,
pedestre. Arejar a linguagem como
as minhocas arejam a terra, eis a missão do poeta,
segundo o colecionador de inutensílios,
Manoel de Barros. Agora,
descrever de que forma isso ocorre em cada caso, isso
é matéria para outras e mais longas conversas. Vou
ficando, então, por aqui.
_______________________________
1 Pareyson, Luigi — "O processo
artístico" in Problemas de Estética — SP: Martins Fontes,
1984, p. 146.
2 Conferência proferida
na Biblioteca Municipal de São Paulo em 13/11/1952 e publicada na
Revista Brasileira de Poesia : São Paulo, n 7, abril de 1956. Republicada
em Melo
Neto, João Cabral
de — Obra completa — RJ: Nova Aguilar, 1994, 1.a edição,
pp. 723-737.
3 Melo Neto, João
Cabral de, op. cit, pp. 736-737.
4 Auden, W. H. — "Fazer,
saber e avaliar" in A mão do artista — SP: Siciliano, 1993.
5 Paz, Octavio — El arco
y la lira — México: Fondo de Cultura Económica, 3.a edición,
6a reimpresión, 1986, p.40.
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do Jornal de Poesia
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de Rodrigo Souza Leão
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