Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

 

 

 

 

 

 

 

Culpa

 

Mary Wollstonecraft, by John Opie, 1797

 

 

 

 

 

 

 

 

Theodore Chasseriau, França, 1853, The Tepidarium

 

Rodrigo de Souza Leão



Nota biográfica:

 

Nasceu em 4 de novembro 1965. É formado em jornalismo, tem poemas publicados no "O Correio das Artes", revista Babel e fez parte da I Mostra de Poesia Carioca. É autor de vários livros em formato pdf (e-book/Virtualbooks). Finalista do Prêmio Uapê/2001. Consta da antologia Na virada do século – Poesia de invenção no Brasil. Tem resenhas e reportagens publicadas em O Globo e Rascunho (Paraná).

Trabalhou na SASSE – seguradora da Caixa. Foi repórter e editor do programa Informe Imobiliário, TV Corcovado Rio, canal 9. É músico. Teve parte da formação feita pelo tenor Paulo Barcelos. Trabalha divulgando poesia na internet. Já entrevistou mais de 150 escritores entre poetas e prosadores.

Seu sítio cibernético se chama Caox e fica no endereço:
http://www.geocities.com/SoHo/Lofts/1418/. Atualmente trabalha com Andréa Augusto no e-zine Balacobaco http://intermega.globo.com/balacobacoonline/index.htm


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), A Classical Beauty

 

Rodrigo de Souza Leão



Pulso


O pulso pulou
Pra fora do bolso

A veia fétida
Da erupção

Elevou-me
Ao Éden

Que no mármore
Fique

Fincado
Um desepitáfio


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

Rodrigo de Souza Leão



Flatulência


No vento
O litoral da pele
Espumando

Necropsia
Auto-retrato
Do nada

Impurezas
Sangues
Sugando

Na sopa
Da gordura
A válvula

Vasculha
A luz
Mitral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

Rodrigo de Souza Leão



VULCÕES

1
abrolham
vulcões

pela pele
erupções

compõem
o amarelo

elos de luz
pus em pus

2
cavalo sem
crina branco

cuspindo
falésias de

seda

turquesa
todavia mar

bordejando
aspergindo

gotas

água
de calor

vulcânica
quase ar

quasar

pulso
móbiles

redoma
aquário

de fumaça

cospe
sombras

cadências
cardantes

cabelos

crinas
d’éguas

bolas
de sabão

explosão

3
fios de ouro
preto

virando olhos
claros

fumaça, fuligem
cinzas

apenas tragadas
d’eu(s)

4
deitado
olho céu

magma
jorra

da jarra
- corpo

copo
de cinza

5
gatos
lambendo

a pele
de filhotes

morreram
na guerra

dromedram
meus desertos

gatos
miragens

nesgas
de aurora

intermináveis
dores

erupções
e mordiscos

vulcões
bons apenas

quando
mortos

comendo
crepúsculos

6
brisa
maquinal

matina
eterna

vento
de bolso

barcos
velejando

miragens
aquosas

- sopro
endêmico

mixando
suores

odores
espinhas

rugas
meleca

despojos
restos

andrajos
orgânicos

verdadeiros
oceanos

de frios
sonhos

pesadelos
e inferno

7
rastafari
safári
em mim

elefantes
trombetas
esporrando

sangue
saliva
seiva e pus

8
via Delfos
delfins
e hienas

e sua cria
de corvos
amestrados

bicavam
meu ventre
arrancavam

palha
pulhas, palha
palhaços

9
por dentro
contenção

por fora
explosão

assim me
defino

sou um
vulcão


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

Rodrigo de Souza Leão



Surtomania


1
pânico
no circo
alado
das têmporas

endorfinas
macaqueando
a goiabada
pineal

volts
em volta
eletrodos
todos

de branco
culpados
culpas
pecados

haldol
no leite
ralo
do tempo

clitóris
de plástico
na sopa
de adrenalina

2

nodoas
nuas
cristalizadas
na nuca
nunca
injete
tudo

3

camisa
sem mãos
sem mangas
nos olhos
apenas
antolhos

na janela
áurea
de peristilos

punção
de morte
fode

4

peixes
fisgando
anzóis
comicham
no corpo
baleias
de chupeta

5

na veia
sossegada
o leão
caminha
inválido
de juba
cortada
cuspindo
vida
curta
em curto
circuito
fechado
faixas
vendas
ferem
as paredes
sem degraus
as pilastras
sem grade
degrade
degradado
de sol
de lua
chuva
desbotada
eletrochoque natural

enguias
guiam
os volts

na cabeça
dos
cegos
de
si

 

 

 

 

 

31/01/2006