Ronaldo Cagiano*
A nova literatura
piauiense
O hegemônico, monopolista e
preconceituoso eixo cultural Rio-SP, por negligência ou má-fé, só
dispensa atenção crítica a autores e obras que estão sob seus
holofotes. Infelizmente, deixam de (re)conhecer uma vasta
bibliografia que, tanto em quantidade quanto em qualidade, resiste
de Norte a Sul.
Um dos bons escritores que integra a
nova safra de ficcionistas que merecem alcançar o grande público é
OTON LUSTOSA, cuja produção no campo acadêmico e literário prova à
saciedade que há vida inteligente fora dos grandes centros.
Conhecido por obras de doutrina jurídica e colaborador de revistas
de Direito e Jurisprudência, OTON LUSTOSA, que é magistrado,
professor, conferencista e membro da Academia Piauiense de Letras,
acaba de lançar seu terceiro livro de ficção, o belo romance
“Vozes da Ribanceira”. Uma obra que mergulha no ambiente social
e histórico do Piauí, numa trama que é fiel ressonância da atmosfera
humana e psicológica de uma região rica em signos e elementos
pictóricos, de inesgotáveis recursos imagéticos para a composição de
um romance.
No romance “Meia-vida” e nos
contos de “O Pescador de Personagens”, Lustosa já demonstrou
a segurança dos veteranos, com grande domínio da técnica narrativa,
livros que foram recepcionados pela crítica de Teresina, saudados
por importantes críticos, entre os quais Manoel Paulo Nunes e
outros.
Com “Vozes da Ribanceira”, o
autor aprofunda sua pesquisa sobre a realidade que bem conhece, na
tessitura de uma trama em que não economiza recursos estilísticos e
semânticos para fidelizar os conflitos dos personagens, conferindo
ao romance regionalista uma nova feição, uma dicção que escapa aos
clichês, aos lugares-comuns, às clonagens. Embora muito pouco se tem
acrescentado a essa vertente, gênero que muito pouco tem recebido em
termos de inovação formal, conceitual e temática, Lustosa consegue
renová-lo com seu estilo, rompendo assim as fronteiras ou amarras
dos velhos chavões à Rosa, Graciliano e José Lins do Rego e impondo
suas características narrativas.
Longe de ser uma obra requentada de
regionalismo, “Vozes da Ribanceira”, de OTON LUSTOSA, faz uma
viagem ficcional e ao mesmo tempo poética na solidão existencial.
Seus personagens, claudicando entre o peso das circunstâncias
agrestes de suas vidas e as ambições e sonhos conflitantes de suas
relações quotidianas, instauram um clima em que a fábula e a
realidade se misturam, com ritmo, fluência e equilíbrio, fruto de
uma linguagem sem exageros, sem arapucas formais, sem rodeios ou
extravagâncias experimentalóides.
O autor confirma sua trajetória
segura, sintonizado com a verdadeira literatura, buscando nas raízes
primitivas do ser o centro da ação de seu romance. Assim, vamos
encontrar um território em que a vida e suas nuances vão sendo
trasladadas pelo autor com todas as suas particularidades,
coadjuvado por um inegável instinto poético, o que é fundamental
para delinear vidas e histórias dentro de uma perspectiva criativa
capaz de tocar o leitor, seja pelas alegorias, seja pelo realismo,
entre o mí(s)tico e o mágico, buscando em todas as possibilidades da
linguagem a sua plena comunicação.
Leia Oton Lustosa
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