Alda do Espírito Santo
Uma língua
é o lugar
donde se vê
o mundo
Vergílio Ferreira
Vozes 
Poéticas da 
Lusofonia
Na minha língua...
cada verso é uma
outra geografia.
Manuel Alegre
 
Alda do Espírito Santo

Para lá da praia


Baía morena da nossa terra 
vem beijar os pézinhos agrestes 
das nossas praias sedentas, 
e canta, baía minha 
os ventres inchados 
da minha infância, 
sonhos meus, ardentes 
da minha gente pequena 
lançada na areia 
da Praia Gamboa morena 
gemendo na areia 
 da Praia Gamboa.
 

Canta, criança minha
teu sonho gritante 
na areia distante 
da praia morena.

Teu teto de andala 
à berma da praia.
Teu ninho deserto 
em dias de feira.
Mamã tua, menino 
na luta da vida 
gamã pixi à cabeça 
na faina do dia 
maninho pequeno, no dorso ambulante 
e tu, sonho meu, na areia morena 
camisa rasgada, 
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada 
Mamã caminhando p'ra venda do peixe 
e tu, na canoa das águas marinhas ...
 

 — Ai peixe à tardinha
na minha baía...
Mamã minha serena
na venda do peixe.
 
 
 
 


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Alda do Espírito Santo

LÁ NO ÁGUA GRANDE



Lá no "Água Grande" a caminho da roça 
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.  
Batem e cantam modinhas da terra.

Cantam e riem em riso de mofa 
histórias contadas, arrastadas pelo vento.

Riem alto de rijo, com a roupa na pedra 
e põem de branco a roupa lavada.

As crianças brincam e a água canta. 
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.

E os gemidos cantados das negritas lá do rio 
ficam mudos lá na hora do regresso... 
Jazem quedos no regresso para a roça.
 
 


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Alda do Espírito Santo

ILHA NUA


Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e devida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras...
 


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Alda do Espírito Santo




PARA A TANIA
 
 

Nesta noite morna de luar africano
Salpicando de sombras as estradas
Eu estendo os meus braços sedentos
Para a nossa mãe África, gigante
E ergo para ti meu canto sem palavras
Suplicando bênção da terra
Para as vias dos teus caminhos
Para a rota do destino imenso
Traçado na inteireza de todo o teu ser 
Para ti, a projecção das nossas estradas 
Varridas da impureza dos dejectos inúteis 
Para ti, o canto de glória da nossa 
Mãe África dignificada.
 


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