Silas Corrêa Leite
“As Quatro Estações”, Novo Livro
de Poemas do Poeta Salvino Pires
“Lá vem o Poeta
Salvino Pires
Servindo, ourives
Seus poemas em pratos límpidos”
Foi assim que entrei verdadeiramente
no verbo ler, o novo livro “Quatro Estações” do mineiro Salvino
Pires Sobrinho, Alvo Artes Gráficas Editora (salvino@jorlan.com)
Floresta, Belo Horizonte/Minas Gerais, recentemente lançado. Salvino
Pires tem poesia na alma? Decerto que é assim porque ele está melhor
do que nunca, aperfeiçoando sempre o oficio de bem poetar. De seu
primeiro trabalho, Perfumes, a Quatro Estações agora, ele continua
tocando o seu belo rebanho de poemas, nas margens despertas da vida
que recolhe em seus alheamentos e desenredos, em seu entorno e
derredor que capta com olhares alados, feito uma espécie assim de
ourives – ou melhor dizendo, encantador de versos alumbrados, alguns
até mesmo sinceramente proverbiais. Harmonia e autenticidade.
Páginas da mente humana em sintonia com a vida arrebentando viço,
poemas dela tirados entre o sub e o sobre; poemas de se ler com
ternura. Na poesia Salvino Pires percorre caminhos, percorre
olhares, percorre reinações, conta pra gente o seu enfoque límpido
de ourives, registra o enlivramento. Emily Dickinson disse: “Não há
melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”.
Salvino Pires recolhe a sua terra para a sua alma cristalina,
ventila (na serpentina das idéias) para a poesia, depois, resgatando
tudo e dando lírica formosa a tudo, bravamente lança Quatro
Estações.
“Construtor de Poemas, Conflitos Quase
Andaimes, Afloramento Confessional, Apuro Severo com a Linguagem,
Exploração de Sentimentos”, todos os críticos têm um lógico pensar a
respeito dele enquanto engenheiro erguedor de versos; opiniões
verdadeiras e perenes, porque ele é mesmo um poeta de quilate, um
especial olhar sempre atento a tirar closes de simplismos e
passagens, mão apurada assim no traquejo, escrevendo gostosamente
bem seus quitutes de percursos. Depois de Quatro Estações, por
certo, outras desnaturezas virão no mesmo confessionário de sua alma
avelã, apanhadora, de sua ótica sensível para recolhes de fragmentos
de acontecências simples que bem retrata no lírico, entre
pertencimentos, reflexões, purezas e tantas outras coisas mais às
quais dá envergadura literária entre o sub e o sobre. A vida não
pára? Pois Salvino Pires faz os recolhes para louvações dela.
Reflexões em pensagens, sim. Letras de
canção. Estados de espíritos. Pontos de fuga? Imagens e humor.
Andaimes poéticos. Pedaços de frutas. Salvino Pires, engenheiro de
sustento e ofício, é mineiro por ancestralidade, é poeta por dom e
qualidade sensorial e, Quatro Estações, seu novo livro muito bem
editado e com bela capa de excelente projeto gráfico, tem verão,
primavera e inverno no contexto todo, e, claro, também outonais,
catanças até de meias estações. Quer ver/ler só?:
Reflexões de Vôo (in, pg 27):
amarrado na poltrona
voando no céu profundo
há tanto espaço lá fora
e eu trancado no muro
Ou ainda: Poética I (Pg. 33)
para quem faz poesia
dor de poeta
não tem importância
desde que verseje bonito
e sofra com elegância
Em Quatro Estações Salvino Pires
faz-se competente apanhador de mil lágrimas, de utilezas e
pensadilhos, numa significação de seu estado reflexivo depurado e
fino, a poetar, e então se prestar lastrador entre prós e contras
num livro que denota o galeio de palavras, com poemas de excelente
nível, ele mesmo, por certo, pelo que o seu versejar demonstra
“gente mais maior de grande” como cantou Gonzaguinha na mpb. Quatro
Estações é sim um caleidoscópio de pensar a arte poética enquanto
também ser humano crítico, inteligente, alerta, sentidor, portanto.
Ele reforça o que muito bem também cantou a Poetisa Elisa Barreto,
recentemente falecida:
“A vida é sonho, é gaze, é véu, fumaça
Que a eternidade, com seus dedos finos
Tece na rotativa do universo...”
(-In, A Poesia Brasileira de
Elisa Barreto, Documentário, Paulino Rolim de Moura, Edição do
Autor, 2006)
Aliás, inspirado por ele e, até mesmo
parafraseando-o no poema Conflito (in, pg. 24) quando diz “Existe em
mim/Um conflito que me espanta/A cigarra trabalha/A formiga canta”,
de presto destilei minha troca de poema na mesma temática,
continuando o seu trovar:
Paradoxo
Para Salvino Pires
Um paradoxo me atrapalha
E, conflitante se agiganta:
Infeliz a formiga trabalha
Tão contente a cigarra canta?
(Talvez a tal felicidade santa
Só o prazer de viver a vida em viço valha)
Quatro Estações de Salvino Pires é
isso mesmo: extremamente inspirador. Será que o adulto Poeta Salvino
Pires escreve para voltar a ser criança, e, muito mais que sê-la,
exercitá-la? Sim, meus camaradas, talvez nessa nossa insana vida
socializada haja muita lama, o pântano dói nos olhos sensíveis, mas,
ainda assim e por isso mesmo – resistir é preciso? - alguns poetas
por excelência ainda sabem ver estrelas em todas as estações.
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