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Sinésio Cabral




Uma homenagem ao poeta Sinésio Cabral


29.08.1999

 

Sinésio Lustosa Cabral Sobrinho nasceu a 22 de maio de 1915, em Várzea Alegre-Ce. Filho de Genésio Lustosa Cabral (magistrado) e Líbia Lustosa Cabral (professora pública), ambos de imperecível memória. Ainda de tenra idade, foi residir, com os pais, na Paraíba. Fez os primeiros estudos em Taperoá, pátria de sua infância, sob a orientação materna. Transferindo-se, com os pais, para o Ceará, fez o Curso Fundamental, em Fortaleza, no Instituto São Luís; o Pré-Jurídico, no então Liceu do Ceará e o Curso Jurídico, na Faculdade de Direito do Ceará. Lecionou Português, ainda estudante, em alguns estabelecimentos de ensino e estagiou no Correio do Ceará e Unitário, para fazer jus ao comprovante de sócio efetivo da ACI pela empresa Diários Associados, matrícula nº 580.

Exerceu os cargos de Juiz Preparador Eleitoral, de Promotor de Justiça, no interior e na capital, de Curador de Registros Públicos e de Procurador de Justiça em Fortaleza. Além de haver exercido o magistério em Itapipoca e Sobral, onde fora Promotor de Justiça, também exerceu o cargo de Professor de Português, por concurso, no Colégio Estadual Liceu do Ceará. Também foi Professor de Linguagem Forense, em Cursos de Preparação para Exame de Ordem, na OAB-Ce, e no curso ministrado juntamente com o professor Myrson Lima, em Revisão Gramatical, na ESMEC, em junho de 1998.

Pertence às Academias Brasileira e Cearense da Língua Portuguesa, à Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro no Ceará, à Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni, de Petrópolis-RJ, entre outras, à Associação Cearense do Ministério Público, da qual foi Presidente e editor do seu Boletim Informativo. Tem comenda de honra ao mérito da antiga Fundação Cultural de Fortaleza, diploma de mérito cultural e título de acadêmico honorário da Academia Cearense de Letras e medalha de membro padrão do Ministério Público Cearense. Pertence ainda ao Instituto Cultural do Vale Caririense do Juazeiro do Norte-CE. Casado com D. Maria Diva Ximenes Cabral, cujos filhos, netos e bisnetos do casal promoveram, em 1997, a celebração das suas Bodas de Ouro.

 



Sinésio Cabral: poesia & filosofia


Se é como diz um verso do próprio poeta, “depois que chega o outono, a vida é diferente”, sua presença serena e viva confirma que os anos passaram, mas que seus sonhos continuam.

Qual a finalidade maior do “Mensageiro da Poesia”?

Amenizar, decerto, com o lirismo da vida encontrado na própria vida, o impacto emocional do leitor, ante as cenas de sangue estampadas diariamente, nas páginas dos jornais e na TV. O primeiro editorial veio com o título Pedra de toque. O que eu quis dizer, e é válido ainda hoje como mensagem do jornal, é que estamos em pleno século do robô, do computador, dos cálculos dosimétricos. A força da máquina tenta substituir a memória do homem moderno, perdida em meio ao turbilhão de descobertas científicas. A inteligência humana é insubstituível. O chamado cérebro eletrônico, puramente mecânico, se limita a executar, apenas, tudo aquilo programado pela mente humana. O título do editorial não é mais que um sinal para estar vigilante.

Para o senhor, Procurador de Justiça aposentado, como estão os assuntos pertinentes à esfera jurídica, no plano sócio-político e administrativo do país?

Estão sob o controle imediato e direto de técnicos e burocratas. Tudo se tenta resolver (nem sempre com solução definitiva satisfatória), à revelia das Ciências Jurídicas e Sociais, através dos números.

E que dizer da Poesia?

A Poesia continua viva, universal e eterna. A volta do soneto foi uma das características formais predominantes na geração de 1945, entre o Pós-modernismo e o Neomodernismo, no Brasil. O concretismo de 1956, complicado e artificial, não vingou.

Nos dias de hoje, a Poesia exerce para a humanidade alguma função?

Necessitamos da poesia (rimada e metrificada ou feita de livremetismo), sob o influxo de qualquer estilo de época, para arejar nosso espírito, quase sempre atordoado, em face da inexatidão dos números, na luta incessante pela sobrevivência.

O Mensageiro da Poesia” está filiado a alguma entidade?

Trata-se, no caso, de uma publicação independente, isto é, sem filiação a grupos, clubes ou movimentos impregnados de certo academicismo vulgar. A poesia e a trova estão acima de tudo isso. Onde existe arte existe artista. A arte é um dom de Deus.

Como é feita a seleção dos colaboradores?

A seleção dos colaboradores, no respeitante ao “Mensageiro do Poeta”, não depende da vontade exclusiva do editor, mas da qualidade dos textos escolhidos, levados em consideração o conteúdo e a forma, sem pistolão, sem apadrinhamento.

A Poesia é dotada de corpo e alma?

Sim, toda obra de arte tem corpo e alma, duas partes distintas mas indivisíveis. O corpo, “in casu” , são os versos. A alma não deixa de ser a “idéia do artista que a concebeu”, na feliz expressão de Farias Brito, o maior pensador do Brasil (“O Mundo Interior”).

Existe poesia antiga e moderna?

Sim. É modernista o poeta que sofreu o influxo da primeira fase do Modernismo, no Brasil, compreendida entre 1922 e 1930,e moderno o que não é antigo. Mário de Andrade, por exemplo, foi modernista, quanto ao estilo de época, mas, em tese, cronologicamente, foi moderno e não antigo.

Como professor aposentado do antigo e tradicional Liceu do Ceará, como o senhor vê hoje a falência do ensino público no Brasil?

Com um constrangimento diante de tudo isso que está acontecendo. Mesmo naquela época que assumi, em 1967, já diziam que o Liceu não era o mesmo. No meu tempo os alunos de lá não precisavam fazer cursinho. Era eu no Português e o Tony na Matemática. Eu tinha um plano de curso feito com os alunos e as aulas se davam da seguinte forma: compreensão do texto, localização (corrente estética, etc.) e gramática dentro do próprio texto. Os alunos iam à biblioteca e nós dávamos aulas extras no final do ano, até aos sábados, gratuitamente.

Os compêndios didáticos e os lexicógrafos (Aurélio, por exemplo) falam em poesia lírica e épica. Que dizer sobre isso?

Entre os gêneros literários estão o lírico (poesia) e o narrativo – ficção (romance, conto, novela, etc.); epopéia. Parece até uma redundância a expressão poesia lírica, do gênero lírico. Se é poesia, só pode ser lírica. Há impropriedade de termo também no respeitante à expressão poesia épica. A epopéia pertence ao gênero narrativo e não ao gênero lírico. Se o poema é “Uma obra em verso”, o que é, de fato, épico é o poema e não a poesia. Camões, por exemplo, nos sonetos que integram a sua lírica, é autor de poemas líricos e não de poesias líricas. “Os Lusíadas” constituem um poema épico, não de poesias épicas.

Qual a distinção entre poeta, cantador e letrista?

Aurélio considera poeta (entre outros conceitos) “aquele que faz versos”. Quem faz versos é versejador. Há extraordinários e até mesmo geniais versejadores, cantadores de viola, por vezes animados de sopro lírico, com raras e honrosas exceções, bem assim, letristas (aqueles que fazem letras para noites de São João, festas carnavalescas, festas do interior...), que não saem da lembrança de todos nós. “Mensageiro da Poesia” tem feito transcrições de textos selecionados de cantadores e letristas.

O que é a Academia Cearense da Língua Portuguesa? Qual o trabalho desenvolvido e como?

Eu sou membro da Academia desde a sua fundação, em 28 de outubro de 1977. Ela se propõe a estudar a Língua Portuguesa. No último sábado de cada mês, um membro palestrante disserta sobre um determinado assunto gramatical ou filológico, em função de textos. Há também uma revista anual de distribuição gratuita nas reuniões que atualmente estão acontecendo na Universidade Federal do Ceará. O atual presidente da Academia é o Professor Vianney Mesquita.
 

 

 

 

05/05/2005