Sinvaline Pinheiro
Reflexão
O vento sopra frio, as flores do caju
entram pela casa trazendo notícias de bons frutos. Tudo é sinalizado
ao som do tempo que não existe, a não ser na cabeça dos homens, tudo
é infinito, as águas do Machambombo correm levando o lixo, os
detritos, vão procurar um lugar mais limpo onde vão deixando às
margens a sujeira que não lhes impregnou.
Ficou sujo foi quem jogou o lixo, ficou pobre , só, sem água para l
he matar a sede, a natureza não compartilha das conseqüências que
lhe causam os homens, ela é imune, renasce sempre, procura quem lhe
quer de verdade, deixando à mercê de seus atos os homens que lhe
maltratam, sem saber que no fundo matam a si mesmos...
A mulher joga o saco de lixo, limpa as mãos, levanta a cabeça e se
vai certa de que está tudo bem, Deus não a deixará ficar sem água...
Uma flor solitária pulou na correnteza, querendo fugir também...as
pedras enormes testemunham tudo, caladas, o lodo sobre elas registra
as ações impensadas.
Alguém tem os olhos tristes, profundos, é mais um contra uma
multidão. Grita, grita, não ouvem sua voz, já ficando rouca clamando
pela natureza que chora junto com ele. Os homens continuam surdos,
indiferentes, se deterioram inconscientemente...
Fica agora uma sensação de vazio, não podemos ser felizes aqui, não
podemos dormir um sono tranqüilo diante de tanta devastação...
Fica um grito no espaço, uns olhos que choram, uma mão levantada
para o alto pedindo clemência e um mundo de indiferença que
contrasta com a luta incansável dos defensores da natureza..
Um outro mundo dentro desse mundo violento, indiferente à vida que
brota a cada segundo na força da semente que germina, na voz dessa
gente simples, no som da flauta, na voz contagiante, no desafio das
árvores que se vestem de flores magnificando o cerrado que insiste
em viver, apesar de tudo...
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