Tânia Diniz
Uma Lenda
Era uma menininha de pele esverdeada e hábitos singulares.
Vagava pela floresta sempre só. Gostava de balançar-se nos cipós,
subir nas árvores e implicar com os macacos.
Pendurava-se nos barrancos à beira dos rios para ver a correnteza e
os peixes. Às vezes seus longos cabelos tocavam as águas.
E chorava. Chorava sempre, por tudo e por nada. Por um bichinho
interessante, pela gostosa brincadeira, pela linda flor, por um
arranhão no espinho, pelo pôr-do-sol, pela luz da lua. O verde de
seus olhos boiava constante em lágrimas.
Um dia desejou ser tão bela como a vitória-régia.
Debruçou-se à beira do rio e contemplou a flor horas a fio, dias a
fio.
Olhava-a e esperava tornar-se como ela. E tanto chorou que acabou
secando, o corpo fininho preso à margem,os dedos como raízes, os
cabelos ao vento.
Então Ci, a deusa da floresta, que a tudo assistira de sua
constelação, ficou com tanta pena dela que a transformou. E surgiu a
Samambaia chorona.
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