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Atualizado em: 8.9.2000
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Tarso M. de Melo
Uma notícia biográfica 

Poesia: Direto para página de Elson Fróes

Ensaio e crítica

  1. Resenha sobre livros: Elisa Tessler/Manoel Ricardo de Lima e Fabiano Calixto 
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Tarso M. de Melo
Veias ainda não vazadas na poesia
Dois jovens e uma artista plástica questionam um panorama conservador que impõe seus limites e suas tradições a uma literatura hoje acomodada 
Elisa Tessler,
Manoel Ricardo de Lima

 
Dois livros lançados há pouco dão a dimensão do que vem acontecendo na poesia brasileira: um, ao apontar para as interfaces que a poesia pode buscar para multiplicar-se; outro, ao assumir a forma da língua viva e entrecortada da cidade e seus sons; e os dois, juntos, mostram como os mais jovens podem encontrar veias ainda não vazadas na poesia. 

         Em Falas Inacabadas, fotografias dos inventos plásticos da gaúcha Elida Tessler escapam de páginas desdobráveis compartilhadas com o poeta cearense Manoel Ricardo de Lima, e não passa desapercebido o fato de que a costura do livro seja aparente, externa, para lembrar que ali está um só trabalho: não são duas falas inacabadas aproximando-se com o objetivo de fortalecerem uma à outra. São duas falas que se costuram e, mesmo juntas, amarradas, permanecem, pois assim preservam-se, inacabadas, precárias, insuficientes, como o mundo circunstante.
O livro é isto: uma leitura/escritura do mundo circunstante, um mundo que não se limita a Fortaleza, de Manoel, nem a Porto Alegre, de Elida. Falas Inacabadas admite que “a melancolia abrange e transforma cada não dizer das falas”, e por isso a incorpora, assumindo a forma dos mundos de todas as pessoas: formações interrompidas, palavras pela metade, conversas elípticas, sons sem sentido, imagens inconstantes, esboços, pedaços, destroços. E disso tudo saltando infinitas possibilidades de diálogo, em que, adjetivando as falas, ‘inacabada’ é sinônimo de ‘sem fim’ e reconstrói o discurso incompleto a partir de suas próprias faltas. 
Os poemas de Manoel, ao redimensionar e redirecionar as pessoas que Elida faz pensarmos que já passaram pelas imagens do livro, confundem naquelas pessoas que não estão ali as pessoas do poeta e as pessoas da artista, umas de Fortaleza (onde Manoel se encontra) e as outras de Porto Alegre (de onde Elida as retira) e transformam estes ausentes na única certeza do livro, varado e vazio deles. 
Já na Fábrica, do poeta Fabiano Calixto, pernambucano residente no ABC paulista, há, como se suspeita de seu título, a incorporação do ronco maçante, da algaravia, da irritação, da decadência, enfim, da vida no momento crítico por que passam as cidades, vida forçosamente submetida a padronizações nada igualitárias, mas sim perpetuantes de diferenças acentuadas. Poesia urbana não da rua, mas do que é a rua dentro de casa e da cabeça, do mundo do trabalho e da convivência. 
A voz do poeta não mimetiza a voz de fora para poder circular. Sua voz fecha-se: fala de leituras, fala de flores, fala de vidro, fala de plástico, fala do que não viu. Fábrica recobra momentos da memória e sua voz – como a pele no poema “17:49” – fica “povoada de arrepios”, o que faz da poesia de Fabiano, por trás de uma espécie de dureza que tem suas raízes em vários poetas brasileiros desta metade do século, uma poesia de imagens líricas, de cenas em que, por exemplo, observa-se alguém “dormindo sob/ as pálpebras enfloradas/ da primavera” ou os cigarros fumados para passar o tempo se converterem em esperas acesas pelo tempo de uma estrela.
A poesia de Fabiano Calixto demonstra vitalidade rara não só entre poetas da sua geração, mas que também não se encontra facilmente mesmo entre poetas cujo nome ouvimos sempre, sejam eles de quaisquer das categorias que têm utilizado vez ou outra para identificar as diferenças entre os poetas atuais, dos novos aos velhos. Um livro como Fábrica é resposta segura aos tantos atentados cometidos contra a poesia. 
Se a poesia feita no Brasil hoje, especialmente entre os jovens, pode ser caracterizada pelo que supõe de variedade e de buscas diferenciadas talvez a um lugar nenhum, estes dois livros são para esse contexto a medida de qualidade que, em visão histórica conjunta, aguardamos. 

 

 

FALAS INACABADAS, OBJETOS E UM POEMA, de Elida Tessler e Manoel Ricardo de Lima. Tomo Editorial, 48 págs. R$ 20,00. 

FÁBRICA, de Fabiano Calixto. Alpharrabio Edições, 64 págs. R$ 15,00.

Tarso M. de Melo é poeta, autor de A lapso (Alpharrabio, 1999), e editor da revista Monturo
(in Estado de São Paulo, Caderno 2, 8.8.2000)

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