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Jornal do Conto

Vivaldo Lima de Magalhães




Onirismo



 

Meu querido diário, hoje, apesar de ter dormido tarde, acordei disposto. Eu, meus pais e irmãos vimos passar as férias na fazenda. Pela manhã dei um passeio a cavalo pelos arredores, acompanhado de meus irmãos. Visitamos a fábrica de laticínio, comemos queijo, doce de leite e bebemos leite fresco, tirado na hora. Por volta das 10 horas da manhã fomos passear de barco no lago da fazenda. Pescamos alguns peixes e tomamos banho no lago.

A manhã estava muito bonita. Ao meio-dia já estávamos de volta. A mamãe já nos esperava muito preocupada, porque soube, através de um empregado, que nós fôramos passear de barco no lago. Dizem que esse lago é artificial e ninguém sabe precisar quando realmente ele foi construído. Sabe-se que há cerca de 10 anos atrás, três anos antes de o papai ter comprado a propriedade, fizeram uma dragagem e encontraram alguns corpos mumificados, que depois de serem examinados e estudados pelo Instituto Nacional de Anatomia, chegou-se à conclusão de que esses corpos teriam vivido há cerca de 2.500 anos atrás, muito antes do descobrimento do Brasil. Até hoje o mistério permanece, pois estudos revelaram tratar-se de seres humanos, com altura média de 2,50m de altura, cor branca e idade aproximada de 30 anos. Pelo que ficou constatado, não eram índios, mas seres de outra região. Mas de que parte do Globo?... Seriam extraterrestres?...

Bem, o fato é que depois do passeio fomos tomar o nosso banho de chuveiro e, em seguida, a mamãe preparou o nosso almoço. Comemos pato assado, farofa de azeitonas com ameixas, macarrão ao molho de queijo e leite, nhoque e salada de legumes. O refresco foi de cenoura com laranja e a sobremesa geléia de jaboticaba com queijo pasteurizado.

Depois do almoço saímos de novo para passear. Desta vez fomos de charrete, para visitarmos outras partes da fazenda, onde estão localizadas as plantações de milho, feijão, arroz e soja e as pastagens.

À noite, fomos visitados por alguns amigos de meus pais. Enquanto eles jogavam cartas e conversavam sobre as próximas colheitas, no andar térreo de nossa casa, resolvi recolher-me ao quarto, para acabar de ler um livro sobre “Os Mistérios da Natureza”. Meus irmãos resolveram disputar uma partida de pingue-pongue na varanda do 1º andar. Depois da leitura do livro, caí num sono profundo e sonhei que estava num país submerso, onde as casas eram verdadeiros palácios coloridos, circundados de colunas de mármore de Carrara, com portas de metal amarelo encrostadas de pedras preciosas, onde a cor púrpura, amarelo, verde e prateado predominavam no ambiente. Eu estava vestido de roupas de veludo branco, com aplicações de desenhos sinuosos em ouro, salpicados de esmeraldas e rubis e, sobre os ombros, um manto verde com forro de seda vermelho, compunham as minhas vestes.

Caminhava em direção à sacada do palácio, tendo à minha frente a às minhas costas uma comitiva de súditos (estava exatamente no meio dos dois grupos, com espaço entre um e outro, e bem protegido). Ao chegar à sacada, fui aclamado pela multidão, que me saudava com as seguintes palavras: “Oh, Grande Rei Kavi Ganeshi! Nós te louvamos e imploramos ao Senhor Deus que lhe dê força e vida longa, pois és a nossa esperança, a nossa salvação e a nossa felicidade.. A ti, tudo devemos – os nossos bens materiais, a nossa casa, o nosso gado e a nossa terra. Tu és a dádiva dos céus... Só a ti, oh Grande Kavi Ganeshi, poderemos depositar a nossa confiança, para alcançar o paraíso...”

Mas, quando eu ia agradecer as palavras do porta-voz do meu povo, acordei... Hoje, naturalmente, teremos outras coisas para apreciar, antes de retornarmos à cidade.
 

 

 

 

19/01/2005