Jornal de Poesia
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Armando Freitas Filho
Rua Cândido Gaffrée, 102 - Urca -
22.291-080 - Rio de Janeiro, RJ


Uma notícia da revista Época


ARMANDO FREITAS FILHO
 

 O corpo
 

  Acrobata enredado
  Em clausura de pele
  Sem nenhuma ruptura
  Para aonde me leva
  Sua estrutura?

  Doce máquina
  Com engrenagem de músculos
  Suspiro e rangido
  O espaço devora
  Seu movimento
  (Braços e pernas
  sem explosão)

  Engenho de febre
  Sono e lembrança
  Que arma
  E desarma minha morte
  Em armadura de treva.
 
 

 

Traduzioni di Giampaolo ToniniIl 
 

Corpo
 

  Acrobata rinchiuso
  In involucro di pelle
  Senza nessuna rottura
  Verso dove mi porta
  La sua struttura?

  Dolce macchina
  Con ingranaggi di muscoli
  Sospiri e cigolii
  Lo spazio divora
  il suo movimento
  (Braccia e gambe
  non a scoppio)

  Congegno di febbre
  Sonno e memoria
  Che arma
  E disarma la mia morte
  in armatura di tenebra.
 
 

 

 A felicidade pode ser de carne
 

  A felicidade pode ser de carne
  de pele apenas - corpo sem cara
  nem cabeça, mas com a boca máxima
  e muitos braços, peitos, coxa
  perna musculosa, clavícula
  omoplata, ventre liso esticado
  peludo no lugar certo do sexo
  e mais o cheiro preciso, exasperado
  da axila, virilha, pé
  tudo chegando junto, de uma vez
  ou aos poucos, esquartejado.

 La felicità può essere di carne
 

  La felicità può essere di carne
  di pelle appena - corpo senza volto
  né testa, ma con la bocca enorme
  e molte braccia, seni, coscia
  gamba muscolosa, clavicola
  scapola, ventre liscio teso
  peloso nel posto giusto del sesso
  e in più l’odore deciso, penetrante
  dell’ascella, dell’inguine, del piede
  che arriva tutto assieme, di colpo
  o poco a poco, frammentato.

  Capital federal
 

  A planta no plano
  avança na ampla
  pauta do espaço:
  apalpa - planalto

    brotam do barro
    bruto da brenha
    casas e queixas
    no caos de breu

  as pedras se apuram
  em prédios: maquette
  imaculada maquillage
  de cal e de mármore

    no lixo e na lama
    o novelo da vida:
    as linhas do luto
    os lanhos da luta

  trevos de asfalto
  e fôlego: trançados
  trajetos traçados
  sem trégua: a régua

    tendas de toldos
    rotos: as ruas
    se rasgam tortas
    na terra puída

  palácios de papel
  almaço - cenário:
  lua de cartolina
  lago de celofane

    o povo se empilha
    em casas capengas
    em choças de palha
    esgarçada: palhoças

   monumento - movimento
  de sol de pedra de
  vento - se estampa
  na página do espaço

    borrão de barro
    no branco - mancha
    marcha multidão
    crescendo do chão.
 

  Capitale federale
 

  La pianta nel piano
  avanza nell’ampia
  pagina dello spazio:
  palpa - altopiano

    Spuntan dal suolo
    bruto della selva
    case e lamenti
    nel caos di pece

  le pietre si trasformano
  in palazzi: maquette
  immacolato maquillage
  di calce e di marmo

    nel pattume e nel limo
    l’intrico della vita:
    i fili del lutto
    le ferite della lotta

  quadrifogli d’asfalto
  e di respiro: intrecciati
  tragitti tracciati
  senza tregua: a squadra.

    tende di teli
    rotti: le vie
    si aprono torte
    nella terra battuta

  palazzi di carta
  bollata - scenario:
  luna di cartoncino
  lago di cellofan

    il popolo si ammassa
    in case fatiscenti
    in tuguri di paglia

    sfibrata: capanne
  di sole di pietra di
  vento - si stampa
  nella pagina dello spazio

    schizzo di fango
    sul bianco - macchia
    marcia popolo
    che sorgi dalla terra.

 Ravel
 

  Todo telefone é terrível - negro
  guerrilheiro, à escuta na sala
  disfarçado ao lado do sofá
  à espera, no gancho
  sempre na véspera
  com o grampo da granada
  já nos dentes.
  A única saída é ocupá-lo
  para que não estoure
  (não posso te agarrar daqui
  nem pelos fios dos cabelos
  pare antes que toque
  e o infinito acabe).
  Todo terrível é telefone - negro
  à escuta
  guerrilheiro à espera
  ao lado do sofá
  disfarçado na sala
  na véspera da granada
  com o grampo nos dentes fora do gancho
  ocupando a única saída
  para que não estoure
  (não posso nem pelos cabelos
  antes que acabe e toque
  o infinito, te agarrar, nos fios, pare
  daí).
 
 

 Ravel
 

  Ogni telefono è terribile - nero
  guerrigliero, in ascolto nel salotto
  appostato accanto al sofà
  in agguato, in sella al suo gancio
  sempre in attesa
  con la sicura della bomba
  già tra i denti.
  L’unica via d’uscita è occuparlo
  per non farlo esplodere
  (per un pelo non ti posso afferrare da qui
  neanche per i tuoi filiformi capelli
  fermati prima di suonare
  e di finire l’infinito).
  Ogni terribile è telefono - nero
  in ascolto
  guerrigliero in agguato
  accanto al sofà
  appostato nel salotto
  in attesa della bomba
  con la sicura tra i denti fuor d’ogni aggancio
  occupante l’unica via d’uscita
  per non farlo esplodere
  (non posso nemmeno per i capelli
  prima che finisca e suoni
  l’infinito, afferrarti, per i fili, fermati
  lì)

 Matéria
 

  Parece que os séculos
  cuidam dos castelos
  que no alto das montanhas
  são o sonho das pedras
  ou o desejo das nuvens.
  Escrever é uma pedreira.
  Se me atirasse daqui
  de uma de suas torres de marfim
  cairia, talvez
  inteiro
  em corpo reduzido
  na página de qualquer jornal.
  Escrever é uma pedraria.

 Materia
 

  Sembra che i secoli
  abbian cura dei castelli
  che sulle cime dei monti
  sono il sogno delle pietre
  o il desiderio delle nuvole.
  Scrivere è una cava di pietra.
  Se mi gettassi da qui
  da una delle sue torri d’avorio
  cadrei, forse
  illeso
  in corpo ridotto
  sulla pagina di un giornale qualunque.
  Scrivere è scolpire la pietra

  Comunicações
 

  Eu falo de mim - daqui -,
    desta central,
   pelo microfone do corpo,
  por esse fio que vem do fundo
    eu me irradio:

  assim, numa transmissão de
   sustos e rangidos,
  veia e voz - ao vivo - sob tanto
   sangue: - pantera escarlate
   que passa e pisa

  e se espatifa nesse chão:
   pata de lacre,
  grito! pingo sobre o alvo
  tão tátil da minha carne,
    nos panos

  instantâneos do meu espanto
    nas janelas
   onde me debruço sucessivo
   e vário, seqüência de mim,
    em fotonovelas

  me desdobro - quadro por quadro,
    nos desenhos
   de dentro do que sou e projeto,
   aos poucos, - plano e pausa -
    para fora

   com a vida que me veste
    pelo avesso:
  - filmes de sêmen onde publico
  figuras de suor e celulóide,
    numa lâmina

  de velocidade e de lembrança,
    em fotogramas
  de esperas e posturas - falha,
  folha de slides-células, sopro
    e pulso, 
página de pele em que escrevo
    o uso
  a articulada letra do meu gesto,
  o rascunho de rugas & rasuras
    feito à unha

  nas nuas marcas do meu corpo
    no espaço,
   e nos lençóis da claridade,
  monograma, silueta, cadência,
    e a fala

   que se imprime nesta fita,
    neste sulco:
  - a linguagem como um fim,
   - a linguagem por um fio,
   e a morte em morse

  Comunicazioni
 

  Io parlo di me - da qui -,
    da questa centrale,
   al microfono del corpo,
  da questo filo che viene dal fondo
    io mi irradio:

  così, in una trasmissione di
   sussulti e stridii,
  arteria e voce - dal vivo - sotto tanto
   sangue: pantera scarlatta
   che passa e accelera

  e si sfracella su questo suolo:
   zampa di ceralacca,
  grido! goccia sul bianco bersaglio
  così tattile della mia carne,
    sulle scene

  istantanee del mio stupore
    sulle finestre
   dove mi affaccio successivo
   e vario, sequenza di me,
    in fotoromanzi

  mi manifesto - quadro per quadro,
    nei disegni
   all’interno di ciò che sono e che proietto,
   poco a poco, - piano e pausa -
    all’esterno

   con la vita che mi veste
    alla rovescia:
  - film di seme dove mostro
  figure di sudore e celluloide,
    in una lamina

  di rapidità e di ricordo,
    in fotogrammi
  di attese e posture - frammento,
  foglio di slides-cellule, respiro
    e polso,
  pagina di pelle su cui scrivo
    l’uso
  l’articolata lettera del mio gesto,
  l’abbozzo di rughe & raschiature
    fatto a mano

  sulle nette impronte del mio corpo
    nello spazio,
   e nelle distese luminose,
  monogramma, siluetta, cadenza,
    e la voce

   che si incide in questo nastro,
    in questo solco:
  - il linguaggio come fine,
   - il linguaggio per un filo,
   e la morte in morse

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Vozes Poéticas da Lusofonia