Ruy Espinheira Filho
A Poesia de SF
Li — finalmente!
— o ensaio Os Poemas da Besta e os poema Femina, Rio Macacos e Uma
Canção Distante. Os seus poemas possuem, sem dúvida, o que
costumamos chamar poesia. Coisa nada comum num país em que, desde o
início das “varguardas” formalistas, a produção “poética” não tem
tricotado senão truquezinhos, numa trapaçaria que é um insulto à
sensibilidade e à inteligência do leitor.
Poesia, sim, é o
que você oferece — uma poesia nada convencional, pelo contrário:
cheia de humor, irreverente, chegando à provocação, à insolência. E,
ao mesmo tempo, lírica, dentro da tradição do nosso melhor lirismo
(como, por exemplo, o lirismo profundo e livre de ornamentos inúteis
como o de Ascenso Ferreira e de alguns momentos de Jorge de Lima).
Não sou crítico,
como você sabe, mas apenas um velho leitor de poesia — e a minha
opinião não é mais do que isto: a opinião de um leitor. Esta é a
razão pela qual tanto evito exteriorizar minhas impressões sobre
obras alheias — o que às vezes pode fazer com que minha atitude
pareça coisa de indiferença, arrogância, soberba, por aí. E há outro
problema: estou sempre cheio de coisas pra fazer — sobretudo agora,
com a redação da minha tese de doutorado. Entre os originais de
jovens autores e novos lançamentos, estou devendo resposta a muita
gente... O que me incomoda bastante, creia, pois sou o tipo de
sujeito que não fica indiferente a nada. E o pior é que a maioria
dos textos que me mandam está abaixo de qualquer crítica, o que me
deixa angustiado.
Mas de vez em
quando, felizmente, recebo literatura como a sua — e é um alívio,
pois posso dizer o que penso com tranqüilidade. E, para finalizar,
digo que, para mim, o que você escreve é verdadeiramente seu. Está
dentro de uma tradição, é claro, mas trata-se de uma produção
inteiramente pessoal. E este é, em suma, o papel do artista:
recolher a riqueza da tradição e passá-la adiante ainda mais
enriquecida pela a sua contribuição pessoal.
Quanto ao seu
texto sobre os poemas (Os Poemas da Besta), a mesma característica
você é um crítico extremamente pessoal, trabalhando sem ornamentos,
regidos quase que tão somente pela própria sensibilidade. E, assim,
vai provocando, descobrindo, revelando — o que é exatamente o papel
do crítico, do ensaísta, de todo aquele que escreve sobre
manifestações artísticas.
Bom, acho que já
conversei demais. Meus parabéns — duplos: pela poesia e pela prosa.
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