Desde sempre
a cobra morde o próprio rabo,
e tudo recomeça e se acaba
numa mandala girante,
e vira e mexe e volta,
e vai ser bruta matéria
refinada pelo papo
de alguma pelikan
sangrando de azul
as penas de garças afoitas:
folhas brancas em campo blau.
À benção poeta!
Tudo é tema para poesia.
Teu tributo é teu poema,
que pagas no reverso do verso
e se abusa da paciência
e dos cegos aspeados de plantão.
Onde, os dracmas
dos donos do drama?
Com Mandrakes?
Tua pena não se aluga
se doa a Bil que é Severino,
e a Ribamar que é José
saídos de ventres marianos.
No circo
erras pelo picadeiro,
e ficas com os atirados
às feras de sempre:
retirantes do barreiro,
os mesmos moldados
filhos do barro
barrotes do oleir-Mór - Ele.
E os outros assistem
da platéia
a argila se derretendo
viscosa
para o repasto ardiloso
de muitos leões famintos.
Dai a César então
os muitos partos,
a moeda nascitura
cesariana
bem-vinda de dúvidas
no forceps da dívida.
Ó tributário rio
contrariando Heráclito
tu voltas em eterno retorno
e deságuas nas mágoas
de versos ressequidos
para a goela de muitos orós
para as águas grandes
de marombas manjedouras
de palafitas alagadas
em alugadas preces.
Até quando abusarás? |