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Aníbal Beça

Manaus, AM, 13/09/1946 - Manaus, AM, 25/08/2009

Poesia :


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna Crítica:


Alguma notícia do autor:

 

Allan Banks, USA, Hanna Franz Xavier Winterhalter, retrato de Roza Potocka

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

Aníbal Beça



Biografia


 

Aníbal Beça era amazonense de Manaus, onde nasceu a 13 de setembro de 1946 e faleceu aos 25 de agosto de 2009. Era poeta, compositor e jornalista. Desde muito cedo colabora em suplementos literários e em publicações similares nacionais e internacionais.

Dividiu seus primeiros estudos entre colégios de Manaus (Aparecida, Dom Bosco e Brasileiro) e em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul (Colégio São Jacó). Durante sua permanência no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre, travou conhecimento com o poeta Mario Quintana, quem lhe deu os primeiros ensinamentos e o estímulo para caminhar pelas veredas da poesia.

Especialista em tecnologia educacional na área de Comunicação Social (UFRJ), Teve passagens, como repórter, redator, colunista, copy-desk e editor, em todas as redações dos jornais de Manaus, do ínicio da década de 60 até final da década de 80; foi diretor de produção da Televisão Educativa do Amazonas - TVE. Atualmente é consultor da Secretaria de Cultura e Turismo do Amazonas. Idealizador e Editor-geral do suplemento literário "O Muhra", de circulação bi-mestral, editado pela referida secretaria.

Envolvido com teatro, artes plásticas, é na música popular que a sua contribuição se faz mais efetiva como compositor, letrista e produtor de espetáculos e de discos. Desde 1968, quando venceu o I Festival da Canção do Amazonas, Aníbal foi colecionando prêmios com mais de 18 primeiros lugares em festivais em sua terra, no Brasil e no exterior. Representou o Brasil no VIII Festival de Joropo de Villa Vicencio, Colômbia (1969).

Foi o único artista amazonense a se classificar e se apresentar no Festival Internacional da Canção FIC, em 1970, com a música "Lundu do Terreiro de Fogo", defendida pela cantora Ângela Maria.

Tem músicas gravadas por vários artistas brasileiros como: As Gatas, Coral JOAB, Felicidade Suzy, Nilson Chaves, Eudes Fraga, Lucinha Cabral, Dominguinhos do Estácio; Bira Hawaí, Aroldo Melodia, Jander, Raízes Caboclas, Mureru, Roberto Dibo, Célio Cruz, Torrinho, Arlindo Junior, Paulo Onça, Paulo André Barata, Almino Henrique, Pedrinho Cavalero, Pedro Callado, Delço Taynara, Grupo Tynbre e outros.

Aníbal Beça, além da sua condição artística é produtor e animador cultural nato. É profissional que, nos tempos atuais, se encaixa no rótulo de multimídia, tal a sua abrangência na área artística.

Sua participação política tem-se plasmado no âmbito de entidades de classe, como diretor do Sindicato dos Escritores, presidente da ACLIA Associação de Compositores, Letristas e Intérpretes do Amazonas, Presidente do Coletivo Gens da Selva (ONG), Vice-Presidente da UBE-AM União Brasileira de Escritores, seção Amazonas.

Seu trânsito amplo, por diversos setores artísticos, que se estende até à manifestação da arte mais popular brasileira, o carnaval, fez com que fosse lembrado, e merecidamente homenageado, este ano de 99, como tema de enredo "Aníbal Bom à Beça" da Escola de Samba "Sem Compromisso".

Fez parte da Ala dos Compositores das Escolas de Samba Reino Unido da Liberdade e Sem Compromisso, dando a esta última, seu único título pela autoria do enredo e do samba de enredo "Joana Galante - Axé dos Orixás", e classificou a referida escola entre as três primeiras colocações com os samba de enredo: "Hotel Cassina - Apoteose Boêmia", "Hoje tem Guarany", "Vento e sol, passa cerol - A Arte de empinar papagaios" ; "Sol de Feira - O pregão da Alegria".

Seu primeiro livro Convite Frugal, data de 1966 (este ano, comemora 33 anos de atividade literária e 35 de produção musical).

A propósito de sua poesia, o poeta Carlos Drummond de Andrade, teceu, em 31 de julho de 1987 - pouco antes de morrer - o comentário: "Li Filhos da Várzea, os poemas-pôster e os haicais afetuosamente a mim dedicados. Obrigado por tudo, meu caro poeta. É de coração aberto que lhe desejo a maior receptividade pública e compreensão para a bela poesia que está elaborando e que, espero, marcará seu nome como um dos que engrandeceram o cultivo artístico do verso." Em 1994, com o livro Suíte para os Habitantes da Noite, sagrou-se vencedor, dentre 7.038 livros de todo o país, do 6º Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira - categoria poesia. O livro, lançado sob o selo da editora Paz e Terra, saiu em 1995.

Outros livros: Filhos da Várzea, ed. Madrugada, 1984, abrigando o livro Hora Nua; Marupiara - Antologia de Novos Poetas do Amazonas, (organizador) Ed. Governo do Estado do Amazonas, 1985; Quem foi ao vento, perdeu o assento (Teatro) Ed. SEMEC, 1986; Itinerário poético da Noite Desmedida à Mínima Fratura, Ed. Madrugada, 1987; Banda de Asa - poesia reunida - Ed. Sette Letras, 1998; contendo o livro inédito Ter/na colheita.

Foi Membro da UBE , União Brasileira de Escritores, do Coletivo Gens da Selva (ONG) e do Clube da Madrugada, entidade instauradora dos movimentos renovadores no campo literário e artístico do Amazonas.

Em junho de 99, representou o Brasil no VIII Festival Internacional de Poesia de Medellín, e em agosto/99 no Encontro Internacional de Escritores da Associação Americana para o desenvolvimento cultural, em Bogotá.

Tem participação em diversas antologias: A Nova Poesia Brasileira de Olga Savary; A Poesia do sec. XX - Amazonas de Assis Brasil; Poesia Sempre da Fund. Biblioteca Nacional.; Antologia FUI EU de Eunice Arruda; Saciedade de Poetas Vivos: erótica e de haicais, de Leila Miccollis e Urhacy Faustino.



Bibliografia

 

  • Convite Frugal, Ed. Gov. do Estado do Amazonas, Manaus, 1966
    Filhos da Várzea e outros poemas(abrigando o livro Hora Nua),
    Casa Madrugada Editora, Manaus,1984.

  • Itinerário da Noite Desmedida à Mínima Fratura, Casa Editora Madrugada, Manaus, 1987.

  • Quem foi ao vento, perdeu o assento, (Teatro) Edições SEMEC, Manaus, 1987.

  • Marupiara - Antologia de Novos Poetas do Amazonas, (organizador) Ed. Gov. do Estado do Amazonas, Manaus, 1989.

  • Suíte para os Habitantes da Noite, Editora Paz e Terra, São Paulo (Vencedor do VI Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira), 1995.

  • Banda da Asa - poemas reunidos - Editora Sette Letras, Rio de Janeiro, 1998.


    PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS
     

  • Antologia da Cultura Amazônica, Carlos Rocque, Belém, 1968
     

  • Antologia UBE - Alcides Werk, Manaus, 1987
     

  • Saciedade dos Poetas Vivos - Haicais - Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1993
     

  • Saciedade dos Poetas Vivos - Erótica - Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1993
     

  • Antologia da Nova Poesia Brasileira, Olga Savary, Rio, 1990

     

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

 

 

 

 

 

 

 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

Aníbal Beça



Oblação


Alma que não enferruja
é aquela que se lava
nas corredeiras do longe
e vira espuma na água.

Por que o perto põe à mostra
todo e qualquer azinhavre
nódoa na dobra das horas
e não tem água que o lave.

Água dita: buena dicha
bendita de mala sorte
que a alma que embala a vida
leva o refrão e seu corte.

A receita está no tempo
que limpa todas as marcas
e cobre num véu de névoa
a culpa de toda carga.

Encoberta pela brisa
a alma nova descansa
rio que vai para o mar
lambendo o sal dessa dança.


 

Da Vinci, La Scapigliata, detail

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

Aníbal Beça


 

Haicais no País do Carnaval
Para Millor Fernandes
 


Carnaval
ritmo de marcha:
chora um pierrô na hora
negra que atarraxa.

maestro
o momo balança
sensual no carnaval
a ginga da pança.

trio elétrico
se o povo balança
nem sempre é feliz quem tem
a alegre frevança.

milagre
na dança do samba
Brasil: desfile de anil
no jeito de bamba.

brasileiríssima
o bloco dos sujos
em trote leva o pacote
dos próprios sabujos.

4ª feira ingrata
fim de carnaval
acorda o Brasil nas hordas
do choro geral.

pavio curto
Escutando o mar:
audição na concha o leão
ruge à preamar.

dói
trinar de canário
é o canto do desencanto
preso no aviário.

porta-voz
um pé lá e cá
o sapo inflando seu papo
em janauacá.

bote
a cobra se apoia
na arquitetura que é dura
casca de jiboia.

rinha
quando o gongo bate
é hora que aflora a espora
do galo em combate.

lição
saí da rasteira
no tombo do seu quilombro
às de capoeira.

dieta
antes de ser já é
pescada a leve fritada
do igarapé.

viagem
a linha descaída
comanda a pipa que panda
rasa e distraída.

capa e espada
o touro na arena
é langue de olhar exangue
nos olés da pena.

fertilidade
vôo de bacurau
candeia em luz que semeia
os grãos do cacau.

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

 

 

Caravagio, Tenta��o de S�o Tom�, detalhe

Aníbal Beça



Manejo Anagramático
Para Carlos Nejar


Fausto fizeste o pacto na palavra
e vens cumprindo pálpebra do chão
teu sono pedra sonho que resvala
pestanejando a canga dessa mão.
Essa pedra tinhosa que tu lavras
sai do teu manejar de mansidão.
Desse trote tropeiro que se alastra
fogoso de garupa em danação.

E por que tudo em ti poreja vida
as águas da memória te celebram
nessas chuvas de fogo da invenção.

Teus sons voltam e vão sem despedida
nos cravos dos meus cascos que penetram
furtivos teus fonemas da paixão.

II

Fausto fizeste o pacto que te ferve
na palavra de pálpebra que invade
teu sono pedra sonho em semibreves
pestanejando o canto sem alarde.

Essa pedra tinhosa que vai leve
sai do teu manejar de claridade
galope de cavalo das estepes
que vem cobrir a vida pelas tardes.

E por que tudo em ti parteja vida
aquelas águas grávidas celebram
essas chuvas de fogo da invenção.

Teus sons voltam e vão sem despedida
lambendo os mesmos versos que penetram
meu canto que se banha na canção.

Paris 29/03/98

 

Caravagio, Tenta��o de S�o Tom�, detalhe

 

 

 

 

 

 

 

Aníbal Beça



El Don de la Amistad



Amigo no tiene día para alabar.
Toda hora es hora hache.
Amigo con defecto no existe,
todo es bueno que se aviste.
Y más que todo todo es maravilla.
Hay los que son como islas.
Los cercados de amigos de verdad
en las águas de la amistad.
Este Don es de pocos, ya se lo sabe.
Voluntad que se cabe en si y
sin alarde, mas que invade
la vida, sus percances y castigos,
ese nudo tan antiguo
deshecho en una palabra sóla: AMIGO!


 

 

 

 

 

 

 

 

Jean L�on G�r�me (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

Aníbal Beça



Chorinho Manuelino



Sempre à toa

    em meu disfarce
vou levando a
                 pena
da andorinha
do mano
  tísico
que fincou sua
bandeira
nas asas
         de
várias manhãs
me dando lições
                  de partir

sempre
ficando.



 

Jean L�on G�r�me (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

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