Abilio Terra Junior
Em um caminho desconhecido
Neblina, água
que passa, rasa em seu longo leito. Muitas árvores, espalhadas,
antigas. A boca da grande gruta, escura.
Caminho na água
e vejo o reflexo da luz na neblina, por trás da grande gruta. É o
medo, o anseio frente ao desconhecido que sinto, fremente em mim.
Muitos morreram
nessa busca. Seus corpos jazem dependurados em cordas gastas pelo
tempo. Restaram apenas ossos com restos de carne seca e podre,
carcomida pelos vermes.
Contorno a
grande gruta e tento vislumbrar a luz desconhecida em um local
invisível aos meus sentidos. Pode ser o espaço indefinido ou um
nicho escondido.
Caminho perdido
em um trajeto sem sentido que esbarra em meu ser, que luta dentro de
si na volta sem fim do desabrido.
Há muito percorro esse caminho pedregoso, seja nas águas ou entre as
árvores.
O que sei de
mim? Muito pouco para decifrar o enigma da luz detrás da grande
gruta.
A luz muda de
tonalidade e se reflete nas árvores e arbustos ao meu redor, e no
espelho d'água, que, de transparente passa a escuro e depois a
esverdeado, azulado...
Nessa atmosfera
multicor, perco a noção do espaço. Não sei se caminho entre a luz ou
se sou levado por ela.
O meu próprio
ser parece decomposto em seus múltiplos aspectos pelos tempos sem
fim e perco a noção do meu próprio eu que parece transbordar e se
expandir em múltiplos universos descomunais e sem limites,
desdobrando-se no espaço-tempo.
A pequena flor
amarela me chama a atenção. Ela é, em si mesma, um mundo com sua
identidade própria, mas mutável também junto comigo e tudo que me
cerca, árvores, animais, a grande gruta. Esta última se revela um
imenso buraco-negro que dá acesso à inúmeros mundos, tão múltiplos
quanto a diversidade da natureza.
Sou, ao mesmo
tempo, o cavaleiro-herói e o mendigo-trapeiro, dependendo da
tonalidade da luz que me alcança e me multiplica.
Estou
contornando a grande gruta, atraído pela luz, que tem sua própria
vida.
À medida que me
aproximo, sinto que não poderei chegar à fonte da luz pois serei
esmagado pela sua intensidade.
Percebo que a
luz se origina de um nicho, que mal consigo divisar, atrás da grande
gruta, em um ponto inacessível.
Parece provir de
um cálice, que, em certos momentos se destaca, dentre as emanações
da luz - o Graal!
|