Andréa Santos
O
Tema Razão e Moral dentre a ficção e alguns acontecimentos
contemporâneos.
O homem é um indivíduo que vive em
coletividade. Enquanto ser experimenta desejos e assume
comportamentos que nem sempre são aqueles esperados pela sociedade.
Daí, então, nasce também o problema da relação entre razão e moral.
O que seguir: a moral ou a razão?
De certo modo, elas estão integradas
entre si. De outro, estão em conflito, como a exemplo da literatura:
Em a Divina Comédia quando Dante vê o Paolo Malatesta e Francesca da Rimini condena-os moralmente; contudo, compreende os dois
racionalmente e logo os justifica: "Enquanto o vento é quedo, o que
dirias,/ havemos nós de ouvir atentamente/ Diremos quanto ouvir
desejarias:/.../ Aos dois voltei-me e disse-lhes, entanto:/ teus
martírios, Francesca, me angustiam,/ movem-me o triste, compassivo
pranto". Dante sensibiliza-se, mas é forçado a disfarçar a sua
compreensão já que poderia ser condenado pela percepção do amor
(deles) na época.
Por sua vez, a poesia amorosa de
Boccaccio é diferente, uma vez que as duas concepções de amor
coletivo e individual já estão superadas. Há, agora, uma visão mais
secular na qual amar a vida é algo importantíssimo - a exemplo da
narrativa "Lisabetta de Messina" onde encontramos o amor passional
para além da vida existente, nas seguintes palavras: "Ali, em seu
quarto se confinando em pensamento,/ sobre ela triste e
demoradamente chorou,/ tanto que todas as suas lágrimas lavaram-na,
mil beijos lhe deram em toda parte". Ou: "A moça
que acaba se lamentando e além disso o seu discurso é indeterminado,
morre se lamentando, e portanto termina o seu desventurado amor."
Em 1518, houve o renascimento do
teatro, neste período Nicolò Machiavelli compõe "La Mandragola" uma
obra dentre as tantas importantes que compôs.
Machiavelli - ao contrário dos outros
intelectuais- alcança maior consideração aos problemas da sociedade.
Este conceito encontra-se na notável obra "O Príncipe" (dedicada em
1516 a Lorenzo de’ Medici). Conceito dirigido, sim, ao Príncipe;
porém o seu destinatário real era o povo - onde os ensinamentos ali
abortados deveriam ensiná-los qual a face real do poder. Nenhum
regente deve governar sem o apoio do povo. Reconhece-se que o estado
é o produto da luta de classe. Segundo o autor, os princípios
fundamentais para governar são: em primeiro lugar, o ideal - que o
regente resida no novo estado para ver nascer as revoltas. Daí,
então, temos três modos para administrar as cidades: corrompendo-as,
habitando-as, abandonando-as em autogestão. Dos três, o melhor é o
ideal porque a autogestão mantém as tradições de liberdade as quais
revocam as pessoas a se rebelar. Esta oportunidade pode valorizar a
própria virtude do príncipe. A esta característica é preciso colocar
as armas lado a lado.
"A um príncipe é necessário ter um
povo amigo; caso contrário não tem solução nas adversidades"; "Um
príncipe, para então, ter uma cidade forte e não ser odiado, não
pode ser invadido; caso o seja, o invasor partiria com vergonha" -
Desta forma, nenhum mercenário se agrupa; o príncipe deve ser um
capitão de si mesmo. Melhor ser parcimonioso e fazer alguma doação
ao principado. Deve evitar a fama de cruel, tem que viver com
integridade e fé e não com astúcia. É necessário que ele demonstre
estas qualidades às pessoas: "toda piedade, toda fé, toda
integridade, toda humanidade e toda religião" - "Cada um vê aquilo
que te pareces, poucos te sentem em si mesmo." O regente deve dar
glória ao Estado e ao povo
Ele, ainda, tem que dar honra ao
estado e aos súditos com iniciativa e, interiormente, deve favorecer
os virtuosos, a iniciativa econômica, as artes e os trabalhos. A
melhor coisa é que se circunda de ministros e conselheiros,
escuta-os a tudo, entretanto só ele decide tudo. A obra de
Machiavelli termina com a súplica a Lorenzo De’ Medici, pois
adaptando as sugestões da obra, a Itália livra-se da espera de um
príncipe.
Nos conta Ariosto quando a serviço do
Duque Alfonso que para ter uma "posição melhor" na sociedade e um
salário suficiente para matar a fome da própria família, ele
conseqüentemente é vítima da razão, pois, para conseguir viver
melhor – percebe-se em uma armadilha: O sofrimento pode durar
como a um rouxinol na gaiola...; prefere ser pobre – porém - na
tranqüilidade da sua casa: Em minha casa temos o sabor de nabo...;
dá-se preferência a comer um nabo em paz a estar na corte vendo as
injustiças, todavia a razão o impedira.
Bastou a Aristo observar algumas
cidades, para ansiar estar no país projetado em seus livros amados;
o resto desejaria observá-lo só e exclusivamente através da
imaginação, porque apenas fantasiando é que se sente realmente
livre. Deste modo, ele procura fazer com que o leitor entenda como é
a realidade em "Orlando Furioso" onde a cada história confronta um
castelo encantado, metáfora da decepção e do desejo. Estes dois
aspectos estão ligados entre si - isto é- cada personagem é atraído
ao castelo porque pensa encontrar, ali, o que mais deseja, mas se
engana (trai-se pelo desejo), descobrindo que naquele lugar não há
nada do que ansiava.
Segundo a moral de Atlante: O desejo
é uma corrida para o nada, o feitiço dele concentra todas as cobiças
insatisfeitas no labirinto inacessível; entretanto, não muda as
regras que governam os movimentos dos homens no espaço aberto do
poema e do mundo.
Estas linhas descrevem o equívoco de
alguns homens a pensar que os próprios desejos são reais, enquanto
são eles apenas frutos da imaginação. Este conceito também é
sublinhado no último parágrafo: O palácio, armadilha de sonhos e
desejos e inveja disfarçada -ou seja, ele deixa de ser um espaço
externo - com portas, escadarias e muros, para voltar a encobrir nas
nossas mentes e no labirinto dos pensamentos.
O palácio é a metáfora do desejo
porque todo elemento que o compõe (portas, janelas, etc) representa
parte fundamental para realização dos desejos. Uma outra
interpretação das linhas antecedentes é aquela de interpretar as
portas e as janelas como os olhos que guardam o mundo, ajudando-nos
a compreender que o desejo é uma parte integrante da nossa realidade
pessoal, mas não daquela vivida por nós. É o desejo subjetivo com
diversas interpretações.
Para nós, os anseios estão divididos
em duas faces: a primeira é aquela da qual fazem parte os anseios
inalcançáveis que sobrevivem nas pessoas. Fazem parte da segunda,
àquela que podemos transformar em realidade os objetivos por meio da
própria força de vontade. Esta subdivisão está estabelecida no
próprio indivíduo e em seus meios. Ariosto se distingue, pois,
possui uma razão moral própria e subjetiva.
Já, Tasso alcança uma razão moral
influenciada pelos valores da igreja a tal ponto de enlouquecer já
que a insegurança de seu último trabalho "Jerusalém Libertada"
estivera em contradição com os ideais eclesiásticos. Esta
problemática surgiu das corrupções presentes na igreja, por exemplo
as vendas das indulgências: quando o pobre camponês ou o feudatário
buscava a igreja para ser perdoado dos próprios pecados e pagava
somas de dinheiro para obter a absolvição – e com base na oferta
poderia ganhar o Paraíso.
Depois deste período as pessoas
fartar-se-ão da situação e desejam um outro desenrolar, nasce assim
a igreja protestante com Martin Lutero. Este movimento serve também
para romper com o feudalismo, na verdade - quem quer manter este
critério indugêncial "alia-se" ao Papa. Enquanto a igreja estava
afirmando que o Paraíso se ganhava com as ações dos homens, os
protestantes viam a figura de Deus como inescrutável, sustentando
que a fé era a coisa mais importante e que o destino do homem já
tinha sido decidido por Deus. Em 1572, na França, havia numerosas
comunidades protestantes. Mas, na noite de São Bartolomeu muitos
católicos mataram protestantes, lançando-os ao Senna. A igreja
católica realiza uma contra-reforma dando origem ao Concílio de
Trento que durou 20 a 30 anos; ao fim dele, a igreja reafirma todas
as suas regras. Dali começaram os tribunais da Inquisição que, se
apoiando em suspeitos, torturaram e queimavam qualquer pessoa que
caísse em contradição com os ideias católicos.
Ainda, em "Jerusalém Libertada" (no
tema amor) tem-se aspectos trágicos como nos demonstra Tasso - Poema
épico que observa a primeira cruzada em terra Santa. As guerras que
também encontramos no poema, ali, estão a todo instante, igualmente,
em forma e motivos diferentes.
Um século depois, um dos
protagonistas principais no campo científico-astrológico foi Galileo
Galilei: ele esteve contra igreja para sustentar as suas
considerações sobre a galáxia e o universo. Enquanto a igreja
afirmava que a terra era o centro do universo, Galileo demonstrava o
contrário.
Depois de muitos e muitos anos de
tudo isso, os nossos dias foram acompanhados (há alguns anos) de
sofrimentos referentes a um conflito político-social no Bálcãs;
porque o líder do governo sérvio Milosevic não queria ter um
exército originado ao território de Kosovo. Os aliados estavam
bombardeando o território sérvio destruindo todos os tipos de
recursos econômicos, forçando a fuga do povo aos países
circunvizinhos. Um fenômeno similar a este, se verifica na Turquia
que vem massacrando o povo Curdo, aqui, entretanto ninguém intervém
já que a Turquia é integrante das alianças. Porém, lendo
recentemente a página de um jornal, vejo um artigo que citava uma
conversa entre um jornalista e um kosovo. Este último sustentava que
a sua razão o trouxe a emigrar a diferença da sua moral que o obriga
a sobreviver naquele lugar onde existem para ele os laços e afetos
familiares.
Chego a conclusão que muitas vezes na
vida (fictícia ou não) em tudo e para tudo é difícil saber escolher
a estrada certa, ou quiçá, a mais correta. Porque a vida é rica em
dúvidas, ainda, sendo ela razão ou moral para outras questões...
|