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Luís Vaz de Camões




Por que a vossa beleza a si se vença




Por que a vossa beleza a si se vença,
tais extremos mostrastes
que mais bela ficastes
co passado rigor desta doença.
Assi, depois a descorada rosa,
se reverdece, fica mais fermosa;
assi, depois do Inverno e seus rigores,
se mostra a Primavera com mais flores;
assi, despois que eclipse o Sol padece,
com mais fermosos raios resplandece.

Já de vossa saúde o sol se alegra;
e, se negro vestia,
se veste de alegria
e se mostra mais clara a noute negra;
os campos secos floreceis, Senhora,
sem flores já, enferma a sua flora.
Também os Elementos se alegraram,
que vosso mal sentiram e choraram.
Alegre canta o pássaro mais rudo:
tudo se alegra, ou vós alegrais tudo.

Alegrais terra e céu co as luzes belas
desses olhos Fermosos,
que são tão milagrosos
que dão flores à terra, ao céu estrelas;
ao Tejo, que ainda tem maior ventura,
dais o retrato dessa fermosura,
que é de riquezas bem maior tesouro
que o levar as areias do fino ouro.
Pois tudo enriqueceis, Senhora, vemos
que sois mais rica e tendes mais extremos.

Festeja o mesmo Amor vossa ventura,
e a saúde, de soberba, nela
se mostra já mais bela
e se enriquece em vossa fermosura.
As Graças, coroadas de mil flores,
vos coroam por Deusa dos Amores
e vos dão o que vosso Abril lhes dera,
que também sois das Graças Primavera.
Já que alegrais a tudo com saúde,
tudo se alegre, e ela não se mude.


 


 

 

 


 

 

16/03/2006