Carlos Gildemar
Pontes
Teoria e ficcionalização da
identidade brasileira
Introdução
Na América Latina, a busca de uma identidade cultural passa,
necessariamente, por todo um processo de libertação histórica e pelo
choque entre a cultura nativa e a cultura do colonizador. Some-se a
isto, todo um processo de miscigenação do índio com o branco, o
africano e outros povos ao longo de nossa história. Esse
choque/encontro provocou aos poucos um sentimento nativista que se
transformou em nacionalismo durante a colonização de todos os países
americanos.
O contato e a interação entre povos durante os três primeiros
séculos de colonização provocaram uma mudança estrutural profunda em
relação às condições existentes antes da chegada do colonizador. As
raças branca e negra, somadas aos índios pigmentaram novas cores ao
povo e ao território conquistado. No Brasil esse contato foi menos
brutal, se comparado à carnificina da conquista espanhola. O sentido
de exploração e submissão era o mesmo, entanto a habilidade
portuguesa diante de uma vastidão de terras a ser incorporada
estabeleceu uma estratégia diferente. Portugal não tinha como se
expandir na Europa, sua localização geográfica o impedia de crescer
além de suas fronteiras terrestres, pois que a Espanha o comprime a
um canto, e como outra fronteira disponível para a aventura está o
mar. Restou aos bravos marinheiros lusitanos descobrir novos mundos
para construir um dos maiores impérios marítimos da história. As
navegações de descoberta e conquista foram a maior contribuição que
Portugal deu ao velho mundo.
Demarcadas as terras abaixo da linha do Equador, Portugal tratou de
povoar o Brasil e de criar uma rota marítima regular para defender
suas terras e trazer delas os produtos comercializáveis na Europa.
Instituiu-se a partir desse momento a colonização exploratória. Era
preciso então apagar a cultura nativa como forma de impor a cultura
branca, cristã e européia. Durante o primeiro século, até por volta
de 1750, toda a vida cultural da Colônia estava ligada ao projeto
colonizador e comercial português. Logo com a Companhia de Jesus
impondo o catolicismo e a educação religiosa aos índios e colonos
como forma de submissão, depois, devastando o pau-brasil e saturando
o cultivo da cana de açúcar. Nesse período deram-se os conflitos
entre os índios e europeus. Visto não reunir condições suficientes
para manter o imenso espaço conquistado, Portugal inicia um processo
de cooptação aprendendo a linguagem e a cultura indígena para obter
mais eficácia no empreendimento da conquista. E deu certo. Os índios
serviram como escudo diante das ameaças de outros países. As
tentativas de invasão e colonização por parte de outras nações não
lograram êxito, a França de Villegagnon, mesmo aliada aos tamoios,
não viu seu projeto de criar uma França Antártica dar certo em
função das investidas dos portugueses, brasileiros e algumas tribos
aliadas em defesa de um espaço comum. Ainda assim deixaram sua marca
registrada na construção da cidade de São Luis. Com o tempo,
restou-lhe a pirataria e o lucro obtido em pequenos países
subjugados nas Antilhas. A Holanda é que ainda tentou estabelecer em
Pernambuco uma extensão do território holandês, as pontes e os
canais marcaram a arquitetura holandesa no Brasil. Fracassadas as
tentativas dos concorrentes portugueses, Portugal vê-se absoluto e
passa a demarcar politicamente o seu domínio.
Conceitos e confrontos de identidades
Conceituar a identidade cultural brasileira se configura numa tarefa
das mais árduas entre pesquisadores das Ciências Humanas. A
literatura tem estabelecido uma melhor visão sobre o assunto, pois a
poesia (literatura) no discurso aristotélico, encerra mais filosofia
e verdade que a história. Isso nos remete a um conceito elementar:
literatura é ficção, portanto, a ficcionalização não obedece às
regras estabelecidas pelas Ciências Exatas.
A tarefa do escritor não tem compromisso com a verdade histórica,
sua postura é de recriar a própria história pelo viés da arte, ou
seja, a representação da realidade se dá através de um processo
mimético peculiar ao fazer artístico. Como crer na história oficial
do Brasil no século 17 sem a leitura dos poemas de Gregório de
Matos? Como entender o processo de libertação política no século 19
sem a leitura das polêmicas Alencar-Magalhães, Alencar-Nabuco,
Alencar-Távora, além dos romances indianistas de formação da
nacionalidade, O guarani, Iracema e Ubirajara, os poemas de Castro
Alves e Gonçalves Dias?
O estudo das relações culturais na literatura leva em conta uma
discussão entre texto e contexto. Desta forma, o texto como forma de
permanência cultural é ao mesmo tempo produtor e produto da cultura,
como tal expressa as visões de mundo conflitantes, que se encontram
e se chocam, num amplo diálogo entre umas e outras.
A nacionalização do pensamento, para Afrânio Coutinho
[1], “é um processo intenso e persistente
de busca da identidade nacional, de integração e globalização da
realidade brasileira”, p 24.
O que poderia ser um processo de nacionalismo contra outros povos,
através de revoltas e guerras que mudaram o rumo da história em
muitos países, foi antes “um nacionalismo a favor”, de busca do
pitoresco, da diferença, notadamente com a poesia e o romance
indianistas e a re-escritura do passado através de uma pesquisa não
apenas documental, mas sobretudo de invenção.
O romance de José de Alencar propõe uma leitura do Brasil a partir
da diferenciação e do amálgama entre a cultura nativa e a do
colonizador. A noção de identidade cultural para o Brasil teve, no
período romântico e com alguns escritores marcadamente
nacionalistas, o ponto alto da formação de uma consciência nacional
capaz de produzir uma literatura voltada para as nossas raízes.
Embora as matrizes culturais do Ocidente ditassem todas as normas e
procedimentos para toda a produção cultural das colônias, os
escritores brasileiros daquele período ostentavam uma cultura
européia e um sentimento nativista, que começou a se sobrepor aos
modos europeus e ganhou, com a representação desse sentimento, uma
face brasileira híbrida, mas estabelecendo diferenças que
caracterizavam uma nova cultura nos trópicos – a cultura brasileira.
Para compreensão de um conceito de cultura brasileira, discutiremos
sumariamente a noção de cultura em geral.
O desenvolvimento cultural de uma
sociedade, em dado momento de seu desenvolvimento
econômico e social, deve expressar a qualidade das
relações do homem com essa sociedade; isto é, o grau
de autonomia do indivíduo, sua capacidade de situar-se
no mundo, de comunicar-se com seus semelhantes e de
participar melhor da sociedade, podendo, ao mesmo
tempo, liberar-se. Nessa perspectiva se trata de optar
por um certo número de valores individuais e coletivos
que tornem o desenvolvimento cultural a finalidade das
finalidades. (HERRERA, 1977: 1-2) |
Esta noção de atividade cultural está diretamente ligada à qualidade
de vida do homem. Entenda-se, por isto, qualquer atividade cultural
capaz de redimir o homem do estado de alienação imposto por um
sistema dominante, que priva o indivíduo de participar da construção
de sua própria nacionalidade
Esse debate sobre cultura já se fazia em longínquos quatro séculos
antes de Cristo, quando Confúcio, pensador chinês, colocava que “a
natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que os mantém
separados”.(CONFÚCIO, Apud LARAIA, 1986: 10) Esses hábitos são as
características que diferenciam povos e até mesmo grupos sociais e
comunidades de uma mesma cidade. Um exemplo típico pôde ser
constatado por Montaigne (1972) que, ao se deparar com três índios
antropófagos Tupinambás, comentou sobre seus hábitos canibalescos:
(...) na verdade, cada qual considera
bárbaro o que não se pratica em sua terra. (...) Não
me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de
crueldade, mas que o fato de condenar tais defeitos
não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que
é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer
depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre
suplício e tormentos e o queimar aos poucos, ou
entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e
fé, como não somente o lemos mas vimos ocorrer entre
vizinhos nossos conterrâneos. (1972: 107) |
Vê-se, portanto, que civilidade e barbaridade são conceitos
diferentes tanto para civilizados quanto para bárbaros. Devemos,
então, compreender que estas distâncias conceituais são as
diferenças que caracterizam cada tipo de cultura. Elaboramos a
seguir um esquema para melhor situar a cultura brasileira em relação
a outras culturas matrizes e repositórios.
A Europa, detentora de história milenar, representa a matriz da
cultura hegemônica ocidental. Os Estados Unidos assimilaram a
cultura européia e redefiniram a sua cultura a partir das
influências recebidas e do desenvolvimento do seu poder
econômico/militar. Cada país tem o mesmo esquema em relação ao seu
microcosmo (regiões, estados, cidades, vilas etc.).
No Brasil, em diferentes períodos da história, várias regiões
disputaram a hegemonia cultural sobre as regiões intocadas e sobre
as regiões que iam perdendo o status econômico durante o processo
colonizatório.
O Brasil sempre esteve em distonia com o resto do mundo. Na época
inicial da colonização, o ensino jesuítico implantado pela Companhia
de Jesus reprimia a cultura indígena por ser profana aos olhos da
igreja. Quando na época em que o latim deixava de ser língua de
formação na Europa, dava-se início ao seu ensino no Brasil como
suporte da cultura do Velho Mundo, em detrimento da língua
portuguesa adaptada ao Novo Mundo, que enriquecia com a contribuição
do novo povo que nascia e da língua indígena.
Nos três primeiros séculos da nossa formação literária, observamos a
permanência dos valores estéticos europeus que enformavam os
escritores. Tivemos manifestações do medievalismo e do classicismo
português, do barroco e do arcadismo. Vale a pena chamar atenção
para um detalhe importante, Gregório de Mattos faz uma literatura
plena de valores estéticos e integrada a um sistema que substitui a
tríade de Antonio Candido – autor/obra/leitor – pela tríade
autor/obra/ouvinte/(e/ou leitor de manuscritos). Antonio Candido
apresenta uma proposta para essa questão ao observar que no processo
formativo da nossa literatura há dois blocos diferentes:
um, constituído por manifestações
literárias ainda não inteiramente articuladas; outro,
em que se esboça e depois se afirma esta articulação.
O primeiro compreende sobretudo os escritores de
diretriz cultista ou conceptista, presentes na Bahia,
de meados do Século XVII a meados do Século XVIII; o
segundo, os escritores neoclássicos ou arcádicos, os
publicistas liberais, os próprios românticos, por
ventura até o terceiro quartel do século XIX. Só então
se pode considerar formada a nossa literatura, como
sistema orgânico que funciona e é capaz de dar lugar a
uma vida literária regular, servindo de base a obras
ao mesmo tempo locais e universais. (CANDIDO, 1985:
90) |
Embora se refira ao processo formativo das nossas letras, e na
perspectiva historicista de Candido tudo que não estiver integrado à
sua noção de sistema não é literatura, a obra de Gregório de Mattos
é representante de uma tradição formalizada pelo barroco e por uma
literatura já consolidada em Portugal e transplantada para o Brasil.
A rigor, uma literatura que represente um sistema integrado no
Brasil só será consolidada no modernismo.
Do didatismo catequético à criação literária
Os primeiros escritos da nossa vida
documentam precisamente a instauração do processo: são
informações que viajantes e missionários europeus
colheram sobre a natureza e o homem brasileiro.
Enquanto informação, não pertencem à categoria do
literário, mas à pura crônica histórica e por isso, há
quem as omita por escrúpulo estético (José Veríssimo,
por exemplo, na sua História da literatura
brasileira). No entanto, a pré-história das nossas
letras interessa como reflexo da visão do mundo e da
linguagem que nos legaram os primeiros observadores do
país. É graças a essas tomadas diretas da paisagem, do
índio e dos grupos sociais nascentes, que captamos as
condições primitivas de uma cultura que só mais tarde
poderia contar com o fenômeno da palavra-arte. (BOSI,
1987: 15) |
Somente no Século 19, com a chegada da Família Real, é que foi
criado no Brasil um ambiente cultural compatível com a nova sede da
corte portuguesa. Criou-se a Imprensa Régia, a Biblioteca Nacional e
o ensino universitário, com pelo menos 300 anos de atraso em relação
ao resto da América que teve sua primeira universidade criada em
1531, em Lima, no Peru.
Esse atraso, mais que a ocultação da realidade mundial, era, também,
a implantação de um projeto deliberado de dependência cultural. O
Brasil era um país arcaico que se alimentava da obsolência do mundo
civilizado.
A integração/entregação do Brasil no cenário mundial começou na
abertura dos portos, possibilitando o intercâmbio comercial e
artístico com a vinda das missões artísticas estrangeiras. As
informações começaram a circular mais rapidamente e, com a criação
de jornais, eram veiculadas não só as notícias oficiais, de
interesses políticos restritos pela ideologia imperial, mas,
sobretudo, as notícias de um Brasil calado e na escuridão.
A propagação de jornais, mesmo de vida efêmera, contribuiu para
difusão de idéias revolucionárias entre os intelectuais desalinhados
com a política da corte. Surgiram os folhetins, versão ancestral das
novelas de TV, revelando a produção literária dos nossos escritores
e ampliando o público leitor/ ouvidor, o que antes era privilégio
apenas da classe alta.
A burguesia que chegara ao poder na Europa era ainda incipiente no
Brasil. O crescimento desta nova classe ficou mais acentuado depois
que a realeza aportou no Brasil. Era o momento de definição da nossa
nacionalidade. As lutas políticas pela Independência demonstravam a
insatisfação com o sistema de governo reinante e impulsionavam o
desejo de mudanças sociais. A arte que surgia rompia não só com o
passado mas, também, com a mentalidade política até aquele presente.
Enquanto colônia portuguesa recebíamos o que, de resto, eles nos
permitiam. Com a literatura não foi diferente. Até o Arcadismo,
seguíamos o modelo da corte, muitas vezes já reprodução da Europa
mais desenvolvida. Com o surgimento do romantismo brasileiro, o
culto do nacionalismo passou a representar a necessidade de ruptura
com todas as formas de opressão cultural.
A nacionalidade foi buscada através dos valores da terra. O homem
passa a se identificar com o que é nacional, com o sentimento íntimo
em relação ao meio e ao passado. O sentimento do povo é na
literatura romântica a maior expressão do instinto de nacionalidade.
O romantismo brasileiro representa uma tomada de consciência dos
escritores quanto à necessidade de afirmar uma diferença cultural do
colonizador, uma vez que a Independência política surgira há pouco e
o sentimento lusófobo tomava conta de grande parte dos intelectuais
que agora elegiam Paris e Londres como espelhos das modas culturais
do mundo civilizado.
O Brasil saía da condição de Colônia e passava a pertencer ao mesmo
universo cultural das nações independentes, não mais um mero
repositório de culturas, mas um mosaico de culturas que, na ânsia de
mostrar-se liberto, tentava fazer falar a voz nativa. Esse embate
entre a voz macaqueada do ex-colono e agora do homem político livre
revela o surgimento de uma identidade autóctone, embora dependente
culturalmente das matrizes culturais do Ocidente.
Literatura, identidade e nação
Embalados pelo nacionalismo vigente, os românticos buscaram no índio
e na terra os elementos provedores da temática romântica nativista e
indianista.
Inserido num processo de ruptura desencadeado pelo nacionalismo
político, o nacionalismo de Alencar, expresso de forma manifestal em
sua obra crítica, é um momento consciente da resistência cultural
aos modelos europeus. Essa resistência se dá, de fato, pela
incorporação da diversidade cultural do colonizador à cultura
nativa, através da construção de um tecido cultural em que as
diferenças culturais não mais se antagonizam, mas se integram. O
saber cultivado oriundo da civilização pode ser inútil numa terra
selvagem onde predomina o saber natural. Mas aliados podem
representar um novo saber, uma nova cultura.
Todo esse processo de abrasileiramento da nossa cultura surgiu na
medida em que se ia tentando fundar uma literatura nossa,
desvinculada do pensamento da metrópole. Como exemplo temos o
projeto nacionalista de Alencar, que pretendia uma língua e uma
literatura representativa do nosso modo de viver.
Nos artigos a preocupação de José de Alencar é de afirmar a
diferença cultural entre Brasil e Portugal, através da língua e da
literatura de cada um. Ao mesmo tempo, Alencar se utilizava
conscientemente do modo de ver a tensão resultante dessas diferenças
para mostrar o caldeamento polilíngüe estabelecido pelo processo de
colonização.
No prefácio a Sonhos d’Ouro [2] Alencar tenta vincular sua ação
literária à sua ação política, rebatendo as críticas sobre ele
publicadas na revista QUESTÕES DO DIA.
Sobre os escritores portugueses que sobre nós opinaram, o romancista
cearense assim se manifesta:
Lá uns gênios de Portugal,
compadecendo-se de nossa penúria, tomaram a si decidir
o pleito, e decretaram que não temos, nem podemos ter
literatura brasileira. (...) Este grande império, a
quem a Providência rasga infindos horizontes, é uma
nação oca; não tem poesia nativa, nem perfume seu; há
de contentar-se com a manjerona, apesar de ali estarem
recendendo na balsa a baunilha, o cacto e o sassafrás. |
E, em relação à língua falada no Brasil, diz: “Nosso português deve
ser ainda mais cerrado, do que usam nossos irmãos de além-mar; e
sobretudo cumpre erriça-lo de hh e çç, para dar-lhe o aspecto de uma
mata-virgem”. Para estabelecer bem a diferença, Alencar pergunta: “O
povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, não pode
falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que
sorve o figo, a pêra, o damasco e a nêspera?”.
Através destas diferenciações Alencar demonstra que, embora a língua
seja uma só, as variantes dessa língua são produtos do ambiente e da
cor local de cada país. Nem colonizador nem colonizado, Alencar
pretendia fundar o Brasil a partir da literatura.
Em Como e por que sou romancista, o autor de Iracema
esclarece seu método de criação e sua relação com o conhecimento e
com a literatura. Neste ensaio autobiográfico, percebe-se um
mergulho profundo nas raízes da nossa literatura através da
compreensão que Alencar tem da sua poética e da natureza do processo
criativo da literatura brasileira.
Tanto nos romances históricos como nos indianistas e urbanos,
Alencar percebe as contradições culturais brasileiras e procura
sistematizá-las através de um plano de escrever na perspectiva de
uma linguagem brasileira. Ora, sabemos que o desdobramento
ideológico de uma língua ocorre pela diversidade cultural do seu
falante. E essa diferenciação que Alencar pretendia mostrar entre a
linguagem portuguesa e a linguagem brasileira tupiniquim era
decorrente de sua proposta de abrasileiramento da língua, portanto
ideológica. A antítese de Alencar em relação à linguagem portuguesa
aparece com mais ênfase e de forma programática nos seus artigos e
nos prefácios e posfácios de seus livros.
O romancista, diante de sua cultura, elabora em sua obra um discurso
pluriestilístico, plurilíngüe e plurivocal. Como representante de
uma cultura, cria uma ponte de ligação entre as diversas culturas
que se entremeiam à sua. Alencar elabora de maneira consciente um
projeto literário que pretende dar uma dimensão da grandeza do
Brasil. A fisionomia literária asseguraria uma diferença marcante em
relação à cultura estrangeira, estabeleceria uma diferença mais que
política, porque vinculava a literatura a um modo de ser do
brasileiro. Os costumes, o espaço geográfico, os pormenores da
história estariam agregados de forma identitária na literatura. A
formação da nação para os românticos e especialmente para Alencar
estava definida pela literatura.
*Poeta e ficcionista, Professor de Literatura da UFCG
e Doutorando em Literatura e Cultura na UFPB, Editor da Revista
ACAUÃ.
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Notas:
[1] Defendido como parte de sua teoria
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nacionalização brasileira”, publicado na Revista Tempo Brasileiro
33/34, p. 24-46
[2] ALENCAR, José de.
Sonhos d’ouro.
São Paulo: Ática, 1981. P. 7-12.
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