Cleberton Santos
A poesia de Elder Oliveira: Força e
encantamento.
“Escapam
da ávida pira só os
poemas.”
Ovídio |
Malungos e
vapores & outros poemas
[1] é o livro de estréia de Elder
Oliveira [2], vencedor do Prêmio de Poesia Prof.ª Zélia Saldanha,
promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, edição
2000.
Um conjunto de 77
poemas, o livro apresenta uma variedade de estilos e formas que vão
desde os poemas em versos livres e temas cotidianos aos poemas em
métrica tradicional e tom mais sublime.
Poeta lírico, sem
derramamentos sentimentais, Elder Oliveira trabalha sua poesia sob a
luz de uma inspiração pungente e uma técnica em constante burilação.
No poema-título
Malungos e Vapores, o eu lírico aparece metamorfoseado em três
figuras emblemáticas da força poética de Elder:
Mensageiro
de água das estâncias
e corpo de espelho.
Hei de polir a pedra
no limo dos caminhos
Cavaleiro
guapo de estepes
gen dos invisíveis.
Brutamonte fera
coração de seda
Violeiro
dos tangos e fandangos
e calangos e congadas.
Um mensageiro da
palavra, um cavaleiro com coração de seda e um violeiro de estro
firme e fluido, são imagens que perpassam todo o livro, como que
afirmando a sua voz em sintonia com uma poética que dialoga
diretamente com a tradição oral da cultura brasileira.
Já em Cardume,
apresenta-se uma outra dicção, a de uma poesia com tonalidade
surreal:
Livros
atravessam séculos
Quilômetros de velhos pântanos
Onde piranhas entediadas beijam
Os pés de seus poetas preferidos
Neste poema curto,
Elder consegue surpreender pela força da imagem prosaica quando
quebra a solenidade dos dois primeiros versos (Livros atravessam
séculos / Quilômetros de velhos pântanos ) com a presença
insólita de piranhas entediadas que beijam os pés de seus poetas
preferidos. Um poeta sem halo, como queria Baudelaire, e sem musas
pálidas. Mas rodeado de piranhas (quais? as de osso ou as de
espinha? ) que ainda reconhecem a voz encantadora dos poetas.
Aprofundando-se nos
sentimentos, na memória, no seu eu profundo e desta viagem
retornando para despertar a emoção do leitor, como disse Ruy
Espinheira Filho na orelha do livro, Elder Oliveira no poema
Confidência nos convida a saborear “outra cidade”:
O sabor da
cidade
Não ficou na gente
Nem nos peixes
Nem nas casas
Mas no velho chafariz
Onde a gente se afogou
O poeta
“confidencia” ao leitor os segredos da sua vivência humana e traz à
tona o mapa lírico de uma cidade afogada em sua memória.
Eis aí a força e
encantamento de um poeta da nova geração, editado e divulgado graças
a um concurso literário promovido por uma instituição universitária.
Essa é uma das verdadeiras funções da Universidade, estudar e
publicar novos escritores que darão contínua vitalidade à tradição
da Literatura Brasileira. E entreguemos à pira o nosso futuro! Sem
remorsos passadistas.
Cleberton Santos
Poeta, crítico e mestrando em Literatura e Diversidade Cultural na
UEFS.
Notas:
[1] Malungos e
vapores & outros poemas. Vitória da Conquista: UESB, 2001.
[2] Elder Oliveira (1968), natural de Poções – BA. Publicou seus
primeiros versos em livretos e tablóides datados da década de 80.
Participou de antologias estaduais e nacionais.
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