| Maria da Conceição Paranhos 
   
			Quatro 
			sonetos cardinais
 
			
 1.
 
 Rosa
            e ouro se mesclam no teu sexo,
            
            
            
             tão
            gaia espera, confundindo a busca
            
            
            
             da
            flor cilíndrica que tens no púbis.
            
            
            
             Quanto
            me atinges, seta no meu peito?
            
            
            
             
             
            
            
             Colho
            teu sumo em corpo tão trançado
            
            
            
             ao
            teu enlevo, que me rouba o fôlego,
            
            
            
             enquanto
            o brilho dos teus olhos sádicos
            
            
            
             esmaga
            minha boca a insano sorvo.
            
            
            
             
             
            
            
             Tento
            dizer-te do tremor da casa,
            
            
            
             mas
            só entendes do ganir do lobo
            
            
            
             em
            minha toca a estertorar de gozo,
            
            
            
             
             
            
            
             a
            trucidar-me com tua adaga em chama,
            
            
            
             menos
            espero, e já me emborcas, louco.
            
            
            
             O
            meu deleite a ti te adentra. Amas?
            
            
            
 
 2.
 Mor
            ventura não há neste meu fado
            
            
            
             do
            que mirar teu corpo e usufruí-lo,
            
            
            
             pausadamente,
            a mão a desvesti-lo,
            
            
            
             saboreando
            teu olhar de dardos,
            
            
            
             
             
            
            
             enquanto
            sofres com meu gesto lento –
            
            
            
             ânsia
            mortal qual susto em punho destro,
            
            
            
             mas
            à sinistra teço-te uma festa,
            
            
            
             deslizando
            sussurros no teu peito.
            
            
            
             
             
            
            
             Levo
            tua mão a cada poro intacto:
            
            
            
             recobras-me
            novel e me entrelaças
            
            
            
             com
            vendaval de sons em presto tato.
            
            
            
             
             
            
            
             Cobra
            no bote, tuas coxas presas,
            
            
            
             enrodilhado
            em meus joelhos altos,
            
            
            
             danças
            e lanças seta no meu alvo.
            
            
            
 
 3.
 Quero
            teu corpo quanto quero à chave
            
            
            
             retorcer-se
            em estreita fechadura.
            
            
            
             Quando
            tu tranças tua pele tersa,
            
            
            
             exibes
            nervo e músculo, arma-dura.
            
            
            
             
             
            
            
             Que
            me estarreces! Miro, deslumbrada,
            
            
            
             a
            ruga tesa e tensa da procura
            
            
            
             do
            rego rijo onde te largas, ávido,
            
            
            
             galopando
            as campinas da luxúria.
            
            
            
             
             
            
            
             Dorso
            e penugem vejo-te. E revejo
            
            
            
             o
            teu espelho, que a memória é falha.
            
            
            
             Teu
            desatino encontro, meu amigo,
            
            
            
             
             
            
            
             gesto
            lúbrico, inchado de desejo,
            
            
            
             e,
            sábia mão, tu me abres como a livro
            
            
            
             inda
            não lido, prenhe de tuas marcas.
 
 4.
 Teu
            dormir só suscita meu desejo,
            
            
            
             pois
            eu, então, vejo tua chama insone –
            
            
            
             corcel
            insano em desandado trote,
            
            
            
             que
            me galope enquanto ainda sonho
            
            
            
             
             
            
            
             com
            toda a lava que nos cobre e me arde
            
            
            
             em
            fronha de cetim que se entreabre
            
            
            
             ao
            corpo túrgido, encerrado, dentro,
            
            
            
             rasgando
            a pele – em gana transformado,
            
            
            
             
             
            
            
             rugindo
            rouquidão. Mucosa ávida,
            
            
            
             escancarando-se
            a teu beijo álacre,
            
            
            
             cortante
            gládio a lacerar-me o gáudio.
            
            
            
             
             
            
            
             Com
            lassa boca, plena de alvoradas,
            
            
            
             eu
            te derroto quando, exausto, tombas,
            
            
            
             e
            eu te profano com meu terno afago.
            
            
            
               
             
            
             
			(Maria
            da Conceição Paranhos. De As
            Esporas do Tempo. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado /
            COPENE, 1996. Prêmio COPENE de Cultura e Arte)
 
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