Cláudio Portella
O livro dos versos mínimos
[17/AGO/2002]
EU MÍNIMO
Valério Oliveira
Catatau Editora, 96 páginas
Sem preço definido
O que chama a
atenção é o tamanho: 10,5 cm X 7,5 cm, bem medidos! Valério Oliveira
apregoa a modéstia. O release diz: ''Nunca teve interesse em
editar comercialmente sua obra.'' Ora, escrever já é editar...
preciso seguir o raciocínio?
Valério consegue o
ar em ''Cartas na mesa''. Está numa boa. Ar em abundância.
Repentinamente o sufoco, a poética desce a níveis microscópicos:
''Só não sabe que eu sei que ela sabe. / Será que sabe? Será que ela
sabe que eu sei? / Ela sabe que eu sei! / Só não sabe que eu sei que
ela sabe.''
O livro possui
poemas longos: ''Janela'', ''Nau catarineta'', ''A auto-análise da
senhorita Alice'', ''Ornitologia'' e ''Meio conto...'' são neles
onde Valério Oliveira toma fôlego e mostra que é bom das pernas.
Pernas para andar. Pernas para fazer poesia. Desanda em quase todos.
Antes figurasse numa
antologia premiada apenas ''Meio conto...''. Esse é o poema que
salva Mínimo eu. Aliás, não precisava mais de um poema para
salvar um livro com esse título e sobretudo com esse tamanho.
Tento pinçar (e aqui
o aplicativo é logo visto) outros pontos altos em Mínimo eu. Não
consigo. O ósculo póstumo? Rimas obvias: ''Movido por uma forte /
sensação de perda / tento em vão, sem sorte, / desvendar os desvãos
/ da vida e da morte.'', cordel estilizado, subserviência.
A recorrente
presença feminina - Joana, a avó Gina, Molly, a indefectível
senhorita Alice, Ana Cláudia, a Celeste de ''Cartas na mesa'',
Helena (que quase atinge o gozo!) - também acerta em Ester de ''O
homem só'': ''Perdão, Ester, / sei o quanto / você me ama, / o
quanto / você me quer, / mas uma coisa / te digo, / gozar, / gozar
mesmo, / eu só consigo / comigo.''. Segundo poema que consegui
pinçar dessa pequena obra.
Tivesse deixado a
modéstia de lado e usado o outdoor, teria dito mais.
|