Dimas Macedo
Acerca da história de Lavras
Lavras remonta ao ciclo da mineração.
É uma das mais antigas comunas do Ceará e do Nordeste. E é a única
cidade do Ceará, também, a surgir de forma um pouco diferente.
Primeiro, a cobiça dos aventureiros, a fixação da sede da Capitania
do Ceará em suas cercanias (1752-1754) e, por último, a nucleação
sócio-religiosa e a sua evolução político-administrativa.
É uma cidade sui generis, portanto, a
pátria de Filgueiras Lima e Melquíades Pinto Paiva, a pátria de
Sinhá D’Amora e Eunício Lopes de Oliveira. Singular, também, a sua
localização geográfica, no cruzamento da centenária ribeira do Icó
com a ribeira do Rio do Peixe, próximo à confluência do Salgado com
o Jaguaribe, porta de entrada para o Cariri e porta de entrada
também da Rede Viação Cearense para outros Estados do Nordeste.
A mineração no século XVIII, a
pecuária e a cana-de-açucar, no século XIX, e o apogeu da política,
no século passado, dariam à cidade de Lavras um status privilegiado
no orbe social e político do Nordeste. E a cidade possui ainda a
distinção de haver produzido grandes literatos, intelectuais e
políticos de envergadura.
Uma dessas figuras mitológicas é
Fideralina Augusto, a maior e a mais ilustre de todas as suas
personalidades, expressão central de sua vida social e política e
personagem à clef, também, do romance de Rachel de Queiroz -
Memorial de Maria Moura (São Paulo, Editora Siciliano, 1992).
Sobre a história dessa velha cidade
cearense, cognominada Princesa do Salgado, existem os livros
pioneiros de Joaryvar Macedo: Os Augustos (1971) e São Vicente das
Lavras (1984), as pesquisas de minha autoria: Lavrenses Ilustres (2ª
edição, 1986) e Lavras da Mangabeira – Roteiros e Evocações (1985)
e, de último, eu destacaria os esforços de Rejane Monteiro Augusto
Gonçalves, autora de um quarteto de livros e opúsculos sobre a
história e sobre o desempenho de alguns lavrenses de renome.
Lavras da Mangabeira – Um Marco
Histórico (2ª. edição, Fortaleza, 2004) é o coroamento da sua
trajetória de pesquisadora, cientista social e escritora de talento,
que tem dado o melhor de sua vida em defesa da história de Lavras,
universalizando os fatos, os valores, as personagens e o imaginário
político de sua cidade de berço.
Tenho por Rejane e pelo seu trabalho
de pesquisa a melhor das minhas atenções e o melhor dos meus afetos
de lavrense e militante da cena cultural. Já prefaciei um dos seus
livros (A Vocação Política de Fideralina Augusto, 1991) e já tive o
privilégio de endossar a sua posse na Ala Feminina da Casa Juvenal
Galeno, onde honra a tradição, a cultura e o talento dos seus
antepassados.
Neste seu mais novo trabalho de
pesquisa, ocupa-se Rejane da evolução do município de Lavras, desde
a fase primitiva da mineração (ainda na primeira metade do século
XVIII) até o evolver dos dias atuais. Trata-se de síntese histórica
muito bem construída, onde os fatos e as personagens se movimentam,
tendo a política como pano de fundo, e onde a verdade é autenticada
pela pesquisa histórica de relevante valor acadêmico.
A formação social, a história
política, as querelas de fundo oligárquico, as reticências e
pontuações da vida institucional e cultural e os conflitos que
remarcaram a trajetória e as conquistas daquele velho município,
estão no livro de Rejane Augusto.
Proponho que o trabalho da autora
possa ser titulado também de Lavras da Mangabeira de Fideralina,
Dona Fideralina das Lavras, como queria Raquel de Queiroz, ou Dona
Fideralina Augusto Lima de Lavras, como seria do gosto de Rejane.
Não importa, pois o que interessa destacar é que Lavras é a pátria
da velha coronela nordestina, e que Fideralina, trisavó de Rejane, é
a maior e a mais lendária de todas as mulheres que o Ceará exportou
para o cenário político do Brasil.
Orgulho-me da minha condição de
lavrense, orgulho-me de ser conterrâneo de Rejane Augusto, e
recomendo, de forma induvidosa, a leitura desse seu livro pioneiro,
porque em suas páginas, sem maiores esforços, encontrará o leitor a
síntese didática mais perfeita (e a mais autêntica) para entender a
verdade, as seduções e o recorte social e político da velha e da
nova capital do Vale do Salgado.
A pesquisa de Rejane Augusto começa
com a evocação da grande matriarca lavrense, acima referida, repassa
a questão da origem do topônimo, a atração turística do belíssimo
Boqueirão de Lavras, a vida eclesiástica e a fundação da freguesia
de Lavras (1813), a criação da Vila de São Vicente Ferrer (1817) e a
sua transformação em cidade (1884), a evolução institucional e
judiciária da comunidade e, bem assim, a história da sua instrução
pública, de primeiro e de segundo grau, a partir do início do século
dezenove.
Rejane é natural da cidade de Lavras,
descende da memorável linhagem dos Augustos, é neta e bisneta de
dois influentes coronéis do Vale do Salgado (João Augusto Lima e
Gustavo Augusto Lima), e é filha, por igual, do honrado político e
homem público cearense, Gustavo Augusto Lima, neto, um dos maiores
benfeitores da história de Lavras.
A autora de Lavras da Mangabeira - Um
Marco Histórico é bacharela em Letras pela Universidade Federal do
Ceará, pertence à Ala Feminina da Casa de Juvenal Galena e é
servidora concursada do Tribunal Regional Eleitoral, em Fortaleza,
sendo também da autoria de Rejane os seguintes livros e opúsculos:
Coronel João Augusto Lima (1986), A Vocação Política de Fideralina
Augusto Lima (1991) e Umari, Baixio, Ipaumirim: Subsídios Para a Sua
História Política (1997).
Discreta, simples, criteriosa com a
sua pesquisa e portadora de um senso humano e de fraternidade que a
todos cativa, a autora de Lavras da Mangabeira – Um Marco Histórico
é, de forma induvidosa, um dos nomes que honram a cultura daquele
município.
Glória, pois, a Deus, pela existência
de Rejane Augusto. E glória também pelo seu denodo em nos trazer de
volta as luzes do passado, as memórias de fogo do presente e as
esperanças com que abrimos as portas do futuro.
Resenha do livro
Lavras da Mangabeira:
Um Marco Histórico,
de Rejane Augusto.
Fortaleza, Junho de 2005.
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