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Edson Bueno de Camargo


 

A qüinquagésima primeira vez de Ascendino Leite.

 

Existem vários processos de análise de textos literários, às quais desconheço quase todas. Minha falta de formação acadêmica me leva a analisar o material que me chega de forma intimista. É claro que cometo erros, ou que me passarão deficiências de ordem ortográfica ou gramatical. Mas, talvez a minha falta de suporte técnico, me faça enxergar o que realmente procuro em um poema ou conto, o sentimento. Existem sensações e coisas que dificilmente se criará uma régua para medir: o que se passa dentro das mentes e corações das pessoas. Quais sensações me despertam as tramas, os personagens, a tensão, o tesão.

É o que tenho a dizer dos poemas de Ascendino Leite em seu livro Loas a Chile. Um livro muito bem feito, bem diagramado, enxuto em sua apresentação, sem deixar de ser muito bonito. Um excelente prefácio de Milton Ximenes Lima, que deixa muito pouco espaço para dizer mais a respeito dos poemas e divagações do mestre Ascendino.

O que dizer do qüinquagésimo primeiro livro de um autor que não perde qualidade em ser tão prolixo, muito pelo contrário. Tenho aprendido que o tempo é um excelente depurativo para nossa produção, Ascendino Leite tem me ensinado naquilo que o tornou professor. Cada novo livro é mais uma deliciosa surpresa, com grandes doses de lirismo, poesia de amor sem pieguices. Mostra-se revolucionário, num momento que alguns se aproveitariam para serem conservadores. Dá sem dúvida nenhuma seu recado, e de quebra faz sua homenagem a um país e seu povo. Chile de Pablo Neruda, Victor Jarra, Violeta Parra, Gabriela Mistral, entre outros gênios da palavra escrita e cantada.

Em seus versos existe um que de erotismo tímido de garoto, ao mesmo tempo se mostra um homem de fé, costurando frases e delicadezas como artífice e hábil artesão. Neste momento se revela em sua poesia terna, um monte de significâncias, lógicas irrefutáveis e um grande espaço para o sonho. Concomitante, mostra-nos sua lucidez de quem já campeou neste mundo de um bom tanto de anos, que se não pesam em seus versos, apontam seus anos vividos na nitidez dos versos encontrados na página 91:

“ A pior das minhas surpresas

recentes foi ter sabido da última.

Isto é, a de que preciso falecer.

Antes tarde do que nunca.

Não morrendo seria me

transformar em sarcófago de mim

mesmo. “


A.L.

Como é difícil encarar este momento. Em nossa juventude temos a crença na imortalidade, que somos Super-Homens, inatingíveis pelas forças da natureza e do tempo. Altivos e arrogantes muitos enfrentam a morte precoce dado a descuidos coma saúde e segurança pessoal. Somente a sobrevivência nos traz a verdadeira sabedoria. Ascendino destilou com doçura de palavras para um tema tão amargo. Uma ocasião escutei da boca do poeta Haroldo de Campos que dentro de sua cabeça este era um jovem de 17 anos, mas que a idade acabara com seu corpo. No livro Loas a Chile percebemos o jovem de 17 anos escrevendo, sem menosprezar os conselhos que o homem de oitenta anos lhe dá o tempo todo.

Em uma outra passagem na página 45, aparece uma belíssima imagem poética,

“ Fria é a tarde

E úmida a minha carne

ao cruzar a grama

e passar por teus ombros nus. “


A.L.

Aqui o poeta se veste com lirismo, para apresentar o seu amor, com palavras simples, sem volteios desnecessários, nos põe diante do belo. Podemos extrair pequenos poemas dentro de um todo, como hai-kais, onde viajamos desde onde o que nos diz o poeta até aquilo que extraímos de nós mesmo diante de seus versos. Tudo dentro se uma serenidade atingida por seus anos de vida, como um vinho composto, aos quais se acrescentam nuances novas e sutis com o passar das décadas.

Cinqüenta e um é pouco, que venha logo o novo livro de mestre Ascendino, que já estamos no aguardo.


Edson Bueno de Camargo – escritor, poeta, agitador cultural na área de literatura.

Leite, Ascendino – Loas a Chile – Idéia – João Pessoa – PB – 2005.


 

Ascendino Leite

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08/04/2005