Jornal de Poesia

 

 

 

 

 

 

 

Emanuel Medeiros


 


Fortuna crítica: Celestino Sachet

“Metônia” corta o coração e costura a alma


 


 

Sete livros de contos — A expiação de Jeruza, 1972; Sexo, tristeza e flores, 1976; Num cinema de subúrbio, num domingo à noite, ¬1978; Teu coração despedaçado em folhe¬tins, 1978; Um dia estarás comigo no Paraíso, 1985; O homem que amava simpósios, 1989 —; um livro de poemas, Sete planos de asas, 1985; e quatro novelas, Love story paulistana, 1979, Uma tragédia catarinense, 1982; A revolução dos ricos, 1982 e, agora, Metônia — o dia estava de cortar o coração, 1992 — dez livros em vinte anos, editado em Porto Alegre, Florianópolis, em São Paulo e em Brasília, Emanuel Medeiros continua fiel à história amarga, à linguagem seca, ao texto em sobressaltos.

Literariamente nascido dentro dos olhos e dos ódios da Censura, crescido irmão do Terror e parceiro da Tortura, o ficcionista de Santa Catarina alimenta, desta vez, as páginas de sua novela com uma atmosfera de “cortar o coração”, não mais pelo Medo, ainda que os personagens centrais se alinhem no eixo de sempre: o militar, Fortunato afortunado que caça; o comunista, Lincoln ou Petrônio, heróis modernos e antigos, que escapam para serem caçados ou para escaparem sempre.

Fora do Brasil, em Metônia — “é uma cidade espanhola? Nordestina? Sul-americana?” — em Metônia, fora do Brasil-64, um outro espaço, o tempo também é outro: o Militar sofre diante da Miséria e se confessa humano diante do comunista.

Metônia, uma história às avessas, uma tragédia-epopéia do Nada ou da Morte por Nada, aos poucos vai nos transformando em personagens da novela e do texto, e nos leva a viver a epopéia do Carinho, pelo irmão-jovem morto e pelo Soldado que busca espaço no vazio da Morte (não provocada), da Solidão e do Tempo Perdido não desejados. O coração em sobressaltos do Irmão que chega a Metônia para resgatar o corpo, na primeira página do texto, proclama o êxito do escritor, no final da “viagem” e da novela, ao vencer a implacabili¬dade do Medo e da Morte.

 

 

 

 

26/07/2005