Emanuel Medeiros
Sobre "Notas de
Inverno", de Herculano Farias
Notas de Inverno talvez seja o livro
mais auto-centrado de Herculano Farias. A densidade e a força destas
“máximas” ou “mínimas”, ferozes por não camuflar ou fazer o jogo dos
contentes e da mentira institucionalizada, não convida à reflexão
meramente pedagógica. A análise meramente psicologizante, tão em
moda, ou “assistencialista” (para leitores de poucas luzes)
empobreceria a força destas narrativas. Sim, ele não doura a pílula,
não disfarça o nome do objeto ou da coisa, mas isso eu já escrevera
a respeito dos seus livros anteriores, como Sagrada Família e O
Tambor. É um autor que não brinca em serviço.
Herculano Farias fez da literatura uma
opção vital, orgânica, que vai além da pele. Não é uma opção
argentária ou para “subir na vida”, ou ainda para entrar nas
academias dos homens supostamente refinados. O livro talvez choque
ou não mereça comentários da medíocre e soberba crítica, hegemônica
nos jornais, onde se confunde “informação” com “formação”; talvez
não receba o olhar das moças casadoiras ou mulheres maduras em busca
de “príncipes encantados” e namoros virtuais (o autor sabe que não
há príncipes encantados, e que toda relação humana pode ser de
crescimento, mas é operação feita sem anestesia).
Ele está mais para Joyce, para quem
todo vínculo é um vínculo para o sofrimento, ou endossa a visão de
Hegel, que acreditava que todo vínculo é um vínculo de dominação.
Não, não é uma literatura “gentil”,
protocolar, estatutária ou cartorária, e talvez não seduza os que
preferem respostas prontas e cuja leitura mais profunda são as
revistas semanais ditas finas.
Não conquistará os leitores dessa
literatura de carregação, mercantilmente oportunista, tipo
auto-ajuda (que só ajuda a conta bancária de seus autores) ou dos
adeptos de um misticismo de butique.
Em verdade, a adesão em massa às
seitas de todos os matizes e credos corresponde à inaptidão para a
vida fora de um núcleo de certezas.
Como alguém detectou, a decadência das
utopias políticas clássicas, resultado da queda do socialismo real
do Leste Europeu, “ajuda a gerar uma representação catastrofista do
social, e, em conseqüência, favorece o culto desesperado aos
derradeiros totens.”
Vive-se numa sociedade massificada onde impera o gosto médio.
Somos cada vez mais seres anônimos,
irrelevantes diante dos mecanismos de um capitalismo intrinsecamente
excludente, onde a hegemonia é do núcleo mercantil: do ter. O que
nos rege, hoje, é o número do cartão de crédito.
Nossa sociedade é extremamente
mediática, uma sociedade espetacular, que valoriza o sucesso rápido
e não a ascensão social lenta através do trabalho.
Os heróis de nosso tempo não são mais
Aquiles, Enéias ou Ulisses, mas os lobistas de empreiteiras, os
tecnocratas de todos os matizes, os corruptos bem apessoados
trajando ternos finos, cheios de relações com o Poder; os assessores
especiais, os pastores eletrônicos, os políticos profissionais, os
cantores pueris e sem talento; os atores medíocres de rostos
bonitinhos que elegem o secundário e supérfluo: defensores eternos
do fugaz, do continente, nunca do conteúdo.
Outros ídolos deste tempo são os
apresentadores de TV e rádio que ganham milhões através da
veiculação do sensacionalismo mais sórdido e repulsivo.
Dominam psicologicamente, numa espécie
de “totalitarismo da consciência”, as massas carentes, que vivem sob
o estigma da orfandade social, sem nenhum Pai protetor, carentes de
um Estado que lhe dê a mínima cobertura ou assistência.
Estes seres perdidos nas periferias
das grandes cidades são completamente irrelevantes no processo
social: não possuem qualquer importância, meros números, só
lembrados em épocas eleitorais.
Daí a passagem para o delito, a adesão
ao tráfico: ascensão social feita à bala.
E sabemos que a ética e o respeito ao
outro são produtos do processo civilizatório. Por trás do suposto
refinamento, dos celulares, computadores e todas as engenhocas
eletrônicas, esconde-se o selvagem, o lobo cínico, defensor do
individualismo feroz. É a lei da selva, do salve-se quem puder.
Sem querer fazer sociologia ou adotar
um tom pastoral, percebemos ao nosso redor que a vida e a morte
foram banalizadas. O acesso à morte é cada vez mais fácil e pueril.
Como disse o psiquiatra Carlos de
Araújo Jorge, o pior dos paradoxos é que nesse mundo de banalização
da violência usa-se a violência para deixar de ser banal, aparecer.
A utopia parece ter-se retirado do
horizonte em que se impõe o conformismo.
As pessoas buscam na droga, no culto
ao corpo perfeito, no pânico de envelhecer, o ideal de uma
felicidade impossível.
Segundo Elizabeth Roudinesco, “dando a
si mesmo a ilusão de uma liberdade irrestrita, de uma independência
sem desejo e de uma historicidade sem história, o homem de hoje
transformou-se no contrário de um sujeito.”
A maioria das pessoas prefere alguma
técnica de supressão dos sintomas, que se multiplicam.
Evita-se, pelo pavor da verdade, a
investigação profunda das causas.
A sociedade depressiva não quer mais
ouvir falar de culpa, nem do sentido íntimo nem da consciência nem
do desejo nem do inconsciente. Quanto mais se encerra na lógica
narcísica, mais foge da idéia da subjetividade (sigo as pegadas da
autora citada).
Esta sociedade só se interessa pelo
indivíduo para contabilizar seus sucessos, e só se interessa pelo
sujeito sofredor para encará-lo como vítima.
O globalitarismo dominante alicerça-se
sobre um paradoxo: a aceitação da ditadura cada vez mais dura do
trabalho assalariado e do seu correlato, o desemprego.
“Os anjos nos dão sempre a primeira
linha; os demônios se encarregam do resto.”
Herculano Farias deve concordar com a
lição de Paul Valéry.
Sabe-se que o buraco é mais embaixo, e
entre mortos e feridos perderam-se todos.
Não, não é uma literatura de demissão.
Mas de compromisso com a vida, sempre o valor maior.
O autor tenta pegar o touro à unha.
São textos que fazem pensar. Disse o
óbvio? Mas as pessoas, hoje, estão interessadas em pensar?
Ler obra de qualidade no interior
desta sociedade parece um exercício cada vez mais praticado por uma
minoria de eleitos, já que a maioria parece seduzida ou anestesiada
pelas imagens, mesmo as piores e mais degradantes possíveis.
Deve funcionar como mecanismo
psicológico compensatório, na medida em que o cidadão pensa: “há
gente que sofre mais do que eu...”
Vivemos sob o signo de uma “doença de
imagens”.
É a sensação paradoxal de ter tantas
imagens ao nosso redor, mas que ao fim não conseguimos nada mais
ver.
A atriz Bette Davis dizia que
“envelhecer não é para frouxos”.
Parodiando, poderíamos dizer: viver
não é para espíritos fracos.
Ler estas Notas de Inverno pode ter o
impacto de um soco no estômago ou de uma agulha entrando na veia.
Qual seria o núcleo destas narrativas,
a maioria curtas, com exceção das histórias do Quinto Caderno?
(Não há verbos dispensáveis, não há
excessos ou gorduras. Ele tem o que dizer. E sabe como.)
Ouso dizer que o eixo central destas
notas é a crise da transmissão da verdade.
O que é a verdade? E a pergunta que
implicitamente Herculano nos faz é: é possível optar por este ou
aquele caminho? Onde está o “certo”? Existem estas categorias? Daí a
profunda e doída ambivalência que cerca muitas das reflexões do
narrador.
Há também um sujeito oculto nestas
histórias (oculto?): a solidão.
Em “A minha velha”, descarnadamente
bela e pungente narrativa, escreve o narrador: “O xale desprende-se
de seus ombros. Curva-se, apanha-o com a ponta dos dedos, volta a
agasalhar a solidão.”
Em “Action-paiting” esclarece: “A
liberdade era um solilóquio, mas a expressão dela imprimia na minha
história e no meu momento, inadvertidamente, o que eu não podia
imaginar: a solidão, onde usufruo do espaço onde tudo posso cometer,
até mesmo a minha própria traição, não cometendo nada.” Sempre a
solidão.
Herculano resgata (não gosto mais de
utilizar este verbo, devido ao seu uso tão banalizado; todo mundo
anda resgatando tudo, desde promissórias até a própria cidadania...
basta acompanhar as campanhas políticas) algo que marcou muito
nossas gerações: o Existencialismo, a busca do sentido do ser, da
autenticidade em relação à vida opaca, a transparência contra a
viscosidade, no fundo, o velho e bom Quixote contra a Hipocrisia
(com “H” maiúsculo).
O autor bebeu nas melhores fontes:
Camus, Kafka, Baudelaire (lembrado numa bela história sobre seus
cães), não falando dos clássicos como Dante, Cervantes, o nosso
velho e bom Machado.
Há “confluência”, não apenas
“influência”, e o autor criou uma dicção própria: que é a maior
aspiração de todo escritor que ama e leva realmente a sério o seu
oficio.
Seus textos têm sopro trágico, mas não
caem na pieguice. Não, não é uma novela das 8.
Ele foge da auto-complacência como o
diabo da cruz.
Falei no inicio em livro
auto-centrado, mas não no sentido de lamber narcisisticamente as
feridas ou de se atribuir muita importância.
Herculano está ao lado dos “pequenos”,
dos anônimos, não dos seres napoleônicos, não quer saber da elite ou
do patriciado que nos infelicita há 500 anos (percebo isso na
leitura do belíssimo, tão tocante,. “O velho Jimenez”: nesta
história, há uma profunda compaixão; não, não é piedade). Ele
prefere os transgressores.
Herculano, com toda a dura lucidez que o exercício constante da
palavra lhe deu – além, é óbvio, da vida vivida – comove mais pelo
descarnamento (aí me lembra Graciliano).
Faz poesia seca em histórias curtas
(no geral). Mas não parnasianas, nem inventa meros truques de estilo
que, no geral, camuflam o vazio daqueles que nada têm a dizer. E ele
tem muito a contar.
“Habito uma chama que a ninguém
aquece”, confessa o narrador de “Pirogravura”, complementando:
“tocarei no ponto vulnerável do abismo de cada um.”
Poderia destacar os trechos citados
como epígrafes ou como a “suma” desta brava ficção.
“Sinto-me como árvore tombada, que
insiste em dar frutos”, constata o narrador de “Água-forte”: é uma
espécie de “lucidez do cansaço”, mas a exaustão não nega a
celebração da vida.
Ele parece endossar, talvez com pudor
de confessar, as palavras do bruxo imortal, Machado de Assis: alguma
coisa escapa ao naufrágio das ilusões.
Com funda argúcia, o narrador em
primeira pessoa (opção narrativa do autor) confessa em
“Contingência”: “Fenecemos e não me vejo na minha finitude, que é a
de me propor dispensável.”
Falei antes de um “sujeito oculto” das
histórias: a solidão (também em “nós”, “Aos Indiferentes”, onde a
palavra aparece explicitamente).
O trecho acima citado fala de outro
“sujeito oculto” do livro: a sensação da finitude ou da morte.
Mas não posso me esquecer: acompanha o
autor uma ironia fina, às vezes “negra”, que não leva ao gargalhar,
mas à reflexão sobre nossa finitude e nossa desimportância
metafísica: somos pó e ao pó voltaremos.
Ver “Ignorância”, história carregada
de fina ironia: a ironia “negra”, fortíssima, está em “Hoje teremos
capelleti de carne”: dói até pela crueza. Novamente a presença da
morte.
“Sou um animal carnívoro. Minha mulher
é um animal herbívoro. Ela terá salada leve. (...) Morreremos um
dia. Um, antes ou depois do outro. Sei, contudo, que os vermes não
gostam de saladas leves. Serei comido antes, levando todos os
sabores”, descreve, com intensa ironia, navalha entrando na carne.
Pessimismo? Essa categoria não vale
para a literatura. Herculano é escritor (dos melhores que temos),
não é político, pastor, assistente-social, pedagogo, nada tendo
contra estas nobres profissões. Só que a dele é diferente.
(Eu sei o que é isso. Alguns poucos
leitores me cobram “lições de vida” nas minhas modestas histórias.
Querem sempre algo edificante que, no fundo, terminaria como nas
novelas de TV.)
Como arguto psicólogo – seu oficio,
além da literatura –, Herculano Farias, como bom leitor do velho
Freud, concordaria com o sábio vienense: a repressão das pulsões é a
base da civilização.
Mas a gente sabe que os caminhos foram
feitos para serem andados e que a verdade (se houver...) liberta.
O autor nos oferece biscoito fino para
paladares não-conformados e sabe que a literatura é também ofício de
transpiração, trabalho, suor.
Herculano lê e ama Flaubert, e tem a mesma obsessão do modelar
escritor francês pela palavra justa.
Isso não é pouco, numa época de
truques, vaidades cada vez mais fúteis, e autores que têm a
profundidade de um pires, e se acham maravilhosos porque vendem bem.
Tenho para mim que, às vezes, o autor
se dilacera para camuflar o romantismo, não o vulgar, telenovelesco,
mas o da velha escola, dramático.
Como o eterno Rubem Braga, ele tem a
simpatia humana do desencantado.
Algumas peças parecem granitos.
A lucidez é navalha na carne: “No
querer é que nos distanciamos, já que somos tão diferentes (...). Tu
és o meu rosto e eu sou o teu”, diagnostica como uma espécie de
bisturi na alma.
Ele toca com o dedo na ferida, e
“malvado”, não quer saber de mercúrio...
No fundo, em todas as narrativas, está
a reificação, a não adequação entre ser e destino, o discurso sobre
a subjetividade que nos exila e a objetividade que nos esmaga. Mesmo
que o pensamento dominante queira jogar a sujeira para debaixo do
tapete, a palavra se chama alienação.
(Faço a observação quando releio “A
Musica do Silêncio”. O narrador pergunta: “Por que, afinal,
palavra?” A solidão aparece de novo: “Para que se faça silêncio.”)
Talvez a gente escreva para saber que
não estamos sós.
“Mariana” tem uma dimensão, como
direi?, telúrica. Mais que isso: força cósmica, espécie de profundo
lirismo da natureza ou das estações. Menos realismo naturalista e
mais sabedoria. Mas de jeito algum cai nos lugares-comuns ou piegas.
Ele não quer saber de gordura ou sentimentalismo facilitários. E a
vida e a literatura continuam.
Com sua pena encharcada de ironia, com
ou sem o manto diáfano da fantasia (não é, Eça...?), Herculano
Farias constata: “Bem fez Deus em descansar no sétimo dia. Assim,
não teve tempo para o resto, que é tudo o que sobra ou que falta”
(em “Opus, Operis”). Sim: “Deus foi um sábio, ao criar a falta.”
“Miséria”, historia belíssima, tem um
sopro trágico. É portadora de força intensa: há um homem caído na
calçada, que parece morto (mas o autor quer saber qual dos dois
estava mais morto ou mais vivo): “Eu olhava para tudo, e não me
mexia, na minha radical embriaguez e miséria. Nenhum de nós servia
para coisa alguma. Então, me ajoelhei e abracei a ele. Ali ficamos
madrugada adentro sem um pio.”
“Auto-retrato” tem um sopro bíblico,
mas a voz não é a do homem que acredita. A “fé teológica” ficou no
caminho. Mas há uma espécie de estoicismo, que seria uma forma de
“santidade laica”.
A inferência pode ser descabida, mas
existe aí a saudade de uma fé que não houve?
“Auto-retrato” carrega a dor
metafísica, e faz as perguntas que atravessam a humanidade em todos
os tempos: o que somos, para onde vamos, porque nascemos?, e não
pedimos para morrer.
Seria a noção shakesperiana da vida
como uma história cheia de som e de fúria, contada por um idiota e
sem nenhum significado? Mas a vida, apesar dos pesares, é sempre
celebrada. E criar é uma forma de viver com “autenticidade”, sem
opacidade.
Quando a mãe permite que o personagem
narrador sugue o seu leite, – mãe aqui como arquétipo, mãe-natureza
– diz: “não sabia o que estava fazendo.”
Está dito: “Plantara a busca do elo
perdido.”
Ele percebe que seu próximo “é
distante”. Ele tenta amá-lo, mas é ato vão. Quer escapar da
consciência de sua morte – ele afirma – como o diabo da cruz.
“Pobre do verme que roer minhas
indagações. Sou um péssimo exemplo e não aprendo nem a porrada”,
confessa.
Mas o autor não cai no naturalismo
mecanicista: “dei minhas mãos ao mistério”, ilumina em “Tromp L’oeil”.
E o outro? E o amor como nossa mais radical sede antropológica?
Com densa carga ontológica, em alta
voltagem que dispensa comentários, ele diz: “Com certeza, não nos
amamos. Sabemos disso. Estamos acomodados nesse encontro que se
arrasta à exaustão. Mas não temos dúvidas, nós nos pertencemos”
(Cenas de Amor-3).
“Nosso amor e nosso cinismo sempre
estarão de mãos dadas”, diagnostica na mesma cortante história.
Nietszche falava de “rebanho anônimo
de indivíduos iguais”: o autor catarinense, ex-vivente da Bahia e do
Planalto Central, e atualmente cidadão da Serra, não quer saber de
rebanhos.
O dionisíaco, visceral e vulcânico
pensador alemão citado já nos falava do amesquinhamento da
humanidade, do extermínio de toda autêntica personalidade, da
transformação do homem em engrenagem anônima, da reificação dos
indivíduos nas cadeias de um processo de produção e de consumo
compulsivo, cuja lógica não consegue compreender nem controlar, como
diagnosticou Oswaldo Giacoia Júnior.
Vivemos a passagem da esperança da
utopia para um tempo pós-utópico que, como disse alguém, “contém em
si a sua dose de ascese, na medida em que é uma época de espera
árida e privada de horizonte onde se espera por um acontecimento que
poderá não chegar. É no vazio sempre aberto desta possibilidade que
se dá a iminência da descoberta.”
Herculano poderia repetir as palavras
do mestre maior do seu ofício de analista da mente, Freud: “Por
todos os poros o meu destino é perturbar o sono da humanidade.”
Diz mais o criador da psicanálise:
“Não mais considero um dos meus méritos o fato de sempre dizer a
verdade tanto quanto possível; tornou-se meu ofício”. Complementou:
“A popularidade em si me é inteiramente indiferente.”
Herculano assinaria embaixo, numa
época de intensa auto-promoção, onde as pessoas são boas porque
aparecem e não aparecem porque são boas.
Nesta época, como disse alguém, todo
mundo será famoso por 15 minutos...
(Para não cansar o leitor, não falarei
sobre as belas narrativas contidas no “Livro de Orações”, Quarto
Caderno, e “Entreato”, Quinto Caderno. Teria muito par destacar. São
peças muito fortes.)
Mas a literatura serve mais: para
despistar a morte, regar nossas obsessões, legitimar nosso trânsito
terreno.
Herculano Farias, com sua sede de
viver, mesmo sentindo o peso da transitoriedade em cima de todos
nós, mesmo com os lodaçais no caminho de vivente, poderia assinar os
tão belos versos de Anderson Braga Horta:
“Eu vou para onde ireis,
para Além para o Enigma.
Eu vou para onde vai o infinito da vida.”
(Brasília, janeiro de 2001)
Posfácio de Emanuel Medeiros Vieira para o
livro de contos Notas de Inverno (fragmentos), de Herculano Farias
(Editora Seis, Rio de Janeiro, 2001)
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